PREVALÊNCIA DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS EM PACIENTES COM INFECÇÃO POR SARS-COV-2 NO ESTADO DE SÃO PAULO, ENTRE JULHO DE 2020 E JULHO DE 2021.
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Resumo expandido publicado nos Anais da III Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Viviane Alves de Lima1, Karen Miguita3 Leonardo José Tadeu de Araujo3, Eliane Margareth Pimenta Carneiro4, Ana Lúcia Olympo4, Jerenice Esdras Ferreira2
1Estudante do Curso de Especialização em Patologia Clinica e Molecular – CPA- IAL; 2Docente/Pesquisador do Centro de Patologia – CPA – IAL; 3Pesquisador do Centro de Patologia – CPA – IAL; 4 Biologista do Centro de Patologia – CPA – IAL.
Resumo: O SARS-CoV-2 é um betacoronavirus responsável pela pandemia de COVID-19, que causa sintomas respiratórios nas vias áreas superiores e inferiores, ocasionando um quadro gripal, que pode evoluir para síndrome respiratória aguda grave (SARS). Os casos mais graves têm sido reportados em idosos e indivíduos com doenças crônicas não transmissíveis. O objetivo foi avaliar a prevalência de comorbidades, e suas associações, em pacientes com diagnóstico positivo para infecção por SARS-CoV-2. Esse estudo utilizou dados secundários dos casos recuperados e óbitos entre julho de 2020 a julho de 2021, do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) do estado de São Paulo, foram analisados os parâmetros sexo, idade e comorbidades (cardiopatias, diabetes e obesidade). Foram incluídos no estudo 149.122 casos de ambos os sexos, sendo 93.888 (63%) recuperados e 55.224 (37%) óbitos. A prevalência de comorbidades nos recuperados foi de 29,0% (27.145) cardiopatias; 17,0% (15.980) cardiopatias/diabetes; 13,5% (12.710) diabetes; 7,8% (7.321) obesidade; 4,1% (3.852) cardiopatias/obesidade; 4,3% (4.096) cardiopatias/diabetes/obesidade; e 24,3% (22.784) sem comorbidades. E nos óbitos foi de 27,8% (15.332) cardiopatias; 22,0% (12.154) cardiopatias/diabetes; 13,0% (7.203) diabetes; 6,0% (3.305) obesidade; 4,6% (2.511) cardiopatias/obesidade; 6,4% (3.531) cardiopatias/obesidade/diabetes; e 1,8% (1.012) diabetes/obesidade e 18,4% (10.176) sem comorbidades. A presença isolada ou associada à diabetes, obesidade e cardiopatias exerceu uma relação negativa na evolução do quadro clínico. Este estudo poderá contribuir com informações úteis para a implantação de medidas epidemiológicas adequadas, e para a elaboração de políticas públicas no contexto de prevenção e monitoramento das doenças crônicas não transmissíveis.
Palavras–chave: SARS-CoV-2; COVID-19; Doenças não Transmissíveis; Comorbidade; Prevalência.
INTRODUÇÃO
Em dezembro de 2019, o mundo foi surpreendido com a informação da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre casos de pneumonia de etiologia desconhecida na província de Hubei, na República popular da China (WHO, 2020). No ano seguinte foi identificado o agente etiológico, o SARS-CoV-2, iniciando a pandemia de COVID-19, desafiando a saúde pública mundial. Essa doença causa sintomas respiratórios, nas vias áreas superiores e inferiores, que pode evoluir para síndrome respiratória aguda grave (SARS) (BOLSONI-LOPES et al., 2021). O SARS-CoV-2, vírus RNA fita simples positivo, apresenta na superfície a proteína Spike que invade as células do coração, pulmão, tecido adiposo e gastrointestinal, que possuem em sua membrana o receptor para a enzima conversora de angiotensina II (ECA2), causando intensa inflamação com liberação de citocinas, podendo desencadear uma resposta imunológica que pode contribuir para um prognóstico desfavorável (BOLSONI-LOPES et al., 2021). Os fatores de risco no agravo por COVID-19 estão relacionados à idade avançada (acima de 60 anos), sexo masculino, presença de comorbidades, estado imunocomprometido, obesidade e estilo de vida não saudável (SILVA et al., 2020; PIETROBON, et al.,2020; GAO et al., 2021; SHAH et al., 2021). As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são um conjunto de doenças de causas múltiplas e prognóstico incerto, são as principais comorbidades dos pacientes com COVID-19, e responsáveis pelo agravamento da condição clínica, aumento no tempo de internação e nas taxas de mortalidade (MALTA et al., 2021; NUNES et al., 2021). Entre as DCNT podemos destacar a doença cardiovascular, pulmonar, diabetes e obesidade (BOLSONI-LOPES et al., 2021). A infecção pelo SARS-CoV-2 associada às comorbidades, ocasiona um aumento na prevalência de casos graves, devido ao comprometimento do sistema imune e da capacidade do hospedeiro de se defender de infecções causadas pelo vírus, contribuindo para um mau prognóstico e evolução na mortalidade por COVID-19 (GAO et al., 2021; SHAH et al., 2021; BRANDÃO et al., 2020; EJAZ et al., 2020; NG et al., 2021; FANG et al., 2020). Desta forma, a análise da inter-relação do potencial de agravamento nos pacientes com comorbidades e a infecção pela COVID-19, permite discutir o impacto causado pela pandemia na qualidade de vida de pacientes com DCNT, e como esses dados podem ser utilizados como medidas de auxílio e prevenção da saúde (GAO et al., 2021; SHAH et al., 2021). O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de comorbidades em pacientes do estado de São Paulo, com diagnóstico positivo para infecção por SARS-CoV-2, para compreender a progressão dos riscos associados à morbimortalidade.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizado um estudo descritivo, retrospectivo, utilizando dados secundários do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) do estado de São Paulo (SEADE, 2020). Os dados são de domínio público e não necessita de aprovação de Comissão de Ética em Pesquisa. Foram incluídos os casos de recuperados e óbitos entre Julho de 2020 e Julho de 2021. Foram analisados os parâmetros sexo, idade e comorbidades (cardiopatias, diabetes e obesidade). Foram excluídos casos com ausência de algum dado epidemiológico necessário para a execução deste trabalho, como idade, sexo e informação sobre comorbidade prévia. A análise estatística dos dados foi realizada pelo Excel versão 2010 e pelo Epi Info versão 3.5.3.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados 149.112 casos, destes, 93.888 (63%) evoluíram para recuperação e 55.224 (37%) para óbito. Neste trabalho analisamos as comorbidades: cardiopatias, diabetes e obesidade e suas associações. A idade média dos recuperados foi de 55 anos para homens e 60 anos para mulheres. Nos óbitos a idade média foi de 60 anos para homens e 65 anos para mulheres (Figura 1). A idade acima de 60 anos foi considerada um fator de risco para a infecção, pois ocorre diminuição da resposta imunológica, e a presença de comorbidades eleva as chances de formação de trombose microvascular, aumentando a gravidade da doença (BATSCHAUER et al., 2020). O número de pacientes recuperados e óbitos com e sem associação entre comorbidades foi maior no sexo masculino, sendo estatisticamente significante (p<0.0000001). O sexo masculino apresenta maior fator de risco para a infecção quando comparado ao sexo feminino, sugerindo uma diferença na resposta imune, pois a presença de hormônio androgênio, concentrações mais baixas de anticorpos anti-SARS-CoV-2, além da maior exposição e progressão da doença seriam caracterizadas como maior causa de mortalidade pela COVID-19 (MONTOPOLI et al., 2020) (Figura 2). A prevalência de comorbidades nos recuperados foi de 29,0% (27.145) cardiopatias; 17,0% (15.980) cardiopatias e diabetes; 13,5% (12.710) diabetes; 7,8% (7.321) obesidade; 4,1% (3.852) cardiopatias e obesidade; 4,3% (4.096) cardiopatias, diabetes e obesidade; e 24,3% (22.784) sem comorbidades (Figura 3A).
Nos recuperados a prevalência de cardiopatias isolada e associada foi maior em comparação com as demais comorbidades.
Nos óbitos, a prevalência foi de 27,8% (15.332) cardiopatias; 22,0% (12.154) cardiopatias e diabetes; 13,0% (7.203) diabetes; 6,0% (3.305) obesidade; 4,6% (2.511) cardiopatias e obesidade; 6,4% (3.531) cardiopatias, obesidade e diabetes; e 1,8% (1.012) diabetes e obesidade e 18,4% (10.176) sem comorbidades (Figura 3 B). Esses dados mostraram que a prevalência de óbitos ocorreu no grupo de cardiopatia isolada e cardiopatia associada ao diabetes. O estudo não apresentou diferença significante na prevalência entre os grupos de obesidade isolada e associada a outras comorbidades. O monitoramento deficiente da glicemia pode levar a falhas no sistema imunológico e potencializar o aparecimento de mediadores pró-inflamatórios como proteína C reativa, glicoproteína ácida e o fibrinogênio, além de citoquinas como fator de necrose tumoral e interleucinas, favorecendo danos celulares, e piora do estado do paciente com COVID-19 (CERIELLO et al., 2020; PICCIRILLO et al., 2004, GROSS et al., 2002). Os pacientes com diabetes do tipo 1 apresentam 3.5 vezes, e do tipo 2 têm 2.03 mais riscos de mortalidade pela COVID- 19, pois SARS-CoV-2 pode desencadear a autoimunidade das ilhotas de Langerhans, quando o vírus se liga aos receptores ECA2, possibilitando o desenvolvimento de diabetes (SINGH et al., 2020).
A obesidade está associada com a intensidade dos fatores de risco quando relacionadas a outras doenças crônicas, como diabetes e cardiopatias. Os resultados encontrados foram semelhantes ao estudo de Silva, et al., 2020, que apresentou prevalência obtida de 8% para obesidade.
Os indivíduos com sobrepeso podem desenvolver maior carga viral e demora na resolução do processo infeccioso, por apresentar uma redução da resposta imune, com menor ação de fagocitose por macrófago, prejudicando o processo de apresentação de antígeno e desenvolvimento de anticorpo, contribuindo para o desfecho grave da infecção, com a amplificação do estado inflamatório, danos ao sistema respiratório, cardiovascular e no metabolismo dos carboidratos e na formação de trombose (BOLSONI-LOPES et al., 2021; MARTELLETO et al., 2021). As cardiopatias estão associadas à gravidade da doença e prognóstico desfavorável à COVID-19, devido ao processo inflamatório que aumenta a liberação de troponina causando lesões e espessamento do músculo cardíaco (SILVA et al., 2020). A introdução do SARS-CoV-2 em células miocárdicas reduz a expressão de ECA2, que possui propriedade anti-inflamatória e anti-trombótica, que permitem a liberação de mediadores pró-inflamatórios e apoptóticos, como fatores de necrose tumoral, que desestabiliza a placa aterosclerótica do epitélio dos vasos e liberando êmbolos nos pacientes com COVID-19. A cardiopatia está associada a tres vezes mais chances de infecção grave e 11 vezes a mortalidade (SHAH et al., 2021; SILVA et al., 2020).
CONCLUSÕES
Os resultados encontrados sugerem que indivíduos com menos de 60 anos de idade tem uma maior probabilidade de recuperação da COVID-19.
Os pacientes do sexo masculino com COVID-19 apresentaram maior probabilidade para o estado grave da doença.
A cardiopatia demostrou maior número de casos recuperados e óbitos, e apresentou resultado relevante quando associada à diabetes, embora a obesidade esteja mais comumente ligada a outras comorbidades.
A presença isolada ou associada à diabetes obesidade e cardiopatias exerceu uma relação negativa na evolução do quadro clínico do paciente. Este estudo poderá contribuir com informações úteis para a implantação de medidas epidemiológicas adequadas, e para a elaboração de políticas públicas no contexto de prevenção e monitoramento das doenças crônicas não transmissíveis.
Referências
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