Capítulo de livro CBQNAT
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Cecília Baldoino Ferreira*; Paulo Henrique Frois Correa Barros ; Carlos Henrique Milagres Ribeiro
*Autor correspondente – Email: [email protected]
Resumo: A agricultura apresenta um papel preponderante no agronegócio brasileiro, movimentando a economia do país. Devido apresentar uma diversificação de clima, vasta área destinada a plantio nos diferentes estados, permitindo assim o cultivo de diferentes culturas, como, frutíferas, hortaliças, e grandes culturas, fonte de geração de emprego e renda para muitas famílias, além de manter o homem no campo. Entretanto, há uma série de fatores como climáticos, hídricos, manejo, pragas e doenças que podem afetar ou não o desenvolvimento das culturas. Atualmente vem crescendo a preocupação com a doença conhecida como mofo branco, causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, que depreciam a qualidade do produto e diminuem a produção de várias culturas. O conhecimento de métodos de controle do S. sclerotiorum, são necessários para que assim possa ser contornado o problema que a doença causa na cultura. Atualmente, visando diminuir a utilização de produtos químicos, vem crescendo pesquisas com óleos essenciais em diversas culturas que demonstram resultado positivo no controle de doenças. Sendo assim, objetivou-se com o presente trabalho apresentar e discutir como a utilização de óleos essenciais podem controlar a S. sclerotiorum na agricultura através de uma revisão de literatura. Através desta revisão observa-se um efeito satisfatório no nível de controle de S. sclerotiorum, com a utilização de óleos essenciais, sendo necessários mais estudos devido à alta adaptabilidade do fungo aos diferentes ambientes de cultivo.
Palavras–chave: Controle alternativo, doença de solo, doença em plantas, mofo branco
Abstract: Agriculture plays a leading role in Brazilian agribusiness, moving the country’s economy. Due to the diversification of climate, vast area intended for planting in different states, thus allowing the cultivation of different crops, such as fruit, vegetables, and large crops, a source of job and income generation for many families, in addition to keeping man in the field. However, there are a number of factors such as climate, water, management, pests and diseases that can affect the non-development of crops. Currently, there is growing concern about the disease known as white mold, caused by the fungus Sclerotinia sclerotiorum, which depreciates the quality of the product and reduces the production of several crops. Knowledge of S. sclerotiorum control methods is necessary so that the problem that the disease causes in the culture can be circumvented. Currently, in order to reduce the use of chemical products, research with essential oils in several cultures that demonstrate positive results in the control of diseases has been growing. Therefore, the objective of this work was to present and discuss how the use of essential oils can control S. sclerotiorum in agriculture through a literature review. Through this review, a satisfactory effect is observed in the control level of S. sclerotiorum, with the use of essential oils, being necessary for more studies due to the high adaptability of the fungus to the different cultivation environments.
Key Word: Alternative control, soil disease, plant disease, white mold
INTRODUÇÃO
Por apresentar uma vasta área territorial, e regiões com diferentes climas, tipos de solo, o Brasil se destaca no agronegócio, sendo ele uma das principais atividades na geração de renda e emprego, podendo produzir frutas, hortaliças e grandes culturas, que serão utilizadas para alimentação, indústrias de cosméticos e medicinais, como também para outros fins, gerando um produto com alto valor agregado que pode que propiciar um retorno do capital de investimento. Entretanto, o desenvolvimento e manejo das culturas é um processo complexo, influenciado por fatores, exógenos e endógenos, tratos culturais, infestação de pragas e doenças, afetando assim no desenvolvimento e perda na produtividade.
Dentre dos principais desafios para o desenvolvimento das culturas, está relacionado com problemas fitossanitários de doenças fúngicas, como, por exemplo o fungo Sclerotinia sclerotiorum conhecido por causar grandes devastações nas lavouras, depreciar a qualidade do produto e diminuir a produção (1).
O fungo S. sclerotiorum pertence ao filo Ascomycota, ordem Helotiales e família Sclerotiniaceae, esse é um que fungo que pode permanecer no solo por períodos prolongados de tempo, podendo esse tempo ser maior que 8 anos, até que ocorra condições favoráveis para a germinação dos escleródios, condições essas que abrangem temperaturas em torno de 10 a 20ºC e alta umidade (2).O controle da doença na lavoura é muito difícil, devido ao seu período de permanência no solo, utilizado na maioria das vezes controle culturais, e produtos químicos.
O Brasil lidera o ranking dos países que mais consomem defensivos agrícolas no mundo, a média de consumo anual gira em torno de 2,5 bilhões de dólares, mas, mesmo considerando que a utilização de agroquímicos na agricultura possibilitou o aumento da produção de alimentos nas últimas décadas (3), e que essas substâncias são essenciais para permitir que a agricultura moderna contribua para a sustentação de todas as atividades humanas (4), faz se necessário novos estudos a fim de encontrar alternativas que busquem minimizar os impactos ambientais causados por esses produtos, pois acabam contaminando solos e águas (5).
Visando contornar este fato, atualmente, vem crescendo estudos com substâncias naturais extraídas de plantas conhecidas como óleos essências, para tentar prevenir os prejuízos causados por patógenos, pois eles apresentam atividade antifúngica, e essa capacidade vem da habilidade dos óleos de se difundirem através da parede celular e da membrana plasmática dos patógenos (6).
Diversos trabalhos demonstram efetividade de óleos essenciais, como, por exemplo, de melaleuca, própolis, cravo-botão e de alecrim são exemplos de óleos que apresentam atividade antifúngica contra S sclerotiorum, e podem ser uma alternativa interessante na inibição do crescimento do fungo (7).
Diante disso, objetivou-se com o presente trabalho apresentar e discutir como a utilização de óleos essenciais podem controlar a S. sclerotiorum na agricultura através de uma revisão de literatura, e verificar quais óleos mostraram resultados promissores.
IMPACTOS DO FUNGO S. CEPIVORUM NA AGRICULTURA
Dentre os principais problemas ocasionados pelo S. cepivorum, está relacionado ao fato de o fungo possuir grande resistência no campo, pois seus escleródios (estruturas de dormência ou de repouso) podem sobreviver nos solos por muitos anos e em diversas condições climáticas, contribuem para sobrevivência e permanência da doença nas lavouras (8).
O agente etiológico do patógeno é o fungo S. sclerotiorum (Lib.) de Bary, a doença acomete mais de 400 espécies de plantas, entre as quais, diversas culturas de interesse econômico, a exemplo da soja, feijão, girassol, cenoura, tomate, batata e diversas plantas daninhas, exceto gramíneas (9,10).
Os sintomas e danos nas principais culturas que o fitopatógeno acomete são, aparecimento de manchas com aspecto de encharcamento, que evoluem para manchas castanhas clara, formando abundante e densa massa miceliogênica branca, que após alguns dias originam os escleródios enegrecidos em plantas hospedeiras (11). Em outras espécies de plantas, os sintomas podem ser crescimento anormal e a murcha da planta, o amarelecimento e morte das folhas mais velhas e sua senescência, reduzindo a fotossíntese, prejudicando o desenvolvimento dos bulbilhos, e apodrecimento parcial ou total dos bulbos de alho (Allium sativum) (12). Os escleródios são densos cheios de hifas de cor escura (Figura 1), sendo a fonte primária de inóculo e podem variar de 2 a 10 mm de diâmetro, alguns autores relatam que escleródios de S. sclerotiorum podem permanecer viáveis no solo 8 anos ou mais (13).
No pseudocaule de algumas Alliacea, a cultura fica com aspecto escurecido, que se estende até as raízes, ocasionando podridão, quando se arranca o bulbo do solo, não se tem dificuldade (14), já em epidemias avançadas ocasiona o apodrecimento do bulbo, acarretando perdas severas na produção.
A disseminação desse fungo ocorre pela própria água de irrigação, maquinário, implementos agrícolas, o trânsito de pessoas na lavoura, assim como caixas sujas de plástico usadas com outras hortaliças. O ambiente é um dos fatores mais importantes na regulação de doenças de plantas, pois pode impedir a ocorrência mesmo quando os hospedeiros suscetíveis e patógenos virulentos estão presentes na mesma área (15).
Em condições favoráveis de baixa temperatura e alta umidade e na presença do hospedeiro, o escleródio de Sclerotinia spp. germina, podendo infectar as plantas de alho e outros hospedeiros susceptíveis à doença durante todo o seu ciclo, sendo comum observar os sintomas em reboleira do patógeno (16).
MÉTODOS DE CONTROLE PARA MANEJO E PREVENÇÃO DA DOENÇA
Por se tratar de uma doença que causa grande impacto econômico, de difícil erradicar e por apresentar métodos de controle limitados, o primeiro passo é evitar a sua disseminação e entrada do patógeno em áreas que não foi constatada a presença da doença (17), como também se atentar a alguns cuidados presentes na Tabela 1.
Atualmente vem crescendo estudos relacionados ao melhoramento genético para cultivares resistentes, mas até o momento, não há cultivares comerciais de hortaliças resistentes ao mofo branco, e possuem poucos fungicidas, produtos químicos registrados no controle Sclerotinia sclerotiorum na maioria das hortaliças cultivadas nacionalmente (21). Sendo necessário na maioria das vezes o emprego de controle cultural, químico e biológico para evitar a propagação e infecção de plantas (18,19, 20,22,23,24).
Embora existam produtos biológicos utilizados para controlar o Sclerotinia sp. na soja, nenhum produto à base de agente de controle biológico está registrado para hortaliças, sendo assim, o manejo integrado, é tido como boa prática cultural, sendo alguma destas a escolha de campos não infestados para o plantio, rotação de culturas com espécies não hospedeiras, redução populacional do plantio, a descompactação do solo, o gerenciamento adequado da irrigação e a drenagem e nutrição equilibrada das plantas (25).
Com isso, é de suma importância pesquisas que demonstrem alternativas de controle com a utilização de espécies vegetais que demonstram efetividade na ação antifúngica, podendo assim reduzir a aplicação de produtos químicos com efeito tóxico para população humana e no ambiente, quando não aplicados corretamente (7).
DADOS GERAIS DE ESTUDOS RELACIONADOS A UTILIZAÇÃO DE ÓLEOS ESSENCIAIS PARA CONTROLE S. SCLEROTIORUM
Os óleos essenciais têm origem no metabolismo secundário das plantas e amplamente utilizados para evitar o desenvolvimento de micro-organismos, pois possuem a capacidade de evitar infecções causadas por doenças (26). São compostos naturais que possuem uma alta complexidade química, e em sua maioria, são constituídos por monoterpenos, eugenol, carvona, sesquiterpenos, carvacol, linalol, timol, fenilpropanóides e terpineno. (27, 28).
A vantagem de sua utilização para controle de doenças, está relacionada aos óleos apresentarem mecanismos de defesa contra fitopatógenos e uma gama de ações biológicas, tem ação bactericida, antiviral, inseticida e também antifúngica. Estudos recentes vêm apresentando resultados positivos de óleos essenciais no controle de espécies fúngicas em vegetais. (29, 30).
No ranking dos países que mais pesquisam sobre o uso de óleos essenciais com atividade sobre o fungo S. sclerotiorum o Brasil ocupa o segundo lugar, como pode-se observar na Figura 2.
Esse lugar de destaque se deve a necessidade de se encontrar alternativas mais naturais que substituam os produtos antifúngicos convencionais que existem no mercado. Esse fato também explica o motivo que leva o crescimento dos trabalhos nessa área, conforme dados presentes na Figura 3, mostrando um crescimento significativo nos últimos 5 anos que se mantém em alta até o momento atual.
Através da Tabela 2, observa-se que os óleos essenciais mais estudados nos últimos 5 anos e a sua eficiência contra o fungo S. sclerotiorum, os estudos mostram em sua maioria uma alta eficiência dos óleos como fungicidas.
Os óleos essenciais de folhas de P. aduncum (PL-EO) e inflorescências (PI-EO) foram avaliados por Valadares et al. (32) para verificar a atividade antifúngica de S. sclerotiorum. A atividade in vitro mostrou que a dose de PI-EO acima de 30 µL inibiu o crescimento micelial em 100%, enquanto PL-EO a 50 µL inibiu em 98,7%, os resultados sugeriram que os óleos essenciais avaliados possuem alto potencial para controlar o fungo fitopatogênico.
A composição e a atividade antifúngica do óleo essencial de Origanum dubium, coletados em quatro altitudes diferentes foi verificado por Turkemen et al. (35), os autores verificaram que o rendimento do óleo essencial, o teor de quatro compostos e as atividades antifúngicas contra Sclerotinia sclerotiorum variam em relação às diferentes altitudes examinadas. O óleo essencial da planta com o maior teor de carvacrol (85,7%) apresentou a atividade antifúngica mais forte contra o fitopatógeno.
Um estudo conduzido por Dias et al. (38) avaliou a atividade óleo essencial de casca de Citrus, os óleos cítricos inibiram o crescimento de Sclerotinia sp. e mostrou-se altamente ativo ao inibir 100% do crescimento do fungo em doses de 200 e 300 μL. Esse foi o primeiro estudo do efeito inibitório in vitro de óleos essenciais de Citrus e seus resultados mostram boas perspectivas de ser utilizado tanto em casa de vegetação como no campo.
O primeiro estudo desenvolvido a partir do óleo essencial das folhas de Murraya paniculata foi feito por Silva et al. (36), os autores observaram que a atividade antifúngica do óleo essencial de Murraya paniculata contra S. sclerotiorum tem bom potencial para controlar esse patógeno. Os resultados do trabalho mostraram que a atividade antifúngica in vitro mostrou que a dose de 300 µL, inibiu aproximadamente 91,2% do crescimento micelial.
Com o objetivo, de avaliar compostos naturais para o manejo de doenças em plantas, De Moraes et al. (49), avaliaram o uso de óleo essencial de canela e citronela para o controle do fungo Sclerotinia sclerotiorum, os autores encontraram que a dose de 1,6 mL/L dos óleos resultou na maior inibição do crescimento micelial do fungo, e concluíram que os óleos essenciais de canela e citronela são eficientes para controlar o fungo causador do mofo branco.
O estudo conduzido por Fontana et al. (48) avaliou o efeito fungicida de 4 óleos essenciais: Aloysia citriodora, Cymbopogon winterianus, Lippia alba e Ocimum americanum em diferentes concentrações. Os óleos essenciais tiveram capacidade de inibir o crescimento micelial dos fungos e apresentam alto potencial fungicida, em ensaios antifúngicos realizados por Cinabal et al. (33) mostraram que óleo essencial de orégano foi altamente ativos contra Sclerotinia sclerotiorum, tanto in vitro como in vivo. O óleo essencial de goiabeira mostrou ser capaz de atingir 90% de inibição do crescimento micelial de S. sclerotiorum segundo Silva et al. (34).
O óleo essencial de Zanthoxylum riedelianum, tem expressivo potencial antifungico, com as concentrações de 150 µL inibe mais de 80% do crescimento micelial do S. sclerotiorum, da mesma forma que Bayar et al. (39) mostraram que os óleos essenciais de V. myrtillus e L. nobilis têm fortes atividades antifúngicas e inibem o crescimento micelial.
Os resultados da pesquisa desenvolvida por Ustuner et al. (40) sugerem que o óleo essencial de E. camaldulensis tem potencial para ser usado como fungicida e inibe o crescimento de S. sclerotiorum dentro de 7 dias, enquanto que Menezes Filho et al. (41) encontraram que o óleo de Bauhinia forficata inibe o crescimento do fungo em cerca de 83%. Rana et al. (44) encontrou uma inibição significativa do patógeno utilizando óleo essencial de Apium graveolens.
Um trabalho realizado por Pansera et al. (45) avaliou a atividade antifúngica de espécies nativas oriundas da região sul do Brasil contra S. sclerotiorum, as espécies de Aloysia lycioides e Ocimum sp. apresentaram inibição do fungo em 100% enquanto a Myrciaria delicatula apresentou 95,23% de inibição. De forma parecida Ojaghian et al. (46) avaliou o óleo essencial de diversas espécies, entre elas Thyme e Savourym apresentaram 100%, Geranuim Lavender Coriander apresentaram aproximadamente 86, 92 e 89% respectivamente.
Estudos realizados por Hussein et al. (42), Wodnicka et al. (43) e Yilar et al. (47) com óleo de Rosmarinus officinalis L, Fennel fruits e Salvia absconditiflora respectivamente, encontraram 100% de inibição do fungo S. sclerotiorum.
O mecanismo de inibição dos fungos através dos óleos essenciais ainda não é bem conhecido, entretanto, com base na literatura consultada, uma das hipóteses, que justifique essa eficiência, pode estar relacionada com as propriedades e substâncias químicas que os óleos essenciais apresentam serem capazes de se difundir através da parede celular e da membrana plasmática do fungo, e afetar a expressão de genes relacionados à parte da membrana e o transporte transmembrana (14)
Na literatura constam diversos princípios ativo, descritos na tabela 3, que são eficazes no controle in vitro do fungo S. sclerotiorum,
Uma outra vantagem da utilização de óleos essenciais além da proteção da planta, está relacionado com sua baixa toxicidade, além de serem substâncias que degradam rapidamente o ambiente e sua obtenção é através de recursos renováveis (50). Mas a composição de teores nos óleos depende do estado nutricional e de desenvolvimento da planta (51).
CONCLUSÕES
Com isso, pode-se verificar que dentre os diversos fatores que afetam a produtividade das culturas, podemos citar doenças fúngicas como S. sclerotiorum, os óleos essenciais podem ser fundamentais para uma agricultura mais alternativa, pois podem apresentar efeitos diretos no controle in vitro e in vivo da doença. Vários óleos essenciais, como Alecrim, Alfavaca, Erva santa, Funcho, Tomilho entre outras apresentaram nível de eficiência de controle da doença, porém este efeito depende da condição de cultivo e da cultura, princípio ativo e concentração.
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessar-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Pedro Henrique Ferreira Costa ; Carlos Henrique Milagres Ribeiro *; Roni Peterson Carlos ; Thatyelle Cristina Bonifácio ; Alex Oliveira Botelho
*Autor correspondente – Email: [email protected]
Resumo: Um dos principais obstáculos da agricultura sustentável é o controle de doenças em plantas, como, por exemplo, de patógenos do gênero Meloidogyne spp. Atualmente, vem crescendo trabalhos que comprovam efeitos benéficos de óleos essenciais no controle de fitopatógenos, mas pouco se sabe sobre os compostos orgânicos voláteis (COV’s), sendo necessários estudos. Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar se os COV’s emitidos pelo óleo essencial de eucalipto possuem ação deletéria in vitro contra Meloidogyne spp. Os ovos de Meloidogyne spp., foram obtidos de plantas de alface infectadas e, após a eclosão, os juvenis de segundo estágio (J2) foram depositados em pequenos recipientes de plástico colocados nas placas de petri, enquanto no outro lado da placa, foi acondicionado o óleo essencial em um pedaço de algodão com diferentes concentrações (0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0%) de óleo essencial de eucalipto. Após este procedimento, as placas foram fechadas e vedadas, formando, câmaras, a partir das quais, avaliou-se a mortalidade e imobilidade dos J2 após 24 horas de exposição aos COV’s. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente ao acaso (DIC), com 5 tratamentos e 4 repetições, utilizando o sistema de duplicata. Ao final do experimento foi possível observar que os COV’s emitidos pelo óleo essencial de eucalipto, na concentração de 2,0%, resultou em 48,9% de imobilidade e 44% de mortalidade de J2, se mostrando eficiente no controle desse fitopatógeno, auxiliando na redução da população da praga e podendo colaborar para a redução das taxas de aplicação de defensivos agrícolas.
Palavras–chave: COV’s, fitonematoides, controle alternativo
Abstract: One of the main obstacles to sustainable agriculture is the control of plant diseases, such as pathogens of the genus Meloidogyne spp. Currently, works are growing that prove the beneficial effects of essential oils in the control of phytopathogens, but little is known about volatile organic compounds (VOC’s), being necessary studies. In view of the above, this study aimed to evaluate whether VOCs emitted by eucalyptus essential oil have a deleterious in vitro action against Meloidogyne spp. The eggs of Meloidogyne spp., were obtained from infected lettuce plants and, after hatching, the second stage juveniles (J2) were deposited in small plastic containers placed in the petri dishes, while on the other side of the plate, was placed essential oil on a piece of cotton with different concentrations (0; 0.5; 1.0; 1.5 and 2.0%) of eucalyptus essential oil. After this procedure, the plates were closed and sealed, forming chambers, from which J2 mortality and immobility were evaluated after 24 hours of exposure to VOCs. The experimental design used was completely randomized (DIC), with 5 treatments and 4 replications, using the duplicate system. At the end of the experiment, it was possible to observe that the VOCs emitted by the eucalyptus essential oil, at the highest concentration tested, resulted in 48.9% immobility and 44% mortality of J2. Proving to be efficient in the control of this phytopathogen, helping to reduce the pest population and being able to collaborate to reduce the application rates of agricultural defensives.
Key Word: Volatite compounds, phytonamatoids, alternative control
INTRODUÇÃO
Sabe-se que os nematoides do gênero Meloidogyne spp. conseguem causar doenças em diferentes culturas como, soja, cenoura, algodão, café, hortaliças como alface, tomate, etc (1). Plantas infectadas apresentam distribuídas em reboleiras, folhas amareladas, redução no desenvolvimento, podendo chegar até em morte da planta, pois por se tratar de um endoparasita sedentário afetará a produtividade da cultura (2, 3).
Dentre os problemas causados pelo Meloidogyne está relacionado a sua rápida reprodução, realizando-se a postura de 400 a 600 ovos, onde apresentam 4 estádio (J1, J2, J3 e J4), necessário maior atenção no estádio J2 (juvenil de segundo estádio), pois ele atrapalha no desenvolvimento da planta, causando danos mecânicos nas raízes, devido modificações fisiológicas, que acarretará formação de galhas nas raízes das plantas (4).
Atualmente vem crescendo o interesse da população em formas de controle de doenças de plantas que visem uma agricultura sustentável, pois a utilização de produtos químicos pode ocasionar problemas ambientais e de contaminação de alimentos (5).
Assim, como alternativa ao uso de agroquímicos, estudos demonstram a possibilidade da utilização de óleos essenciais (6), sendo que existem trabalhos que comprovam os efeitos benéficos desses óleos no controle de fitopatógenos, mas pouco se sabe sobre os compostos orgânicos voláteis (COV’s) que eles emitem.
Existem estudos que comprovam que óleos essenciais possuem ação contra bactérias, fungos, além de serem repelentes de insetos, sedativos, podem influenciar em um melhor desenvolvimento vegetal e controle de patógenos que causam problemas fisiológicos na planta (7, 8).
O óleo essencial de eucalipto vem sendo testado e apresentando vantagem no manejo alternativo de insetos e doenças, como no experimento de feijoeiro que se avaliou o seu potencial inseticida em espécies do gênero Eucalyptus no controle de Acanthoscelides obtectus em armazenamento dos grãos, e obteve resultado satisfatório com a espécie E. globulus (9). Uma das justificativas para este controle pode estar relacionada aos compostos orgânicos voláteis emitidos (COV’s), entretando estudos precisam ser realizados em ambientes fechados para analisar seus efeitos no patógeno (10).
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito in vitro dos compostos orgânicos voláteis (COV’s), de diferentes concentrações do óleo essencial de eucalipto na imobilidade e mortalidade de Meloidogyne spp.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Laboratório de Química situado no núcleo de Química, do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais – Campus Barbacena
Para a obtenção dos nematoides utilizou-se raízes de plantas de alface coletadas em campo de produção naturalmente infestado por nematoide das galhas (Meloidogyne sp.), (Figura 1. A) de produtores rurais da comunidade de Torres de São Sebastião, zona rural de Barbacena.
Os ovos foram extraídos das galhas segundo a metodologia descrita pela comparação de métodos de coleta de inóculos de Meloidogyne spp (11), onde o sistema radicular foi retirado do solo e lavado suavemente para retirada do excesso de substrato aderido, posteriormente as raízes foram fragmentadas e agitadas vigorosamente por 2 minutos, em um recipiente contendo 200 ml de hipoclorito de sódio (NaClO), na concentração de 0,5%.
A suspensão foi então vertida em peneira de 200 meshes (0,074 mm de abertura da malha) acoplada sobre outra peneira de 500 meshes (0,0254 mm). Posteriormente, as raízes contidas na peneira de 200 meshes foram enxaguadas três vezes para garantir a retida dos ovos. Os ovos retidos na peneira de 500 meshes foram recolhidos em um béquer com auxílio do jato d’água de pisseta.
Para obtenção dos J2, os ovos foram transferidos para funis de Baermann e mantidos em estufa tipo BOD em temperatura de 28ºC ± 1 ºC. Os J2 eclodidos após 24 horas foram descartados, considerados úteis os nematoides eclodidos após 48 horas no funil. Os juvenis foram recolhidos e a suspensão calibrada para 50 J2 por placa de Petri.
O óleo essencial utilizado foi de eucalipto, adquirido em comércio local. Para a montagem das câmaras de COV’s e do bioensaio, semelhantes às feitas com placas de petri bipartidas, foram utilizadas placas pequenas (5 cm de diâmetro), de plástico, para deposição da solução com os nematoides, numa concentração afim de obter 50 J2 por placa. Esses recipientes foram depositados em placas de Petri, onde do outro lado da placa foi adicionado um pedaço de algodão (Figura 1. B) que recebeu 5 mL da solução com óleo essencial diluído em água destilada, de acordo com os tratamentos conforme a Tabela 1.
As câmaras foram fechadas e vedadas com plástico filme de PVC e acondicionadas em estufa de incubação a 28 ºC (Figura 1. C), distribuídas de acordo com o delineamento inteiramente ao acaso (DIC) com quatro repetições e utilizando o sistema de duplicata. Constituindo 20 parcelas experimentais.
Ao final do tempo de exposição (24 horas), as placas foram abertas e as plaquinhas com a suspensão de J2 levadas ao microscópio de lente invertida (Figura 1. D) para contagem de juvenis imóveis e, após a aplicação de 1 mL de hidróxido de sódio 0,1 N (normal) que causa movimentos nos nematoides, a contagem de juvenis mortos (Figura 1. E).
Os valores obtidos para a imobilidade e mortalidade dos J2 foram submetidos à análise de variância da regressão (ANOVA) ao nível de 5% de probabilidade, com o auxílio do software SISVAR® 5.6, (12).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a análise de variância, houve diferença significativa entre as concentrações do óleo essencial de eucalipto nos parâmetros de imobilidade e mortalidade (Tabela 2).
A imobilidade de J2 observada variou entre 7,5% e 48,9%, e a mortalidade entre 6,8% e 44%. Nota-se que as diferentes concentrações tiveram efeito sobre a imobilidade e mortalidade dos juvenis quando comparadas com a testemunha (0%), conforme pode ser observado no Figura 1, a imobilidade e mortalidade aumenta à medida que se aumenta a concentração do produto.
Resultados semelhantes encontrados no presente estudo, no trabalho avaliando o efeito nematicida do óleo essencial de eucalipto em diferentes (0; 0,5; 1,0; 1,5 e 2%) concentrações, adicionadas em suspensão aquosa, sendo observado a eficácia da maior concentração resultando na morte de 90% dos nematoides (13).
Já no experimento realizado com óleos essenciais de eucalipto e funcho para o controle da Phytophthora infestans e Meloidogyne javanica, na cultura da batata, foi observado um efeito positivo no controle na eclosão dos ovos de J2 em uma dose de 1.500 ppm (14).
Em trabalhos com semente de milho, utilizando óleo essencial de eucalipto para o controle dos patógenos de Alternaria sp. e Cladosporium sp (15), os autores observaram um controle efetivo para o tratamento de sementes devido à diminuição dos fungos nas sementes, levando como hipótese um efeito tóxico do óleo aos microrganismos (16).
Dentre as justificativas para ocorrência da mortalidade e imobilidade, pode estar relacionada ao efeito que o óleo essencial de eucalipto exerce no estádio J2, pois ele afeta a reprodução do nematoide, devido eles possuírem princípio ativos que ocasionam toxidade (17), visto que em sua composição do óleo apresentar polifenóis, flavonoides, terpenos como o citronelal, g-terpineol, e um alto teor de eucaliptol (18), ocasionando assim uma atividade de pesticida (19).
Na utilização de óleo essencial de pimenta-do-reino em diferentes concentrações (1, 2, 3, 4 e 5%) para o controle do besouro castanho do trigo (Tribolium castaneum). (20), os autores observaram que mesmo em concentrações baixas, os COV’s emitidos tinham efeitos tóxicos e repeliam a praga, resultado oposto encontrado no presente estudo, onde a maior concentração do óleo apresentou melhor resultado nos parâmetros analisados.
Em pesquisas in vitro com a utilização dos COV’s por macerados de nim e mostarda, objetivando o controle de juvenis de Meloidogyne incógnita (21), os autores obtiveram resultados satisfatórios, onde a mortalidade observada no tempo de exposição de 24 horas diferenciou bastante da testemunha e obteve taxas entre 91 a 100% para o macerado de mostarda, já em relação à imobilidade, os COV’s emitidos pelo macerado de mostarda proporcionaram imobilidade de J2 considerável depois de 6 horas de exposição. Já os compostos emanados pelo macerado de nim promoveram a imobilidade dos juvenis em todos os tempos de exposição testados.
Pode-se concluir que a utilização dos COV’s é uma alternativa viável para o controle do desenvolvimento de fungos e bactérias causadores de doenças, pois os Compostos orgânicos voláteis como os aldeídos (acetaldeido, benzaldeido e cinamaldeido) obtidos de diferentes espécies vegetais se mostraram tóxicos (22).
CONCLUSÕES
A utilização de compostos orgânicos voláteis (COV’s) emitidos pelo óleo essencial de eucalipto apresenta ação fungicida no controle in vitro de Meloidogyne spp, a concentração de 2% foi eficiente na imobilidade e mortalidade dos juvenis de J2.
Sendo assim, para que o óleo essencial de eucalipto possa ser utilizado no manejo integrado desse fitopatógeno, reduzir a população como forma de controle alternativo é necessários estudos no controle in vivo.
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Instituição Organizadora:
Agron Science
Editora: Agron Science
DOI: doi.org/10.53934/9786599965814
ISBN: 978-65-9996581-4
Data de publicação: 25/05/2023