INVESTIGAÇÃO DE ARBOVIROSES EM CASOS SUSPEITOS DE DENGUE E LEPTOSPIROSE NA REGIÃO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO – SP
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Capítulo de livro publicado no Livro da IV Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública. Para acessa-lo clique aqui.
doi.org/10.53934/9786599965821-14
Este trabalho foi escrito por:
Gabriel Negri de Sá Shiraichi1; Milena Polotto de Santi2; Denise Haddad Xavier3; Fernanda Modesto Tolentino Binhardi2
1Estudante do Curso de Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública – CLR X – IAL – São José do Rio Preto; E-mail: [email protected]
2Pesquisadora do Núcleo de Ciências Biomédicas – CLR X – IAL – São José do Rio Preto
3Agente Técnica de Assistência à Saúde – Biologista – CLR X – IAL – São José do Rio Preto
RESUMO
Introdução: As arboviroses e leptospirose estão amplamente distribuídas nas regiões tropicais sendo consideradas doenças negligenciadas de extrema importância em saúde pública. Estes agravos apresentam sintomatologia e sazonalidade semelhantes, o que dificulta seu diagnóstico, diferenciação e tratamento. Objetivo: investigar a presença dos arbovírus dengue, zika e chikungunya em amostras suspeitas para dengue e leptospirose recebidas no Instituto Adolfo Lutz de São José do Rio Preto no período de abril a setembro de 2022. Material e métodos: foram analisadas 100 amostras de pacientes residentes na região de São José do Rio Preto, sendo 81 suspeitas para sorologia de dengue e 19 suspeitas para sorologia de leptospirose. Investigou-se a presença dos arbovírus CHIKV, DENV e ZIKV por qPCR. Resultados: O sorotipo 1 de dengue foi detectado em 2 amostras (2%), sendo duas crianças do sexo masculino. Do total de amostras, 53% eram do gênero masculino e 47% feminino. Quanto à idade, 13% menores de doze anos, 38% de doze a trinta anos, 37% de trinta a sessenta anos e 12% maiores de sessenta anos. Adicionalmente, 77 das 81 amostras negativas para dengue foram testadas para leptospirose pela técnica de ELISA e duas amostras apresentaram resultados positivos para IgM. Conclusão: O percentual de positividade encontrada para os arbovírus foi baixo, possivelmente pelo período do estudo. Apenas o DENV-1 foi detectado. Houve detecção de IgM para leptospirose em duas amostras com suspeita e negativas para dengue. No entanto, testes adicionais para confirmação deste resultado serão necessários.
Palavras-chave: Arboviroses, Dengue, Leptospirose.
INTRODUÇÃO
As epidemias causadas por arbovírus na última década demonstraram que estes continuam apresentando-se como uma ameaça à saúde humana e animal em escala global. As arboviroses apresentam ampla distribuição geográfica, abrangendo todos os continentes, predominando nos trópicos, onde os surtos dessas doenças tendem a ser mais comuns por apresentarem condições climáticas mais favoráveis aos ciclos de transmissão.1
O Brasil é responsável pela maioria das notificações anuais de dengue no mundo, e vem enfrentando diversos surtos relacionados a outras arboviroses, como chikungunya, zika e febre amarela.2
Outro agravo de importância em Saúde Pública é a leptospirose, uma zoonose de expressiva importância na América do Sul, principalmente no Brasil, devido ao clima tropical úmido. É uma doença negligenciada em muitos países, sendo na maioria das vezes subnotificada devido à sua semelhança sintomatológica com outras doenças, principalmente em países com crescimento urbano exacerbado e descontrolado, em que a situação socioeconômica e sanitária do país é precária.3
O diagnóstico clínico das arboviroses pode ser confundindo com outras patologias como a leptospirose devido à sintomatologia semelhante, por isso, é importante e pertinente que esta vigilância de arbovírus seja realizada não somente nas amostras negativas para dengue, mas também em amostras de casos suspeitos de leptospirose, uma importante zoonose de notificação compulsória, cujo diagnóstico também é realizado pelo Instituto Adolfo Lutz de São José do Rio Preto. Assim, o objetivo do estudo foi investigar a presença dos arbovírus vírus do dengue (DENV), vírus zika (ZIKV) e vírus chikungunya (CHIKV) em amostras suspeitas para dengue e leptospirose recebidas no Instituto Adolfo Lutz de São José do Rio Preto no período de abril a setembro de 2022.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram analisadas 81 amostras de soro de pacientes com suspeita de dengue nos meses de agosto e setembro e 19 amostras com suspeita de leptospirose nos meses de abril a setembro de 2022. As amostras estão armazenadas no Instituto Adolfo Lutz de São José do Rio Preto (SP) e são provenientes de pacientes oriundos de cidades pertencentes à região do Departamento Regional de Saúde-XV (DRS-XV). O kit comercial de ELISA utilizado na rotina foi o Panbio Leptospira IgM ELISA da marca Abbott para triagem de leptospirose. A extração do RNA foi realizada com o Qiamp Viral RNA Kit (QIAGEN Inc.,USA), de acordo com as recomendações do fabricante. Para a detecção do RNA do ZIKV foram utilizados primers e protocolo de Lanciotti e colaboradores (2008) e para a detecção do CHIKV o protocolo de Lanciotti e colaboradores (2007). Em ambas as reações foi adicionado um controle interno da qualidade, RNAse P humana como controle endógeno, conforme protocolo estabelecido pelo CDC (WHO/CDC, 2009). Para a detecção do RNA dos quatro sorotipos de DENV foram utilizados primers e protocolo do multiplex qPCR segundo Lanciotti e colaboradores (2005). Foi adicionado um controle interno da qualidade, RNAse P humana como controle endógeno, conforme protocolo estabelecido pelo CDC (WHO/CDC, 2009). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Instituto Adolfo Lutz (CAAE: 89374718.0.0000.0059).
RESULTADOS
Das 100 amostras de soro analisadas, duas foram positivas para DENV sorotipo-1 (DENV-1), ambas do gênero masculino e com idade inferior a doze anos. Do total de amostras, 53% eram do gênero masculino e 47% feminino. Quanto à idade, 13% menores de doze anos com predomínio do gênero masculino, 38% de doze a trinta anos, 37% de trinta a sessenta anos e 12% maiores de sessenta anos com predomínio do gênero feminino (Figura 1). Entre doze e 60 anos não houve diferença significativa entre os gêneros.
As amostras analisadas foram provenientes dos seguintes municípios: São José do Rio Preto (77%), Jales (12%), Catanduva (3%) e Votuporanga (8%). Em sua maioria, as amostras foram coletas com até três dias do início dos sintomas, no entanto, 18% dessas amostras foram coletadas com mais de quatro dias de sintomas. Também foram realizados testes de IgM ELISA para leptospirose em 77 das 81 amostras negativas para dengue. Destas, duas amostras apresentaram resultado positivo para IgM de leptospirose.
DISCUSSÃO
Por conta do clima tropical úmido do Brasil somado ao crescimento urbano exacerbado e falta de infraestrutura, o vetor das arboviroses dengue, zika e chikungunya, a fêmea do mosquito Aedes aegypti, cresce e se estabelece em qualquer ambiente propício para sua proliferação, tornando-se o fator principal a ser combatido para efetivar o controle dessas enfermidades. Epidemiologicamente, essas são as arboviroses predominantes no país e atualmente o seu crescimento é proveniente da negligência na atual pandemia de SarsCoV-
2 com a grande possibilidade de subnotificação por questões de semelhança em sintomatologia, tendo uma queda nas notificações no período onde normalmente é visto um aumento nos casos.2,4
No presente estudo foram investigadas a presença de DENV, ZIKV e CHIKV em 100 amostras, sendo 81 de pacientes com sorologia negativa para dengue e 19 com sorologia negativa para leptospirose, por meio de ensaios de biologia molecular. O DENV-1 foi detectado em duas amostras, sendo dois meninos de 6 e 12 anos. As crianças acabam se tornando mais suscetíveis a serem infectadas devido sua rotina de vivência com outras crianças em espaços abertos, como parques e na própria escola, onde acabam por não tomar as medidas profiláticas regularmente, como o uso do repelente.5
Em São José do Rio Preto essas arboviroses são endêmicas, sendo a dengue considerada hiperendêmica na cidade,6 com circulação dos 4 sorotipos já detectados.2 Em nosso estudo apenas o DENV-1 foi encontrado. Este achado está em consonância que as demais regiões do Estado, nas quais o DENV-1 também foi predominante.2,7
Devido às análises das amostras negativas para dengue terem sido realizadas com amostras dos meses de agosto e setembro é compreensível que a taxa de positividade seja baixa, levando em consideração que a sazonalidade da doença se inicia normalmente no mês de janeiro e vai até junho, e na região de São José do Rio Preto costuma aumentar o nível de pluviosidade nos meses de setembro e outubro, seguindo o padrão desde 2014 com esse aumento nos respectivos meses, conforme disponibilizado pela SeMAE de São José do Rio Preto.8,9
Outro importante agravo investigado neste estudo foi a leptospirose, uma doença com alta incidência, em média 13.000 notificações anuais com 3.500 confirmações e alta taxa de letalidade.10 A leptospirose apresenta sintomatologia semelhante às arbovirose, tanto pela sintomatologia quanto pela sazonalidade. Há ainda diversos relatos de coinfecção dengue e leptospirose, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento correto dos pacientes.11,12,13,14,15
Em nosso estudo, das 77 amostras negativas para dengue testadas para leptospirose, duas apresentaram resultado positivo para IgM. No entanto, apesar da importância deste achado, cabe ressaltar que testes adicionais para confirmação deste resultado serão necessários.
CONCLUSÃO
Pode se concluir que a positividade encontrada para os arbovírus foi baixa, possivelmente pelo período do estudo. Apenas o DENV-1 foi detectado. Houve detecção de IgM para leptospirose em duas amostras com suspeita e negativas para dengue. No entanto, testes adicionais para confirmação deste resultado serão necessários.
Considerando os dados apresentados pelas Secretarias Municipal e Estadual de Saúde somados aos resultados encontrados neste trabalho é inegável a necessidade de conscientizar a população sobre estes agravos e os cuidados contra o vetor Aedes aegypti, considerando que os agravos estudados são endêmicos na região.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela oportunidade de realizar este trabalho e por todo o conhecimento adquirido durante minha estadia no IAL São José do Rio Preto, agradeço aos meus pais, família e amigos pelo apoio incondicional e às minhas colegas de laboratório por todo o conhecimento e ajuda providos que foram essenciais para a realização desta conquista, à minha orientadora Fernanda por toda ajuda e paciência durante o processo como um todo, meus sinceros agradecimentos a todos e ao Instituto Adolfo Lutz pela oportunidade. Muito obrigado.
REFERÊNCIAS
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3OLIVEIRA, EH de.; HOLANDA, CE.; ANDRADE, SM de.; COSTA, RPC.; TAMINATO, RL.; SANTOS, DA Leptospirose no Brasil: uma abordagem da saúde pública. Investigação, Sociedade e Desenvolvimento. v. 11, n. 6, p. e19411627111, 2022.
4MASCARENHAS MDM, . Ocorrência simultânea de COVID-19 e dengue: o que os dados revelam?. Cadernos de Saúde Pública. v. 36, n. 6, 2020.
5MARTINS MM, PRATA-BARBOSA A, DA CUNHA AJLA. Arboviral diseases in pediatrics, Jornal de Pediatria, v. 96, n. 1, p. 2-11, 2020.
6SANTI MP, TOLENTINO-BINHARDI FM, AGÜERO LM, PAGNOCA EVRG, BINHARDI MFB, FLORES MNP, SOARES MMCN. Detecção de arboviroses em gestantes na região noroeste do Estado de São Paulo. Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR. v. 25, n. 1, p. 37-42, jan./abr. 2021.
7BRASIL. CVE Centro de Vigilância Epidemiológica. Disponível em <https://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de- vigilancia/doencas-de-transmissao-por-vetores-e- zoonoses/dados/dengue/2022/dengue22_import_autoc_mes.htm>. Acesso em: 24 de nov. de 2022.
8MORAES BC, SOUZA EB, SODRÉ GRC, FERREIRA DBDS, RIBEIRO JBM. Sazonalidade nas notificações de dengue das capitais da Amazônia e os impactos do El Niño/La Niña]. Cad Saude Publica. v. 35, n. 9, e00123417, 2019.
9SEMAE. Índice Pluviométrico. Disponível em <https://semae.riopreto.sp.gov.br/indice- pluviometrico-semae.aspx>. Acesso em: 24 de nov. de 2022.
10VICENTE JCS, LEITE MCB, DA SILVA MO, VICENTE JDS, JUNIOR JBO, MELO SMM, DINIZ ATN. Caracterização clínica-epidemiológica dos casos confirmados de leptospirose em um hospital de emergência. Revista Arquivos Científicos (IMMES), Macapá, AP. v. 5, n. 1, p. 97-107, 2022.
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