DETERMINAÇÃO DA CARGA VIRAL DO HIV: UM HISTÓRICO DA TÉCNICA E SUA IMPORTÂNCIA E APLICAÇÕES NO SISTEMA DE VIGILÂNCIA E MONITORAMENTO DAAIDS
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Capítulo de livro publicado no Livro da IV Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública. Para acessa-lo clique aqui.
doi.org/10.53934/9786599965821-33
Este trabalho foi escrito por:
Isabela Pelogia Humber1 Renato Pereira de Souza2
1Estudante do Curso de Especialização de Vigilância Laboratorial em Saúde Pública- IAL; E-mail: [email protected]
2Orientador e pesquisador do Instituto Adolfo Lutz IAL; E-mail: [email protected]
Resumo: Desde que emergiu, a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana) tem atraído a preocupação mundial. Com a adesão do tratamento antirretroviral pela população que vive com HIV/AIDS, foi estabelecido um método chamado quantificação viral, que é utilizado para acompanhamento da carga viral de pessoas diagnosticadas com Vírus da Imunodeficiência Humana-1 (HIV-1) e é responsável pelo monitoramento da evolução clínica dos pacientes e efetividade do tratamento. Dessa forma, este trabalho se propôs a revisar historicamente as aplicações da Determinação da Carga Viral e sua importância para o sistema de vigilância e monitoramento do HIV/AIDS. Por meio da revisão, foi possível reunir informações que permitiram a construção de uma linha do tempo, as principais mudanças constatadas desde o uso do teste de carga viral no Brasil e como elas afetaram o quadro histórico de infecção do HIV.
Palavras–chave: HIV, Carga Viral HIV e PCR em tempo REAL.
INTRODUÇÃO
A AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida) é motivo de alerta desde que, em meados de 1981, foram reconhecidos os primeiros casos da doença nos Estados Unidos da América (EUA) (PINTO et al, 2007). Até os dias atuais a erradicação da infecção pelo HIV ainda persiste como um problema de grande relevância para a saúde pública (POLO, 2017). Para combate à mortalidade pela infecção por HIV um contribuinte de grande importância é a adesão ao TARV e acompanhamento dos que fazem tratamento. Para a vigilância e monitoramento do tratamento e evolução da epidemia utiliza-se da determinação quantitativa da carga viral nas decisões sobre o melhor tratamento a ser tomado por cada indivíduo em particular, suas condições clínicas e na adesão a essa terapia, sendo desta forma, possível reduzir a presença do vírus no sangue até níveis que garantem melhor sobrevida das pessoas que vivem com HIV (Abbott Real Time, 2022).
Portanto, esse trabalho se propõe a revisar historicamente as aplicações da Determinação da Carga Viral e sua importância para o sistema de vigilância e monitoramento da AIDS.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão histórica da literatura científica, com busca em textos publicados no período de 1996 a 2021. A busca foi realizada em artigos extraídos pela internet, através das bases de dados online Google Scholar e Pubmed. As variáveis para critério de seleção das informações foi feita pela escolha das palavras-chave: Carga Viral HIV; e PCR em tempo real HIV.
Após a seleção, os assuntos levantados puderam ser categorizados em 4 temas principais: Disponibilidade de laboratórios que realizam a Carga Viral em amarelo; Metodologias de PCR utilizadas em vermelho; Mudanças entre técnicas em verde e, Manipulação das amostras em azul.
Foi realizado, para melhor visualização, uma linha temporal de todos os acontecimentos em uma imagem que constam todas as datas disponibilizadas de forma crescente e, para se diferenciar os temas, cada um está separado em uma cor, cada inserção na linha possui sua respectiva referência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Disponibilidade de laboratórios que realizam a Carga Viral
Em 1996, a princípio, o exame de carga viral era realizado apenas em alguns laboratórios brasileiros, como o laboratório bioquímico Jardim Paulista, em São Paulo, e Hermes Pardini, em Belo Horizonte (Folha de Parreira, 1996). Atualmente, no ano de 2022 existem 81 laboratórios de carga viral integrantes da Rede Nacional de Carga Viral do Departamento Nacional de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)/AIDS e Hepatites Virais distribuídos em todo o país (Guimarães, 2018; Santos, 2019).
Metodologias de PCR utilizadas
Para realização do teste, os laboratórios da rede nacional do Ministério da Saúde responsável pela quantificação do HIV já utilizou os kits comerciais: Amplicor HIV-1 Monitor® Roche Diagnostic System, NASBA QR System® Organon Teknika e Nuclisens (Machado, Carlos, 1999).
A técnica de PCR utilizada inicialmente era chamada de NASBA (NUCLISENS), e, foi então substituída pela metodologia Real Time PCR (plataforma m2000rt) que garante que etapas antes manuais sejam automatizadas, dessa forma, reduzindo o tempo de preparo das amostras; além de permitir opções menores de volume de amostra (até 1 mililitro) e ter um intervalo linear de 40 a 10.000.000 cópias/mililitro (Luz, 2017).
A mudança das metodologias de PCR ocorre por diversos motivos, entre eles, a necessidade de diminuir o custo elevado que a quantificação da carga viral tem para os laboratórios, e a atualização dos testes também é um exemplo disso, e pode representar uma vantagem para o sistema público de saúde de redução de gastos.
Também vale destacar que, uma vez que para ser realizado, o PCR necessita de equipamentos específicos, e por isso, a alteração dessas metodologias demonstra os avanços na área da biologia molecular, que garantem maior sensibilidade, precisão, especificidade, entre outros fatores que, diretamente alteram alguns princípios do exame e aperfeiçoam o processo de obtenção dos resultados.
Mudanças entre técnicas
A quantificação da carga viral é um determinante para a evolução da infecção, dessa forma, a sua detecção é baseada no número de em média de células infectadas encontradas por mililitros de plasma do paciente. Como exemplo, tem-se o parâmetro que uma alta carga viral é a que ultrapassa 500 cópias por mililitro. (Gonçalves, 2000).
A partir do momento em que a técnica de PCR-quantitativo para HIV foi utilizada para detectar a carga viral em crianças até dois anos, adaptações quanto a sua sensibilidade precisaram ser realizadas; o limite de detecção por mililitro de plasma infantil é maior que o detectado anteriormente em adultos, dessa forma, a sensibilidade se tornou ultrassensível, sendo capaz de detectar de 40-50 cópias/mililitro de plasma (Okay, Granato, 2000).
Manipulação das amostras
Essa última divisão cronológica mostra as alterações da manipulação das amostras, e, este, se mostrou um pouco mais tardio em mudanças relação as demais categorias, uma vez que esse estudo buscou relatar apenas diferenças apontadas somente no que foi apresentado pelos trabalhos selecionados, não se pode dizer quando exatamente tais ações foram praticadas.
Como relatam os resultados, a carga viral, desde 2000 começa a ser utilizada também para o diagnóstico de infecção por HIV no período perinatal, o que foi necessário, pois, ao se confirmar a transmissão vertical da mãe para o feto na gestação em 1997, intervenções foram criadas para prevenção dessa transmissão da qual a quantificação da carga viral tem uma função crucial.
CONCLUSÕES
Os resultados apontam a importância que, através dos anos as mudanças na determinação da carga viral desempenharam para a garantia de uma melhor qualidade no amparo da pessoa que vive com HIV; seja a implantação de um maior número de laboratórios que realizam esse exame diminuindo a chance de degradação da amostra; como a melhoria quanto à sensibilidade do teste conforme as técnicas de PCR eram substituídas por outras mais avançadas, por exemplo; cada ponto discutido significa uma melhoria no teste que ajuda em mais rapidez e confiabilidade de resultado para o paciente, e, por isso, estima-se que essas intervenções continuem no futuro e sejam cruciais para o desenvolvimento do monitoramento viral.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus, pois sem Ele nada na minha vida seria possível.
A minha mãe, que me incentivou e proporcionou todo o apoio necessário para minha formação profissional.
Ao meu orientador, Renato Pereira de Souza, por todos os conselhos, ensinamentos e pela paciência com a qual guiaram meu processo de realização deste trabalho.
Agradeço a Fernanda Auxiliadora Guimarães, por partilhar seu conhecimento para elaboração deste trabalho.
Agradeço a todos os funcionários do Instituto Adolfo Lutz, que durante esse ano me ensinaram.
REFERÊNCIAS
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