Cientistas descobrem como molécula de um microrganismo do fundo do mar se torna uma potente arma contra o câncer
A molécula anticancerígena salinosporamida A, também chamada de Marizomb, está em fase III de ensaios clínicos para tratar o glioblastoma, um câncer no cérebro. Os cientistas agora pela primeira vez entendem o processo acionado por enzimas que ativa a molécula.
Pesquisadores da Scripps Institution of Oceanography da UC San Diego descobriram que uma enzima chamada SalC monta o que a equipe chama de “ogiva” anticancerígena salinosporamida. O estudo foi publicado no periódico Nature Chemical Biology com o título “Enzymatic assembly of the salinosporamide γ-lactam-β-lactone anticancer warhead”, a estudante de pós-graduação da Scripps, Katherine Bauman, é a principal autora.
O trabalho resolve um enigma de quase 20 anos sobre como a bactéria marinha fabrica a ogiva exclusiva da molécula de salinosporamida e abre as portas para a fabricação de novos agentes anticancerígenos no futuro.
O microbiologista Paul Jensen e o químico marinho Bill Fenical, da Scripps Oceanography, descobriram tanto a salinosporamida A quanto a bactéria marinha que produz a molécula após coletar o microrganismo de sedimentos do Oceano Atlântico tropical em 1990. A bactéria marinha envolvida, chamada Salinispora tropica, produz salinosporamida para evitar ser comida por seus predadores. Mas os cientistas descobriram que a salinosporamida A também pode tratar o câncer. Eles isolaram outras salinosporamidas, mas a salinosporamida A possui características que as outras não possuem – incluindo atividade biológica que a torna perigosa para as células cancerígenas.
Os cientistas dizem que a molécula de salinosporamida tem uma capacidade especial de atravessar a barreira hematoencefálica, o que explica seu progresso em ensaios clínicos para glioblastoma. A molécula tem uma estrutura de anel pequena, mas complexa. Começa como uma molécula linear que se dobra em uma forma circular mais complexa.
Uma única enzima pode formar essas duas estruturas de anel que são difíceis para os químicos sintéticos fazerem no laboratório. Armados com essas informações, os cientistas agora podem mutar a enzima até encontrar formas que se mostrem promissoras para suprimir vários tipos de doenças.
A enzima envolvida é comum em biologia: é aquela que participa da produção de ácidos graxos em humanos e antibióticos como a eritromicina em microrganismos.
Você pode conferir o trabalho completo aqui.
Referências:
- SciTechDaily. Scientists Discover How Molecule From Deep-Sea Microbe Becomes Potent Anticancer Weapon [Internet]. 2022 [acesso em 2022 Abr 4]. Disponível em: https://scitechdaily.com/scientists-discover-how-molecule-from-deep-sea-microbe-becomes-potent-anticancer-weapon/
- Bauman KD, Shende VV, Chen PY, Trivella DB, Gulder TA, Vellalath S, Romo D, Moore BS. Enzymatic assembly of the salinosporamide γ-lactam-β-lactone anticancer warhead. Nature Chemical Biology. 2022 Mar 21:1-9.
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