ESTUDO DA REDUÇÃO DOS AÇÚCARES NOS REFRIGERANTES
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Capítulo de livro publicado no Livro da IV Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública. Para acessa-lo clique aqui.
doi.org/10.53934/9786599965821-07
Este trabalho foi escrito por:
Maiara Stephanie da Silva Yoshinaga 1; Mahyara Markievicz Mancio Kus- Yamashita2; Cristiane Bonaldi Cano3
1Estudante do Curso de Vigilância Laboratorial em Saúde Pública – CEFRO-SES– IAL; E- mail: [email protected]
3Cristiane Bolandi Cano do Núcleo de Químico-físicas e Sensorial de Alimentos – CALI– IAL
2Mahyara Markievicz Mancio Kus-Yamashita do Núcleo de Químico-físicas e Sensorial de Alimentos – CALI – IAL
Resumo: O alto consumo de alimentos ultraprocessados de baixo valor nutritivo pode estar relacionado ao aumento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis, sendo que, os refrigerantes que contêm grande quantidade de açúcares, são considerados um dos produtos industrializados mais consumidos mundialmente. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, juntamente com as indústrias e produtoras de alimentos e bebidas, realizaram um acordo que tem como objetivo estabelecer metas na redução dos teores de açúcares presentes na formulação de produtos, dentre um deles, os refrigerantes. O objetivo deste trabalho foi determinar os carboidratos e sua quantidade nos refrigerantes coletados para atendimento ao Programa Nacional de Monitoramento de Alimentos, durante o período de 2021-2022. Foram coletadas 32 amostras de refrigerantes coletados pela VISA-SP, na determinação de carboidratos, pelo método CLAE-ELSD desenvolvido no IAL. A composição do perfil de carboidratos encontrados nas análises cromatográficas nos refrigerantes foi de frutose, glicose e sacarose. Os resultados sugerem que os refrigerantes de sabores de guaraná e frutas diversas tinham maiores valores de concentração de sacarose entre 51 e 59, seguidos de uma menor concentração de glicose e frutose em torno 20 a 26%. Enquanto no sabor de cola observou-se tinham menores valores de sacarose em torno de 32,5 %, seguidos de 35,3 % de glicose e 32,2 % de frutose. Conclui-se que nos refrigerantes de sabor de guaraná, frutas diversas e cola avaliados no PRONAMA, houve a modificações na sua composição em relação à quantidade de sacarose, sendo substituída pelo açúcar invertido, sugerindo que há reformulação dos produtos.
Palavras–chave: bebidas açucaradas, CLAE, Doenças Crônicas não Transmissíveis, frutose, glicose, sacarose
INTRODUÇÃO
As Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNTs) é um dos assuntos mais retratados no que se refere a saúde humana, atualmente é uma das maiores causas de mortalidade e maioria das situações vem gerando doenças como obesidade, hipertensão e diabetes, que está correlacionadas aos maus hábitos na qualidade de vida e principalmente no que diz respeito a alimentação. Hoje em dia o consumo de alimentos processados e ultraprocessados, ricos em gorduras, sódio e açúcares, estão cada vez mais frequentes, ocasionando as DCNT (SVS, 2016).
Quando se trata de alimentos industrializados, uns dos mais populares nessa classe são os refrigerantes, uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo, só no Brasil em 2021, o consumo per capita no mercado brasileiro de refrigerantes foi de 59,52 de litros por habitante anual (ABIR, 2021).
Diante desse agravo relacionado às DCNTs, órgãos em todo mundo vem desenvolvendo meios para promover hábitos alimentares que possam assegurar uma vida saudável. Com a Agenda 2030 da Organização Mundial da Saúde, foi proposto o Objetivo de Desenvolvimento Saudável (ODS) 3- Saúde e bem-estar, onde são criadas várias tentativas de programas para redução do consumo de refrigerantes com açúcar. No Brasil, foi criado o acordo de 2023 com as Indústrias para reduzir em até 33,8 % a quantidade de açúcar em bebidas açucaradas (refrigerantes, bebidas mistas e néctares de frutas), conforme Figura 1 (ONU, 2022; BRASIL, 2022; BRASIL, 2021).
A reformulação dos alimentos e bebidas é uma nova estratégia para melhorar o perfil nutricional, sendo que dos alvos que se deseja atingir é a redução do teor de açúcar em especial a sacarose adicionada. A indústria possui dois principais métodos: a redução no conteúdo de açúcares adicionados sem modificações adicionais na formulação do produto ou, a substituição parcial/total do nutriente por outros ingredientes como os edulcorantes (Markey, et al, 2015).
Conforme a alegação “açúcares reduzidos” e qualquer alegação susceptíveis de ter o mesmo significado para o consumidor, só podem ser efetuadas se o valor energético do produto com esta alegação é menor que a quantidade de energia em um produto quando comparado com o seu original, portanto os fabricantes estão reformulando o seu produto par atingir este objetivo de reduzir os açúcares adicionados (Rýdlová, L., et al, 2020).
O Programa Nacional de Monitoramento de Alimentos (PRONAMA), coordenado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), tem como objetivo avaliar a segurança e a qualidade dos alimentos, sendo importante ferramenta para o planejamento de ações de vigilância sanitária e saúde. No ano de 2022, o PRONAMA teve como planejamento verificar a adequação das fórmulas dos refrigerantes para redução do açúcar conforme o Acordo de 2023. Portanto, o objetivo deste trabalho foi de determinar o perfil dos carboidratos e sua quantidade nos refrigerantes, coletados no PRONAMA-VISA, no estado de São Paulo no período de 2021-2022 (BRASIL, 2022).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletadas 32 amostras de refrigerantes que variaram entre marcas e sabores, para o programa de monitoramento PRONAMA pelas Vigilâncias Sanitárias do Estado de São Paulo (VISA-SP). As análises foram realizadas no Instituto Adolfo Lutz (IAL), por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) marca Shimadzu, método in House desenvolvido no IAL-2018, nas seguintes condições: coluna HILIC com temperatura de forno de a 32º C, fase móvel: Acetonitrila: Acetato de Etila: Água (50:40:10:v:v:v), bomba isocrática com vazão de fluxo de 0,2 mL/min, detector de espalhamento de luz (ELSD) com forno a 40ºC, vazão de gás de 39-41 psi e processadas a detecção. Os dados foram processados em planilha de Excel versão 2010.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme a Figura 2, no período de 2021 e 2022, foram coletadas pelas Vigilâncias Sanitárias do Estado de São Paulo em vários municípios, 32 amostras de refrigerantes de marcas variáveis nos seguintes sabores: 16 amostras no sabor guaraná, 4 amostras no sabor de cola, e nos sabores de frutas foram 3 amostras no sabor laranja, 2 amostras no sabor de limão, 2 amostras no sabor de limão com laranja e os sabores de framboesa, maçã, mix de frutas, tutti-frutti e uva continham somente uma amostra coletada. Sendo assim, para representar melhor a amostragem dos refrigerantes com vários sabores de frutas, foi criada neste trabalho a denominação sabores de frutas diversas. Com relação às amostras coletadas, as maiores quantidades no sabor de guaraná podem estar relacionadas às marcas de refrigerantes comercializadas nos municípios do Estado de São Paulo.
Na análise do perfil de carboidratos dos refrigerantes realizada por cromatografia líquida, foram encontradas em todas as amostras, frutose, glicose e sacarose em proporções diferentes para cada tipo de sabores e marcas. Nas 16 amostras de refrigerantes no sabor de guaraná, observou-se que na composição continham 59,5 % de sacarose, seguidos de 20,3% de glicose e 20,1% de frutose, mostrando que a quantidade de sacarose era maior em relação à quantidade de frutose e glicose (Figura 3b).
Com relação às 4 amostras de refrigerante sabor Cola, descritos na Figura 3a, observou-se que na composição continham 32,5 % de sacarose, seguidos de 35,3 % de glicose e 32,2 % de frutose, o que sugere que neste tipo de sabor há uma maior quantidade de glicose em relação aos demais, e a quantidade de frutose e sacarose eram mais próximos.
Nas 12 amostras de sabores de frutas diversas, conforme a Figura 3c, observou-se que na composição continham 51,0% de sacarose, seguidos de 26,0% de glicose e 23,0% de frutose, indicando que a quantidade de sacarose era maior em relação aos demais carboidratos, e a quantidade de frutose era maior quando a comparada à glicose.
No sabor de guaraná, a concentração média de frutose foi 1,71± 1,23 g.100mL-1, de glicose de 1,75 ± 0,82g.100mL-1 e sacarose de 5,07 ± 0,75g.100mL-1, estes resultados sugerem que há amostras com teores de sacarose mais altos, em relação aos demais carboidratos. Nos sabores de frutas de diversas a concentração média de frutose foi 1,67 ± 0,91g.100mL-1, na glicose de 1,87± 1,00g.100mL-1 e na sacarose de 3,67±1,03g.100mL-1, estes resultado mostram que as concentrações de sacarose estão mais baixas comparadas as de guaraná este fato pode estar relacionado a quantidade de suco de frutas adicionados nestes tipos de refrigerantes. Nos refrigerantes de cola pode se observar a concentração média de sacarose foi de 2,95 ±1,13g.100mL-1, seguidos de glicose de 2,93±1,80g.100mL-1 e frutose 3,20 ± 2,02g.100mL-1, estes resultados indicam que a mostra os valores de sacarose estão mais próximos dos valores dos refrigerantes de frutas diversas, e que há uma também uma proporção mais próxima de sacarose com frutose e glicose. Estes resultados sugerem que nos refrigerantes de sabores de guaraná e diversas frutas tinham valores mais altos de sacarose, pois haviam mais amostras que não tinham redução de açúcar adicionado (sacarose), enquanto os refrigerantes de cola continham mais amostras com redução de açúcar adicionado(sacarose), que seguem alguns artigos da literatura que mostram que em bebidas com baixo teor de açúcar os valores se encontram 2,5g de açúcar por 100mL em produtos líquidos (Rýdlová, L., et al, 2020).
Nas amostras com redução de açúcar pode se observar no perfil e na quantidade individual de carboidratos um aumento nas concentrações de frutose e glicose e uma diminuição na sacarose, indicando que estes produtos foram adicionados outro tipo de açúcar como xarope de açúcar invertido, sugerindo que os fabricantes vem modificaram as fórmulas para se adequarem ao pacto com ANVISA (Rýdlová, L., et al, 2020).
CONCLUSÕES
A amostragem dos refrigerantes coletadas no PRONAMA 2021 e 2022 foi mais representativa para o sabor de guaraná, seguida dos sabores de frutas diversas e de cola, respectivamente. Contudo, observou-se que no caso dos sabores de fruta havia poucas amostras replicadas em alguns sabores, o que prejudicou a avaliação da composição dos carboidratos quanto à redução dos açúcares. Os refrigerantes analisados demostraram que as indústrias estão realizando formulações com redução nas quantidades de sacarose, pois havia amostras com e sem indicação da redução de açúcar, favorecendo uma maior visibilidade para comparar os resultados.
Com estes resultados, pode-se sugerir que houve uma redução do açúcar adicionado (sacarose) em algumas amostras de refrigerantes nos sabores de guaraná, frutas diversas e cola, este fato pode estar relacionado ao fato de ter sido adicionado o açúcar invertido como substituto da sacarose em sua composição. Sendo assim, através das análises do perfil de carboidratos em refrigerantes sugere-se que as indústrias estão modificando as suas formulações para se adequarem ao acordo 2023 proposto pela ANVISA e ao PRONAMA.
REFERÊNCIAS
SVS, Painéis Saúde Brasil: Doenças crônicas não transmissíveis. [S. l.], 2016. Disponível em: https://svs.aids.gov.br/daent/centrais-de-conteudos/paineis-de-monitoramento/saude- brasil/dcnt/. Acesso em: 1 dez. 2022.
ABIR, Volume de produção do mercado brasileiro de refrigerantes dos anos de 2010 a 2021. [S. l.], 2022. Disponível em: https://abir.org.br/o-setor/dados/refrigerantes/. Acesso em: 30 dez. 2022.
ONU, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [S. l.]: 2022 Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em: 05 dez. 2022.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAUDE, PLANO DE AÇÕES ESRATÉGIAS PARA O ENFRETAMENTO DAS DOENÇAS CRONICAS E AGFAOS NÃO TRANSISSIVEIS
NO BRASIL 2021-2030 [S. l.]: 2022 Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt- br/centrais-de-conteudo/publicacoes/publicacoes-svs/doencas-cronicas-nao-transmissiveis- dcnt/09-plano-de-dant-2022_2030.pdf/view Acesso em: 05 dez. 2022.
BRASIL, ANVISA, Programa Monitoramento dos Teores de Sódio e Açucares em Alimentos Industrializados [S. l.]: 2021. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt- br/assuntos/fiscalizacao-e-monitoramento/programas-nacionais-de-monitoramento-de- alimentos/teores-de-sodio-e-acucares-em-alimentos- industrializados#:~:text=No%20caso%20dos%20a%C3%A7%C3%BAcares%2C%20h%C 3%A1,anos%20de%202020%20e%202022. Acesso em: 05 dez. 2022.
BRASIL, ANVISA, Programa Nacional de Monitoramento de Alimentos (Pronamas). [S. l.]: 2022 Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/fiscalizacao-e- monitoramento/programas-nacionais-de-monitoramento-de-alimentos Acesso em: 05 dez. 2022.
MARKEY, Oonagh; LOVEGROVE, Julie A.; METHVEN, Lisa. Sensory profiles and consumer acceptability of a range of sugar-reduced products on the UK market. Food Research International, v. 72, p. 133-139, 2015.
RÝDLOVÁ, L., HRUBÁ, M., ŠEVČÍK, R., & RAJCHL, A. Reformulation of fruit and vegetable products. Eat & live correctly, p. 107, 2020. https://www.ctpp.cz/images/files/reformulace%20web.pdf#page=107. Acesso em: 05 jan 2023.