SARS-CoV-2 e COVID-19: Revisão sobre as vacinas disponíveis no Brasil
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Capítulo de livro publicado no Livro da IV Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública. Para acessa-lo clique aqui.
doi.org/10.53934/9786599965821-39
Este trabalho foi escrito por:
Otton Hiro Ywata Orilhana1; Fabio Hiroto Shimabukuro2
1Estudante do Curso de Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública do Instituto Adolfo Lutz – IAL de Sorocaba; E-mail: [email protected]
2Pesquisador Científico do IAL de Sorocaba
RESUMO
Introdução: O SARS-CoV-2 é um novo coronavírus, responsável por causar a doença infecciosa COVID-19, que se espalhou por todo o globo e, em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente como pandemia. Em 11 de janeiro de 2020 foi divulgada a sequência genética do SARS-CoV-2, que levou a uma intensa busca para o desenvolvimento de vacinas contra o vírus. Objetivo: realizar uma revisão bibliográfica sobre os tipos de vacinas disponíveis no Brasil para COVID-19, abordando as tecnologias utilizadas na fabricação e analisando o impacto na população. Materiais e métodos: revisão bibliográfica, não sistemática, sobre as vacinas para a COVID-19 disponíveis no Brasil (até novembro de 2022). As fontes foram retiradas de artigos científicos, bulas, notas técnicas e boletins epidemiológicos encontrados em bancos de dados científicos e em portais digitais oficiais de instituições de saúde. Resultados e Conclusões: A eficácia das vacinas disponíveis no Brasil ficou entre 59 e 95%, já a efetividade ficou entre 42 e 97,9%. Foi possível concluir que todas as vacinas disponíveis no Brasil, até novembro de 2022, são eficazes no combate ao vírus da COVID-19. As vacinas foram, e ainda são, uma peça fundamental no controle da doença, sendo capazes de diminuir significativamente as internações e mortes por COVID-19. Embora muitas variantes tenham surgido ao longo da pandemia, as vacinas foram capazes de controla-las e impedir o seu espalhamento. As vacinas foram capazes de gerar imunidade, embora reduzida, contra quase todas as variantes do SARS-CoV-2. A utilização de doses mistas (heterólogas) se mostrou benéfica, gerando títulos de anticorpos significativamente altos e duradouros contra o vírus e suas variantes.
Palavras–chave: COVID-19, SARS-CoV-2, vacinas
INTRODUÇÃO
O SARS-CoV-2 é um novo coronavírus, responsável por causar a doença infecciosa COVID-19. O vírus foi identificado pela primeira vez na cidade de Wuhan, localizada na China, em dezembro de 2019. Logo se espalhou por todo o mundo e, em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente como pandemia (CAMARGO et al, 2021).
Até o dia 5 de novembro de 2022, o mundo já havia registrado 632.334.249 casos de Covid-19 e 6.599.916 óbitos pela doença. No Brasil foram 34.850.373 casos confirmados, sendo que 34.070.030 se recuperaram e 688.342 foram a óbitos pela doença. A taxa de incidência acumulada foi de 16.457,8 casos por 100.000 habitantes e a taxa de mortalidade acumulada foi de 325,1 óbitos por 100.000 habitantes (Ministério da Saúde, 2022a).
No Brasil as vacinas disponíveis e aprovadas pela ANVISA são a CoronaVac (Butantan/Sinovac), AstraZeneca (Fiocruz/Oxford), Johnson & Johnson’s/Janssen-Cilag e a Comirnaty (Pfizer/BioNTech) (CAVILHA et al, 2022).
Vacina de vetor viral (Janssen e AstraZeneca): um adenovírus é utilizado para transportar para as células humanas a informação para a produção da proteína S do SARS- CoV-2, sendo assim o organismo produzira anticorpos contra essa proteína sem causar a doença em si (CAVILHA et al, 2022).
Vacina genética (Pfizer): essa vacina utiliza fitas de RNA mensageiro, que ao chegarem nas células irão ser utilizadas para produzir antígenos virais que se espalham pela superfície da célula, e então reconhecidos pelo sistema imune, produzindo anticorpos contra eles (CAVILHA et al, 2022).
Vacina viral (CoronaVac): o vírus é inativado através de substancias químicas, seu material genético é destruído, impossibilitando o vírus de se replicar. O vírus inativado (sem seu material genético funcional) é utilizado pelo organismo para produção de anticorpos (CAVILHA et al, 2022).
As medidas de isolamento e proteção individual (uso de máscaras) serviram para ajudar na diminuição no número de infectados e os poucos tratamentos paliativos existentes auxiliaram na recuperação de indivíduos internados pela COVID-19, entretanto, a forma mais eficiente de combater a pandemia foi através da vacinação.
Esse trabalho busca levantar dados para a melhor compreensão da eficácia e eficiência das vacinas, suas tecnologias e seu impacto na pandemia de COVID-19. Entender como cada vacina funciona e quais os efeitos produzidos por diferentes esquemas de vacinação pode ser útil na elaboração de novas vacinas, esquemas vacinais e estratégias de combate a variantes possivelmente letais.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica sobre as vacinas para a COVID-19 disponíveis no Brasil (até novembro de 2022). As informações foram coletadas de artigos científicos, bulas, notas técnicas e boletins epidemiológicos encontrados em bancos de dados científicos (BVS, PUBMED, e SCIELO) e em portais digitais oficiais de instituições de saúde (Ministério da Saúde, OMS, Butantan, Fiocruz e CDC).
As bulas das vacinas utilizadas para descrever dados de eficácia e esquema vacinal foram disponibilizadas no próprio site do Ministério da Saúde. Dados sobre a epidemiologia da COVID-19 e sobre a vacinação da população foram obtidos em boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde e em artigos científicos.
A eficácia/eficiência das vacinas foi observada em artigos científicos e notas técnicas de entidades de saúde.
RESULTADOS
Em 11 de janeiro de 2020 foi divulgada a sequência genética do vírus SARS-CoV- 2, que levou a uma intensa busca para o desenvolvimento de vacinas contra o vírus (LIMA et al, 2021). No Brasil as vacinas disponíveis e aprovadas pela ANVISA são a CoronaVac (Butantan/Sinovac), AstraZeneca (Fiocruz/Oxford), Johnson & Johnson’s/Janssen-Cilag e a Comirnaty (Pfizer/BioNTech) (CAVILHA et al, 2022).
A CoronaVac é uma vacina que usa a tecnologia de vírus inativado, ela foi uma das primeiras vacinas a serem desenvolvidas e passou por testes rigorosos de eficácia. Estudos em diversos países confirmam a eficácia e efetividade da CoronaVac, tanto para casos mais leves de COVID-19 quanto para casos graves (Butantan, 2022).
No estudo com a CoronaVac foi mostrado que ela possui baixa eficácia contra casos leves, mas alta contra casos moderados e graves. A vacina foi a primeira a ser distribuída em massa para indivíduos em grupos de risco para a COVID-19. A CoronaVac atingiu uma eficácia global de mais de 80% e uma efetividade acima de 90% (Butantan, 2022).
A vacina AstraZeneca (ChAdOx1 nCoV-19) é uma vacina de vetor viral desenvolvida na Inglaterra na Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca. Ela utiliza como vetor um adenovírus de chimpanzé (não replicante) que induz uma resposta imune através da expressão da proteína S do SARS-CoV-2, gerando uma robusta resposte imune e celular (LIMA et al, 2021).
Os estudos iniciais da vacina Astrazeneca foram planejados com dose única, mas foi percebido um aumento de anticorpos neutralizantes após uma segunda dose. Um estudo provisório apontou uma eficácia contra casos sintomáticos de 64,1% após uma dose e de 70,4% após duas doses. Outro estudo apontou que a Astrazeneca possui uma eficácia de 67% na redução do risco relativo da doença (FRANCIS et al, 2022).
A vacina da Janssen é uma vacina de vetor viral, semelhante a AstraZeneca, fabricada pela empresa americana Johnson e Johnson. A vacina, assim como a AstraZeneca, também utiliza como vetor viral um adenovírus para induzir uma resposta imune através da produção da proteína S do SARS-CoV-2 em nossas células (LIMA et al, 2021).
Um estudo foi realizado nos Estados Unidos com a vacina Janssen entre 1 de março de 2020 e 31 de agosto de 2021. Durante a realização do estudo a variante Delta surgiu e começou a circular no mundo, atingindo a população do estudo e possibilitando dados sobre a eficácia da vacina sob a variante. A população utilizada no estudo foi de pessoas de 18 anos ou mais, sem registro de vacinação e que não haviam contraído Covid-19 (POLINSKI et al, 2022).
A vacina Pfizer (BNT162b2) é uma vacina genética produzida pelo laboratório americano Pfizer em parceria com a empresa de biotecnologia alemã BioNTech. As vacinas genéticas utilizam de RNA mensageiro, envolto em camada lipídica que evita sua degradação até chegar na célula, para levar a informação da fabricação da proteína S do SARS-CoV-2 para as nossas células, gerando uma resposta imune e celular elevada (LIMA et al, 2021).
O estudo com a vacina Pfizer, realizado entre 27 de julho de 2020 a 14 de novembro de 2020, utilizou 43.548 participantes. Os participantes foram divididos em 2 grupos, um recebendo placebo e outro a vacina, a eficácia estimada foi de 95% (IC 95% de 90,3 a 97,6) (POLACK et al, 2020).
DISCUSSÃO
Quando o SARS-CoV-2 espalhou-se pelo mundo, dando início a pandemia de COVID-19, diversos laboratórios em conjunto com governos e faculdades iniciaram pesquisas para a produção de vacinas capazes de combater o vírus. Mesmo que tenha gerado na população uma desconfiança nas vacinas, devido sua produção ter sido realizada em tempo recorde, todas passaram por testes clínicos que comprovaram uma eficácia e segurança, sendo então liberadas para uso emergencial.
Com o avanço da vacinação diversos estudos surgiram buscando avaliar os seus efeitos na população, onde foi possível observar uma queda significativa nos casos sintomáticos, internações e óbitos pela COVID-19 em diversas faixas etárias.
Com o avanço da vacinação eventualmente houve uma escassez das vacinas devido a problemas logísticos e diplomáticos, levando as entidades de saúde a completarem os esquemas de vacinação com doses mistas (doses heterólogas). Diversos estudos então surgiram buscando compreender como seria a resposta imune de um organismo que recebeu doses de fabricantes diferentes.
Para a surpresa dos pesquisadores, as doses heterólogas muitas vezes geravam uma resposta imune mais duradoura e com maiores títulos de anticorpos, inclusive contra as variantes, sendo então mais eficazes do que um esquema de vacinação homologa.
A vacina CoronaVac mostrou muito efetiva no combate da pandemia, pois foi uma das primeira a serem disponibilizadas para a população brasileira, auxiliando no alívio do sistema de saúde num período complicado da pandemia. Embora a CoronaVac tenha sido uma peça fundamental no combate à pandemia, em comparação com as outras vacinas, a resposta imune gerada por ela é baixa e por esse motivo o uso de dose de reforço e adicional por uma vacina diferente mostra-se bem vinda para complementar a imunidade daqueles vacinados por ela.
Com o decorrer da pandemia, diversas variantes do SARS-CoV-2 surgiram e trouxeram consigo dúvidas em relação à efetividade das vacinas perante elas. Diversos estudos que buscaram compreender a efetividade das vacinas foram realizados em populações afetadas pelas variantes.
Para a maioria das variantes (Alfa, Beta, Gama e Delta) foi observada uma diminuição na efetividade das vacinas, com a diminuição da resposta imune conferida por elas, mas que foram superadas através das doses de reforço. A única variante que, segundo alguns estudos, apresenta uma evasão parcial ou completa da imunidade conferida pelas vacinas é a variante Omicron, contudo vacinas bivalentes, que possuem como alvo principal não só a cepa original do SARS-CoV-2 como também a cepa da Omicron, já estão em desenvolvimento.
CONCLUSÕES
- As vacinas CoronaVac, AstraZeneca, Pfizer e Janssen tiveram um impacto significativamente positivo no Brasil e no mundo, sendo essenciais na diminuição do número de casos graves, internações e da letalidade, auxiliando no alivio do sistema de saúde e peça fundamental no combate a pandemia;
- Embora a vacinação homóloga ainda seja recomendada para o primeiro esquema vacinal, a vacinação heteróloga mostrou-se efetiva na produção de uma imunidade forte e duradoura, inclusive contra as variantes;
- A vacinação heteróloga deve ser incentivada como dose de reforço e adicional para gerar na população, principalmente para aqueles que se imunizaram primeiramente com a CoronaVac, uma resposta imune mais duradoura;
- Embora as vacinas tenham apresentado uma redução de sua efetividade contra as variantes ainda assim conferem uma proteção significativa contra elas. A variante Omicron apresenta um escape vacinal parcial, ou em alguns casos completo, entretanto, já estão sendo pesquisadas vacinas que tem como alvo essa variante.
- A vacinação ainda é a melhor forma de combate à pandemia e ela deve ser cada vez mais expandida, através de campanhas do governo, para que seja possível imunizar a maioria da população, evitando o espalhamento do vírus e de suas variantes, diminuindo as chances do surgimento de mais variantes com escape vacinal.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Instituto Adolfo Lutz, pela oportunidade de me aprimorar academicamente e profissionalmente. Os ensinamentos que obtive na instituição irei levar para toda a vida.
Agradeço imensamente ao meu orientador Prof. Dr. Fabio Hiroto Shimabukuro, por me instruir e guiar nas práticas laboratoriais e na elaboração do TCC.
Agradeço a todos os funcionários do Instituto Adolf Lutz de Sorocaba, pela paciência, carinho e dedicação que tiveram comigo durante o tempo que passei no laboratório.
REFERÊNCIAS
CAMARGO, Carlos e et al. Um ano de pandemia da COVID-19: diversidade genética do SARS-CoV-2 no Brasil. BEPA, 18, 207, 12-33, 2021.
CAVILHA, L. G.; BECHTOLD, C. Vacinas e vacinação contra COVID-19: estado da arte: COVID-19 vaccines and vaccination: state of the art. Brazilian Journal of Development, [S. l.], v. 8, n. 8, p. 58082–58105, 2022.
CORONAVAC PROVOU SUA EFICÁCIA CONTRA COVID-19 NO ESTUDO CLÍNICO MAIS CRITERIOSO, FEITO COM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DURANTE
PICO DE CASOS. Butantan, 2022, disponível em:<https://butantan.gov.br/noticias/coronavac-provou-sua-eficacia-contra-covid-19-no- estudo-clinico-mais-criterioso-feito-com-profissionais-de-saude-durante-pico-de-casos>. Acesso em 20 out, 2022.
Francis AI, Ghany S, Gilkes T, et al. Review of COVID-19 vaccine subtypes, efficacy and geographical distributions. Postgraduate Medical Journal 2022; 98: 389-394.
LIMA, Eduardo; ALMEIDA, Amalia; KFOURI, Renato. Vacinas para COVID-19 – o estado da arte. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, 21 (Supl. 1): S21-S27, fev., 2021
Ministério da Saúde – Acesse as bulas das vacinas contra a covid-19. Ministério da Saúde, 2022. Disponível em <https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias- anvisa/2022/acesse-as-bulas-das-vacinas-contra-a-covid-19>. Acesso em: 16 de outubro de 2022.
POLACK, Fernando, et al. Safety and Efficacy of the BNT162b2 mRNA Covid-19 Vaccine. The New England Journal of Medicine (NEJM). 383, 27, 2603-2615, dez, 2020.
POLINSKI JM, WECKSTEIN AR, BATECH M, et al. Durability of the Single-Dose Ad26.COV2.S Vaccine in the Prevention of COVID-19 Infections and Hospitalizations in the US Before and During the Delta Variant Surge. JAMA Netw Open. 2022;5(3):e222959.