Capítulo de livro CBQNAT
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
José Alisson da Silva Lima¹; Victor Campana Leite¹; Luísa Souza Calderano²; Jéssica Pereira Silva³; Nícolas de Castro Campos Pinto4.
1Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas – Laboratório de Produtos Naturais Bioativos – UFJF.
2Estudante do curso de Farmácia – Laboratório de Produtos Naturais Bioativos – UFJF.
3Estudante do curso de Nutrição – Laboratório de Produtos Naturais Bioativos – UFJF.
4Docente/pesquisador do departamento de Bioquímica – Laboratório de Produtos Naturais Bioativos – UFJF.
Introdução: O consumo de plantas e a utilização tópica de produtos à base de espécimes vegetais consideradas medicinais é um hábito comum desde o princípio da civilização. Alguns estudos descrevem que plantas do gênero Stachys apresentam atividade biológica frente a diversos tipos de doenças, que vão de inflamações de pele até tumores genitais. Objetivo: O seguinte estudo objetiva avaliar a atividade antioxidante in vitro do extrato etanólico (EE) e partições das partes aéreas de Stachys byzantina. Métodos: Após a colheita das folhas foi preparado o EE, em seguida particionado com solventes em ordem crescente de polaridade: Partições hexânica (PHEX), diclorometânica (PDCM) e em acetato de etila (PACT). Foi realizado o ensaio de inibição do radical óxido nítrico (NO) pelo método de Griess. Para tanto, utilizamos uma microplaca de 96 poços onde foram adicionados 125µL das amostras em triplicata (ácido gálico/AG como controle positivo, EE e partições + brancos) solubilizadas em tampão fosfato (TF) (1,6mg/1,0mL). Em seguida, nos poços adjacentes às amostras, foi adicionado 62,5µL de TF até a sexta coluna, em seguida diluição seriada. 62,5µL de nitroprussiato de sódio foi adicionado nos poços das amostras e controle negativo. 62,5µL de TF foi adicionado nos poços referentes aos brancos e controle negativo. Incubou-se a placa por 1 hora em temperatura ambiente. Após o período de incubação, adicionou-se 125µL do reagente de Griess em todos os poços. Após 10min ao abrigo da luz, realizou-se a leitura no espectrofotômetro a 540nm. Para análise estatística da porcentagem de inibição, utilizou-se as absorbâncias na seguinte fórmula: (100 – amostra X 100 / controle negativo). Resultados: Na concentração de 250µg/mL as porcentagens de inibição para cada amostra foram: AG 41%, PHEX: 81%, EE 66%, PDCM 58%, PACT 22%. Em 125µg/mL: AG 29%, PHEX: 66%, EE 57%, PDCM 41%, PACT 18%. Em 62,5µg/mL: AG 20%, PHEX: 61%, EE 40%, PDCM 39%, PACT 15%. Em 31,25µg/mL: AG 12%, PHEX: 45%, EE 30%, PDCM 30%, PACT 15%. Em 15,62µg/mL: AG 7%, PHEX: 33%, EE 29%, PDCM 23%, PACT 14%. Em 7,81µg/mL: AG 6%, PHEX: 25%, EE 27%, PDCM 18%, PACT 14%. Conclusão: Por fim, as amostras de Stachys bizantina apresentaram relevante ação antioxidante, principalmente em relação às amostras PHEX, EE e PDCM, que demonstraram maior porcentagem de inibição em todas as concentrações e foram consideradas as mais promissoras para futuros estudos. Agradecimentos: FAPEMIG pelo financiamento e Delfino Antônio Campos pela assistência técnica.
Palavras-chave: Antioxidante, Plantas, Óxido Nítrico, Stachys bizantina.
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Este trabalho foi escrito por:
Aniele da Silva Neves Lopes1; Bruno Bezerra Jensen2; Antônia Maria Ramos Franco2; Paulo José de Sousa Maia3; Dominique Fernandes de Moura do Carmo4
1Estudante do Programa de Pós-graduação em Ciências e Tecnologia para Recursos Amazônicos – PPGCTRA – ICET/UFAM
2Docente/Pesquisador do Laboratório de Leishmaniose e Doenças de Chagas – LLDC – INPA.
3Docente/Pesquisador do Departamento de Química Inorgânica – UFRJ/Macaé
4Docente/Pesquisador do Laboratório de Química – ICET/UFAM
Introdução: A leishmaniose é uma doença negligenciada transmitida através da picada do mosquito hematófago flebotomíneo, ocasionado pelo protozoário da Leishmania. Essa doença pode afetar tanto regiões da pele e mucosa como os órgão interno do corpo, tendo um perfil epidemiológico concentrado nas regiões Norte e Nordeste. Espécies de Vismia destacam-se no tratamento da leishmania por produzirem exsudados através do caule, frutos e raízes. Dos estudos realizados com estas partes botânicas foi possível identificar uma vasta variedade de metabólitos secundários pertencentes a classes dos flavonóides, antraquinonas, antranóides e xantonas. Muitas atividades biológicas já foram atribuídas a estes metabólitos de acordo com dados da literatura, como por exemplo, atividade antimalarica, antileishmania e antimicrobiana. Objetivos: Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar o perfil químico e a atividade in vitro antileishmania dos extratos hexano, diclorometano e hidroalcóolico, dos frutos das espécies V. cayennensis e V. guianensis, codificados como EHVG, EDVG, EDVC e EVC, respectivamente, frente as formas promastigotas de L. amazonensis. Métodos: Os frutos das duas espécies foram coletados no entorno da cidade de Itacoatiara e a resina presente no interior dos frutos foram submetidos a extrações exaustivas com os solventes na ordem crescente de polaridade durante sete dias. Os extratos obtidos foram avaliados por Espectrometria de massas por ionização por electrospray (ESI-MS) e ionização química a pressão atmosférica (APCI-MS). A atividade antileishmania foi avaliada de acordo com a inibição do crescimento e a mortalidade de promastigotas de L. amazonensis nos períodos de 24, 48 e 72 h após incubação a 25º C na presença dos extratos com concentrações de 7,8 a 125μg mL-1. Resultados: Através dos espectros de massas obtidos foi possível identificar os flavonóides quercetina e catequina, por meio da análise dos fragmentos de cada substância e em comparação com dados da literatura. Observou -se que o extrato hidroalcóolico EVC apresentou o melhor desempenho quanto à atividade antileishmania com IC50 =74,07μg mL-1 durante as 48h de incubação. Conclusão: Apesar da baixa atividade observada pelos compostos, estes resultados permitem propor a continuidade dos estudos para o isolamento e estudo da atividade antileishmania de outras substâncias presentes nos extratos de V. cayennensis e V. guianensis.
Palavras-chave: doença negligenciada, leishmaniose, vismia, produtos naturais.
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Este trabalho foi escrito por:
Matheus Willyan Ferreira dos Santos *; Daniel Medeiros Nunes ; Givaldo Gabriel Alves da Silva ; Marcio Michael Pontes ; Natalie Emanuelle Ribeiro Rodrigues ; Rosângela Estevão Alves Falcão
*Matheus Willyan Ferreira dos Santos – Email: [email protected]
Resumo: A utilização de compostos naturais como fármacos é um costume muito antigo, que representa a rica diversidade da flora brasileiro além de ser um hábito que faz parte da cultura do ser humano. Anacardiaceae é uma família botânica originária do Brasil, constituída por 80 gêneros e aproximadamente 800 espécies. No Brasil consta a existência de 14 gêneros com 57 espécies dentre as quais uma grande variedade dessas espécies está situada no nordeste brasileiro, Pode-se destacar espécies frutíferas como o cajueiro (Anacardium occidentale), o umbu (Spondias tuberosa), manga (Mangifera indica), Ciriguela (Spondias purpurea) e o cajá (Spondias mombin) comumente utilizadas na fitoterapia e medicina tradicional, visto que sua vasta composição de metabólitos secundários que atribuem potencial farmacológico. Devido a isso, olhares científicos buscam explorar esses metabólitos, uma vez que possuem capacidades antioxidantes e antimicrobiana. Tendo o potencial de aumentar a qualidade de vida humana com a inibição dos radicais livres através dos antioxidantes naturais, e diminuindo o consumo de antibióticos sintéticos, inibindo os mecanismos de resistência bacteriana.
Palavras–chave: Anacardiaceae, Fitoquímica, Plantas Medicinais, Antioxidante, Antimicrobiano
Abstract: The use of natural compounds as drugs is a very old custom, which represents the rich diversity of Brazilian flora, in addition to being a habit that is part of human culture. Anacardiaceae is a botanical family originating in Brazil, consisting of 80 genera and approximately 800 species. In Brazil, there are 14 genera with 57 species, among which a great variety of these species are located in the Brazilian northeast. ), Ciriguela (Spondias purpurea) and cajá (Spondias mombin) commonly used in phytotherapy and traditional medicine, since its vast composition of secondary metabolites that attribute pharmacological potential. Due to this, scientific eyes seek to explore these metabolites, since they have antioxidant and antimicrobial resources. Having the potential to increase the quality of human life with the influence of free radicals through natural antioxidants, and observing the consumption of synthetic antibiotics, inhibiting the interruption of bacterial resistance.
Keywords: Anacardiaceae, Phytochemistry, Medicinal plants, Antioxidant, antimicrobial
INTRODUÇÃO
O Brasil possui uma vasta extensão territorial, consequentemente uma flora bastante diversificada, rica em uma vasta diversidade de espécies, entre as quais pode-se destacar as que possuem propriedades fitoterápicas, que representam uma importante parte da cultura que foi herdada de povos nativos da américa latina (1). Muitas dessas espécies foram incorporadas na etnofarmacologia a vários anos, fornecendo um gama de substâncias utilizadas na medicina contemporânea por todo o mundo (2). Em comunidades rurais, fazem o uso adequado de extratos vegetais diariamente no tratamento de diversas patologias, na forma de chás, compressa, banho, infusão, decocção e gargarejo, visando uma melhoria na qualidade de vida da população, evitando o uso excessivo de medicamentos sintéticos, que em alguns casos pode surtir efeitos colaterais (3).
A família Anacardiaceae compreende um grupo de espécies de angiospermas constituída por +/- 80 gêneros e mais de 800 espécies, encontradas principalmente em regiões de clima tropical e subtropical, podendo ser encontradas também em regiões de zona temperada (4). O reconhecimento das espécies ocorre através do reconhecimento da morfologia do endocarpo, mas devido às dificuldades do encontro de exemplares fósseis desta estrutura, retarda a avaliação sistemática dos mesmos (5). Essa família possui grande importância econômica devido aos seus frutos e pseudofrutos serem comestíveis são eles: seriguela (Spondias purpurea), manga (Mangifera indica), cajá (Spondias mombin) cajú (Anacardium occidentale), umbu (Spondias tuberosa) e seus troncos são utilizados como ornamentos ou manipulados em artesanato (6).
A etnofarmacologia investiga os metabólitos secundários de caráter natural, sendo considerados como uma grande fonte de antioxidantes e antimicrobianos, pois possui presenças de alguns compostos fitoquímicos (tanino, flavonóides, saponina, alcalóides e fenólicos) e uma variação de atividades biológicas (7). Devido a essas propriedades estas espécies são vistas no campo biotecnológico por fornecerem substâncias naturais de alta eficácia, tendo o potencial de fornecer atividades antimicrobianas e antioxidante.
O desenvolvimento de novos antibióticos demanda tempo e investimento financeiro, devido a facilidade dos microrganismos desenvolverem facilmente mecanismos de resistência, sendo assim o uso de extratos vegetais torna-se uma opção, visto que, age diretamente no microrganismo, desprezando o mecanismo de resistência (8). Já existe trabalhos na literatura que comprove a ação antimicrobiana de espécies da família em questão, são eles: S. mombin (9), Rhus vulgaris (10), Spondias pinnata (11) e Spondias purpurea (12), todas essas espécies citadas comprovaram atividades antimicrobiana em diferentes cepas bacterianas e fúngicas.
Além da capacidade antimicrobiana, os extratos vegetais das espécies de anacardiaceae possuem também atividade antioxidante contra radicais livres naturais e sintéticos (13). Na literatura, algumas espécies já são vistas com possível potencial antioxidante, são elas Spondias mombin (14), Schinopsis brasiliensis (13), Spondias purpurea (15) e Spondias tuberosa (16), todos os autores investigaram a capacidade antioxidante e comprovaram a atividade.
A presente revisão buscou investigar atividades etnofarmacológicas de variadas espécies pertencentes à família Anacardiaceae, conferindo enfoque nas suas capacidades antimicrobiana e antioxidante, abordando diferentes trabalhos já existentes na literatura. Alguns exemplares destas espécies podem ser conferidos na figura 1.
METODOLOGIA
Com o intuito de analisar a literatura referente à capacidade antioxidante e antimicrobiana de espécies vegetais da família Anacardiaceae, foi realizado um estudo do tipo secundário, a partir da revisão descritiva e qualitativa da literatura nas bases eletrônicas de dados: Google Acadêmico e Scientific Electronic Library Online (Scielo). A consulta aos Descritores em Ciências Biológicas (DeCB) identificou as seguintes palavras-chave: antioxidante, antimicrobiana, vegetais e anacardiaceae. O critério de inclusão adotado foi a abordagem do tema pesquisado, que incluiu a seleção de 53 artigos, dos quais 42 foram utilizados na elaboração do trabalho, entre os anos de 2007 e 2022. Foram excluídos artigos sem relevância científica e que não estivessem na língua portuguesa ou inglesa.
ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE ESPÉCIES DA ANACARDIACEAE E SUAS APLICAÇÕES
Os radicais livres são moléculas instáveis e reativas, que possuem seus elétrons da última camada incompletos, facilitando a interação com as moléculas vizinhas (16). A produção de energia nas mitocôndrias é um dos principais meios de liberação de radicais livres endógenos. Dessa forma, esses elementos são liberados continuamente durante a atividade metabólica da célula (17, 18).
As espécies reativas de oxigênio (ROS) são radicais livres derivados do oxigênio, provenientes de reações metabólicas normais, alguns de seus exemplos são: O2 (oxigênio molecular), O2– (ânio superóxido), HO2 (radical hidroperoxila) e o OH∙ (radical hidroxila). Essas moléculas reativas podem causar danos nas células, levando inclusive à apoptose (19, 20).
Os antioxidantes são substâncias que conseguem eliminar ou neutralizar os radicais livres, através da doação de elétrons para a camada que se encontra desemparelhada (21, 22).
O nosso corpo produz antioxidantes naturais, como superóxido dismutase (SOD), ácido úrico, glutationa, transferina, catalase, entre outros (23, 24) O estresse oxidativo no organismo ocorre devido ao desbalanceamento de radicais livres e antioxidantes, em que os radicais estará em maior número (18). Nesses casos, é importante que o organismo adquira antioxidantes na sua dieta (vitamina A, E e C, flavonoides e carotenoides), a fim de neutralizar os radicais livres (25). Apesar dos benefícios oferecidos pelos antioxidantes naturais e seu grande potencial no combate aos radicais livres, eles ainda são pouco evidenciados.
Estudos com diferentes espécies da família Anacardiaceae já comprovam atividade antioxidante das mesmas. LIMA-SARAIVA et al., (2017) (13) utilizou o extrato etanólico de S. brasiliensis, e encontrou na composição alto teor de flavonoides e taninos, confirmando o potencial antioxidante da espécie. Pistacia terebinthus planta aromática, no qual seus frutos são utilizados na Turquia como café. Nos trabalhos de Uysal et al. (2022) (26) mostrou que o extrato metanólico da espécie obteve uma boa atividade antioxidante natural. Nos trabalhos de Baptista et al. (2020) (27), Siracusa et al. (2020) (28), Souza et al. (2017) (29) Sruthi, Roopavathi e Naidu (2023) (30) no qual utilizaram uma das espécies mais conhecida da família anacardiaceae, Anacardium occidentale, de nome popular cajueiro, no qual todos os estudos citados acima obtiveram sucesso nos testes de atividade antioxidante. Apesar da comprovação da atividade antioxidante, todos os estudos citados não aprofundaram os estudos para possíveis aplicações, porém todos eles deixam como perspectiva para isso.
ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE ESPÉCIES DA ANACARDIACEAE E SUAS APLICAÇÕES
A resistência bacteriana representa um problema de saúde pública, visto que ela está associada a cerca de 700 mil mortes por ano em todo o planeta (31, 32). A característica de resistência está envolvida nas alterações dos genes alvo de antibióticos, como resultado da integração de fragmentos, como plasmídeos. Essa transferência pode acontecer em organismos evolutivamente distantes como bactérias Gram-positivas e Gram-negativas (33).
Os antimicrobianos são medicamentos utilizados no tratamento de infecções bacterianas, com o intuito de inibir o desenvolvimento de microrganismos que possam resultar em infecções mais severas (34). Esses fármacos são compostos frequentemente utilizados em ambiente hospitalar, contudo, eles são os únicos agentes farmacológicos que não afetam somente os pacientes que os utiliza, mas também interferem de maneira significativa no ambiente por alterações microbiológicas, devido a modificações resultantes do uso excessivo de antimicrobianos (35).
Nesta perspectiva a identificação de compostos naturais adquiridos dos extratos de plantas como novos agentes antimicrobianos, tornando-se uma via alternativa no tratamento dos microrganismos multirresistentes (36). A família Anacardiaceae, além de ser explorada no ramo dos antioxidantes, também podem ser utilizadas como antimicrobianos naturais, devido a sua composição fitoquímica, no qual possuem fenóis e taninos, substâncias que apresentam propriedades defensivas contra microrganismos (12).
Viana et al. (2021) (37) fez a análise de dados e foi possível identificar atividade antimicrobiana de Anacardium occidentale frente a Staphylococcus aureus apresentando halos de inibição com extrato aquoso da espécie, contudo exemplares de Mangifera indica, não apresentam mesma eficiência frente a mesma cepa bacteriana. Ao realizar teste com Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae não foi possível identificar atividade antimicrobiana. Oliveira et al. (2021) (38) demonstrou que o extrato de Anacardium occidentale apresenta atividade antibacteriana frente a Escherichia coli, Klebsiella sp., Proteus mirabilis e Pseudomonas aeruginosa.
O cajá (Spondias mombin) foi descrito como antibacteriano sem evidências contra leveduras e bactérias de cavidade oral. Ainda apresentando atividades antivirais e antifúngicas (39). Levando em consideração a atividade antimicrobiana dos extratos, a concentração mínima de inibição (MIC) para os extratos de casca e fruto do cajá frente às cepas de Candida e periodontopatógenos foi considerada baixa, sendo a concentração mínima de inibição de 8 mg/mL, sendo que apenas o ECC apresentou potencial antimicrobiano de amplo espectro de ação bacteriostática dos periodontopatógenos testados (40).
Nesse ínterim, ainda, tem-se o caju (Anacardium occidentale) como potencial antimicrobiano para microrganismos de cavidade bucal. Dentre eles, Streptococcus mutans, Streptococcus aureus, Candida albicans e Candida utilis. Nesse viés, o óleo extraído do Anacardium occidentale apresentou maior atividade inibitória sobre a bactéria Gram positiva Streptococcus mutans, que apresenta-se dominante na cárie dentária (41). Com isso, nota-se a ocorrência de diferentes efetividades nas atividades antimicrobianas entre as espécies de Anacardiaceae. Assim, percebe-se que Anacardium occidentale apresenta atividade antimicrobiana frente a Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Klebsiella sp., Proteus mirabilis e Pseudomonas aeruginosa, além de outras bactérias da cavidade oral, como Streptococcus mutans e Streptococcus aureus. Por outro lado, a atividade antimicrobiana tanto de Spondias mombin, quanto de Mangifera indica, não apresentaram resultados satisfatórios.
CONCLUSÕES
Conclui-se que algumas das espécies existentes na família Anacardiaceae são ricas em metabólitos secundários, sendo eles flavonóides, taninos, saponinas, polifenóis e etc, com isso, acabam conferindo a capacidade antioxidante e antimicrobiano. Dentre elas, pode-se citar S. brasiliensis, Pistacia terebinthus e Anacardium occidentale com capacidade antioxidante. E, ainda, a Anacardium occidentale com potencial capacidade antimicrobiana.
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Pedro Henrique Silva de Rossi *; Juliana Audi Giannoni ; Elke Shigematsu Claudia Dorta ; Flávia Maria Vasques Farinazzi-Machado ; Alda Maria Bueno Machado Otoboni ; Renata Bonini Pardo
*Pedro Henrique Silva de Rossi – Email: [email protected]
Resumo: Produtos à base de plantas, como óleos essenciais e outros extratos, são usados há séculos devido às suas propriedades benéficas. Atualmente, seu uso é amplamente difundido através de uma variedade de indústrias e novas aplicações estão continuamente surgindo. Por esses motivos, são produzidos industrialmente em grandes quantidades e consequentemente têm potencial para atingir o meio ambiente. No entanto, os efeitos potenciais que esses produtos têm na saúde dos ecossistemas são, em sua maioria, desconhecidos. Esta revisão descreve a relevância dos óleos essenciais e extratos de plantas com ênfase na PANC Peixinho-da -Horta. No geral, e apesar de serem geralmente considerados produtos “ecológicos” e mais seguros do que os sintéticos, alguns óleos essenciais e extratos de plantas são tóxicos para organismos não-alvo. Dado o crescente interesse da indústria por esses produtos à base de plantas, mais pesquisas usando protocolos padronizados internacionais são obrigatórias.
Palavras–chave: Óleos Essenciais, Plantas PANC, Produtos à base de plantas.
Abstract: Herbal products like essential oils and other extracts have been used for centuries due to their forgiving properties. Today, its use is widespread across a variety of technologies and new applications are continually emerging. For these reasons, they are industrially produced in large quantities and consequently have the potential to reach the environment. However, the potential effects these products have on the health of ecosystems are mostly unknown. This review describes the current state of the art on the toxic effects that essential oils and plant extracts have at different trophic levels. Overall, and despite being generally considered “green” and safer than synthetic products, some essential oils and plant extracts are toxic to non-target organisms. Given the growing industry interest in these herbal products, further research using protocols from international concerns is warranted.
Key Word: Essencial oils, PANC plants, Herbal products.
INTRODUÇÃO
Plantas alimentícias não convencionais (PANC) são hortaliças ou partes sendo: raízes, tubérculos, bulbos, rizomas, caules, caules, folhas, brotos, flores, frutos e sementes, que geralmente não são consumidas como alimento, mas podem tornar-se e, assim, garantir os requisitos nutricionais necessários a população. Este consumo experimentou resgate de alimentos, pois algumas PANC estão em âmbito regional ou populações e hábitos mais tradicionais que podem ser perdidos se não forem resgatados[1].
É importante ressaltar ainda que o Brasil apresenta uma elevada extensibilidade territorial, o que permite amplificar os estudos sobre as diferentes PANC, se faz necessário incentivo ao trabalho de resgate das práticas culturais de cultivo no sentido de evitar a extinção de algumas espécies[2].
Os óleos essenciais e extratos de plantas são utilizados há séculos na medicina tradicional, na culinária (como realçadores de sabor), na perfumaria e no setor cosmético, devido às suas propriedades únicas[3]. Os óleos essenciais são líquidos voláteis obtidos por destilação de qualquer parte de uma planta ou por um processo mecânico quando obtidos a partir do epicarpo de uma fruta cítrica à temperatura ambiente.
Durante o processo de extração de óleos essenciais por destilação, também podem ser obtidos hidrolatos como subproduto. Um hidrolato é, segundo a Organização Internacional de Padronização (ISO), a água destilada que resta após o processo de destilação e geralmente é rica em componentes solúveis em água do óleo essencial[4].
As plantas produzem óleos essenciais naturalmente como metabólitos secundários em resposta ao estresse, como defesa contra ataques de patógenos e para atrair polinizadores que desempenham um papel essencial na reprodução da planta. Variações nas condições ambientais e fatores ecológicos impactam diretamente na capacidade de uma planta produzir óleos essenciais, afetando também o tipo de compostos produzidos e a qualidade e quantidade dos óleos[5].
Óleos essenciais e extratos de plantas têm sido continuamente utilizados como fonte de moléculas bioativas. Devido ao crescente interesse dos clientes por produtos naturais e mais seguros, a demanda por produtos de base natural aumentou nos últimos anos. De fato, as aplicações desses compostos derivados de plantas estão atualmente espalhadas por quase todos os setores da atividade econômica, como alimentos, agricultura, farmacêutico, cosmético e têxtil[6].
E as indústrias estão acompanhando essa demanda dos consumidores por produtos naturais. Em 2007, a produção global de óleos essenciais foi de cerca de 100 quilotons.
Em maio de 2020, uma análise do tamanho do mercado no mercado global de óleos essenciais pela Grand View Research, estimou que a demanda global por esses produtos seja de cerca de 247 quilotons em 2020, esperando-se que continue crescendo nos próximos anos, com o mesmo relatório estimando que a demanda quase dobrará até 2027 para impressionantes 473 quilotons[7].
De longe, os mais produzidos são os óleos de laranja, limão e menta.
Esses óleos representam mais de dois terços da produção total de culturas essenciais. Na UE (União Europeia), em 2016 a produção de óleos essenciais foi de cerca de 41 quilotons, embora os maiores produtores ao redor do mundo sejam países asiáticos como China, Índia e Indonésia.
Essa intensa pesquisa da comunidade científica é responsável pela descoberta de novos compostos e novas aplicações de compostos extraídos de plantas[8,9]. Entre essas novas aplicações, algumas abordam os problemas de saúde mais presentes de nossa sociedade, como, por exemplo, resistência antimicrobiana (RAM), doenças transmitidas por vetores e câncer. Recentemente, produtos naturais (incluindo óleos essenciais) têm se revelado um importante aliado no desenvolvimento de produtos com propriedades antibacterianas que podem ser usados no lugar de antibióticos[10].
Outra preocupação crescente é a resistência dos insetos, principalmente aqueles que atuam como vetores de doenças, aos pesticidas químicos sintéticos e às questões ambientais ligadas ao uso generalizado desses produtos químicos que muitas vezes resultam na contaminação de longo prazo de solos e corpos d’água, com graves consequências para os ecossistemas e a saúde humana[11].
Óleos essenciais e extratos de algumas plantas têm sido estudados quanto ao seu potencial para serem utilizados como biopesticidas que podem ter efeitos semelhantes aos defensivos químicos com a vantagem de, na maioria das vezes, apresentar alta degradabilidade no meio ambiente e serem relativamente seguros para não-alvo. Além das propriedades antimicrobianas e do potencial uso como biopesticidas, óleos essenciais e extratos de plantas também têm sido intensamente estudados por sua atividade citotóxica em células tumorais[12].
Esta revisão expressa e abrange dentro da literatura a relevância dos óleos essenciais, especialmente o Peixinho-da-Horta. Para atingir esse objetivo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados Scopus, PubMed e Web of Science em novembro de 2022, usando a seguinte string de pesquisa: Essential oil(s) AND Plant extract(s) AND Toxicity AND PANC.
METODOLOGIA
Bancos de dados como MEDLINE/Pubmed, Scielo e Google Acadêmico foram consultados.
DESENVOLVIMENTO
Peixinho-da-Horta ganha atenção como PANC, com foco em consumidores que aderem a uma alimentação saudável. Esse aumento no consumo de vegetais parece estar relacionado à busca dos consumidores por alimentos de origem vegetal devido a preocupações com a saúde e o meio ambiente, uma vez que a cadeia produtiva de alimentos de origem vegetal produz menos emissões de CO2. Também tem aumentado o uso da espécie por pequenos agricultores, que a cultivam para consumo próprio, principalmente para usos medicinais baseados na medicina tradicional[14].
O Peixinho-da-Horta é rico em proteínas, superiores aos encontrados em plantas consideradas fontes de proteínas, como a ora-pro-nóbis[15].
Um tema comum entre a soberania alimentar e os temas da PANC é a conservação da sociobiodiversidade, que reflete a relação dinâmica e complexa entre as sociedades humanas, as plantas cultivadas e os ambientes em que coexistem. As dimensões socioculturais da soberania alimentar incluem: uso das PANC; aproximação da produção e consumo de alimentos; ponte entre o urbano e o rural; valorização da agrobiodiversidade na alimentação natural e regional; respeito às tradições de todos os povos e comunidades tradicionais; identidade própria, memória e cultura alimentar[16].
Produtos naturais com ampla diversidade química e propriedades biológicas estão no centro das atenções para estudos de design e descoberta de medicamentos. A perda da biodiversidade está diretamente ligada a processos socioeconômicos que reduzem a qualidade de vida, como a fome e a pobreza extrema. Destruição de monoculturas e áreas de mata destinadas à pecuária reduz a variedade de alimentos disponíveis para consumo, principalmente nas PANC[17].
A Stachys byzantina (peixinho-da-horta)
A espécie vegetal Stachys byzantina, comumente conhecida como peixinho-da-horta (lambari pequeno, orelha de coelho, orelha de lebre) é nativa da Turquia e da Ásia, podem ser encontradas em climas temperados, entre 5 e 30 ºC[18].
No Brasil, é cultivada nas regiões sul, sudeste e centro-oeste. É uma erva perene, com cerca de 30 cm de altura, formando cachos de dezenas de propágulos. Por ser uma planta rústica, é pouco exigente e muito tolerante ao ataque de pragas e doenças. As folhas podem ser colhidas após 60-70 dias, pois o tamanho das células ultrapassa 8 cm e pode chegar facilmente a 15 cm[19].
A Stachys byzantina apesar de não ter comprovações científicas confirmadas sobre sua função terapêutica é utilizada pela população para afecções dos pulmões, asma, bronquite, dores: na barriga, no corpo, na garganta, gripe, resfriado, próstata e pneumonia [20].
Um dos pontos a serem avaliados na presente pesquisa diz respeito aos ácidos graxos. Em estudo realizado no Irã[21], realizou-se a extração de óleos essenciais da Stachys byzantina e foram encontrados vinte e quatro componentes, representando 88,5% do total do óleo, dos quais sesquiterpenos αcopaene (16,5%), espatulenol 16,1%), β-cariofileno (14,3%) e β-cubebene (12,6%) foram o os componentes principais, sabe-se que o clima, o solo e outros fatores influenciam na composição química dos vegetais, portanto será possível uma comparação.
Em um estudo conduzido por[22], avaliaram a atividade antiproliferativa de glicosídeos isolados de flavonoides e ácidos graxos de Stachyus bizantino em três linhagens celulares: C6, Hela e Vero. Ensaios mais complexos são recomendados para definir de forma mais ampla os aspectos da avaliação do potencial antiproliferativo de compostos, componentes e ácidos individuais.
A crescente demanda global por produtos naturais saudáveis derivados de plantas produtos devido à presença de vários compostos bioativos (por exemplo, compostos fenólicos) em plantas tem atraído a atenção de cientistas na busca por encontrar novas entidades com bioatividade dominante contra doenças diferentes, talvez com efeitos colaterais mínimos, mas eficácia máxima. O Peixinho-da-Hortaexibiu maior teor de fenólicos totais em comparação com outras espécies de plantas não convencionais, obtendo níveis de vitamina C e também apresentaram valores baixos, e a atividade antioxidante manteve-se moderada[23].
Novas Perspectivas no uso de óleos essenciais e extratos vegetais
Uma das aplicações potenciais mais estudadas de óleos essenciais e extratos vegetais refere-se à substituição de pesticidas químicos por biopesticidas. Esta área tem recebido atenção crescente nos últimos anos com numerosos estudos abordando a toxicidade de óleos essenciais e extratos de plantas para insetos que afetam as culturas e seu potencial uso como biopesticidas [24].
Óleo bruto das folhas
Óleo essencial é, por definição, o produto obtido por destilação, hidrodestilação ou destilação por arrastamento de vapor, de uma planta ou das suas partes, ou por um processo mecânico, sem envolvimento de calor, que decorre por prensagem, ou picotagem, do fruto e seu arrastamento pela água[25].
Uma vez extraído, o óleo essencial é separado da fase aquosa por um processo que não envolva alteração da sua composição, como, por exemplo, a centrifugação[26]. A definição de óleos refinados consiste em: óleos vegetais submetidos a processos físicos ou químicos para retirada de fosfolipídios, esteróis, tocoferóis, hidrocarbonetos, pigmentos e outros componentes não glicerídeos.
CONCLUSÕES
Os óleos essenciais e extratos de plantas são uma parte importante dos produtos derivados de plantas com uma ampla gama de aplicações em vários tipos de indústrias, incluindo alimentos, agricultura, produtos farmacêuticos, cosméticos e têxteis. Espera-se que a demanda por esses produtos aumente à medida que a demanda por produtos mais naturais continua a aumentar. Portanto, será cada vez mais importante avaliar sua segurança no ecossistema.
As folhas de peixinho-da-horta apresentam elevado teor proteico e de cinzas, mostrando-se um alimento nutritivo e com alto teor de minerais. A inserção do peixinho na alimentação se mostra promissora, pois além de possuir ácidos graxos essenciais em sua composição, tem um valor proteico elevado, bem como o teor de cinzas.
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Alessandra Zacharias Silva*
Daiana Santos de Almeida
Emmanuelle de Siqueira Leal Capellini
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
0000-0002-4673-3635
https://orcid.org/0000-0002-4673-3635#:~:text=https%3A//orcid.org,0002%2D4673%2D3635
0000-0002-6511-3626
https://orcid.org/0000-0002-6511-3626
0000-0001-8922-4622
https://orcid.org/inbox#:~:text=https%3A//orcid.org,0001%2D8922%2D4622
Resumo: Ayurveda é um sistema de medicina tradicional indiano, com diversificado uso fitoterápico. Centella asiatica é uma espécie de origem indiana, milenarmente usada para fins alimentares e medicinais. Com ampla potencialidade terapêutica, tem destacado uso no rejuvenescimento e na melhoria da memória e cognição.
Palavras–chave: Centella, Hydrocotyle asiatica L., medicina tradicional, Ayurveda, fitoterapia, triterpenos.
Abstract: Ayurveda is a traditional Indian medicine system, with diverse herbal uses. Centella asiatica is a species of Indian origin, millennia used for food and medicinal purposes. With wide therapeutic potential, it has highlighted use in rejuvenation and improvement of memory and cognition.
Key Word: Centella, Hydrocotyle asiatica L., traditional medicine, Ayurveda, Phytotherapy, triterpenes.
INTRODUÇÃO
O Ayurveda (do Sânscrito, vida (Ayur) e ciência (Veda)) é um sistema de medicina tradicional originário da Índia e do subcontinente indiano, que surgiu e se desenvolveu entre 3000 e 500 a.C., sendo considerado o sistema de saúde integral mais antigo do mundo. A partir do uso de diversas substâncias de origem natural, incluindo minerais e ervas medicinais, a medicina ayurvédica oferece terapias que podem promover e apoiar o equilíbrio em diferentes aspectos da vida (corpo, mente e alma), apresentando uma visão mais holística e personalizada do tratamento do paciente, e sendo estas aplicadas como tratamentos para as mais diversas doenças, como por exemplo alergias, diabetes, doenças autoimunes, doenças neurodegenerativas, entre muitas outras (1,2).
A medicina ayurvédica descreve o uso de diversas espécies de plantas medicinais e suas aplicações para o tratamento de diferentes distúrbios, sendo algumas destas espécies muito conhecidas e utilizadas para retardar o envelhecimento do cérebro e melhorar a memória (3). A Centella asiatica (L) Urban representa um importante papel nessa prática milenar, sendo ingrediente de várias formulações de compostos usados no tratamento de distúrbios do sistema nervoso central, da pele e gastrointestinais (4).
Apesar de o consumo desta espécie ser indicado para mais de uma finalidade, diversos estudos têm relatado as promissoras propriedades neuroprotetoras da Centella asiatica. Estes resultados, associados aos conhecimentos antigos, possibilitam a descoberta, confirmação e estudo de suas importantes propriedades biológicas, possibilitando uma maior e melhor compreensão dos mecanismos de ação e sua rica composição química (5).
Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma breve revisão acerca do potencial terapêutico da Centella asiatica, baseada na história da sua utilização dentro do Ayurveda, nas interessantes propriedades bioativas associadas ao seu uso e em sua composição em fitoquímicos e compostos bioativos.
TÓPICOS
As plantas medicinais e a medicina Ayurvédica
As plantas têm sido usadas como medicamentos desde tempos imemoriais. Muitas delas têm sido utilizadas com sucesso no tratamento de várias doenças. A lista de produtos naturais com valor terapêutico é cada vez maior, e uma infinidade de novos compostos estão sendo isolados diariamente (6). A Índia tem rica herança no uso de plantas medicinais na medicina tradicional, a exemplo da medicina ayurvédica. O Ayruveda remonta ao período da civilização do Vale do Indo (cerca de 3000 a.C.), e foi transmitido por quatro antigos textos indianos (chamados vedas, na linguagem sânscrita), que foram escritos entre os séculos 12 e 7 a.C. O Ayurveda inclui descrições de mais de 5.000 sinais e sintomas de várias doenças, com a utilização de 700 ervas e 6.000 formulações para tratá-las (3).
Segundo Mannangatti e Naidu (7), o Ayurveda é um sistema de saúde abrangente, sendo o mais antigo, e que, atualmente, é uma das medicinas tradicionais mais reconhecidas e amplamente praticadas no mundo. Farooqui et al. (3) afirma que a medicina ayurvédica é um sistema de medicina personalizado, pois baseia-se em uma visão holística do tratamento e do paciente, que promove o equilíbrio em diferentes aspectos da vida. Como vantagem, as terapias Ayurvédicas a base de plantas, geralmente proporcionam alívio, sem muitos efeitos adversos, mesmo após administração prolongada.
A Centella asiatica (L.) Urban
Baseando no seu uso etnomedicinal, a Centella asiatica (L.) Urban, apresenta amplo potencial fitoterapêutico (8). Em sânscrito, língua utilizada no sistema de medicina Ayurveda, a espécie é denominada Gotu kola, Mandukarpani ou Brahmi. Segundo Wright et al. (9), os usos medicinais da Centella asiatica (L.) podem ser verificados desde a documentação inicial do médico indiano Sushruta (1200 a.C). A espécie foi listada nos livros didáticos de Ayurveda por volta de 500 d.C., e foi oficialmente incluída na Farmacopéia Indiana no século 19, sendo recomendada para o tratamento de cicatrização de feridas, doenças da pele, hanseníase, lúpus, úlceras varicosas, eczema, psoríase, diarréia, febre, amenorréia e doenças do trato geniturinário feminino (3).
Uma das utilizações clássicas da Centella asiatica (L.) Urban no Ayurveda é nas terapias Rasayana. Segundo Joshi e Bedekar (10), Rasayana significa terapia de rejuvenescimento, e é um dos oito principais ramos do Ayurveda. As drogas e formulações Rasayana fornecem longevidade, memória, inteligência, alívio de doenças, jovialidade e força ideal do corpo e dos órgãos dos sentidos. Para Wright et al. (9), a Centella asiatica (L.) Urban tem particular relevância como uma erva “medhya-rasayana” (ou seja, que tem efeitos rejuvenescedores, aumenta a memória, previne déficits cognitivos e melhora a função cerebral). Para Bisht et al. (6) essa espécie é uma das principais ervas para revitalizar os nervos e as células cerebrais.
O uso de plantas na medicina tradicional também contribui no despertar para novas pesquisas e possíveis produtos para fitoterapia. A Centella asiatica (L.) Urban trata-se de uma Angiosperma da ordem Apiales Nakai, família Apiaceae Lindl., e do gênero Centella L., e tem como sinônimo botânico Hydrocotyle asiática (11).
Segundo a classificação do WFO (11) a Centella asiatica cresce como um rizoma herbáceo de até 50 cm de altura, com caule atingindo 25 cm de comprimento. As folhas são simples, longas pecioladas; com lâmina reniforme a orbicular e base cordiforme. Estão dispostas alternadamente em cachos basais, com margem inteira a dentada e ápice foliar arredondado. As flores incompletas, perfeitas e actinomórficas, estão dispostas em poucas umbelas floridas, sem cálice. A corola tem cinco pétalas brancas avermelhadas não fundidas. Existem cinco estames não fundidos (Figura 1). O ovário inferior tem dois lóculos cada, com uma semente. A fruta é uma sâmara marrom achatada e sulcada.
É uma espécie terrícola, e tem como preferência zonas húmidas como habitat, mas também, ocupa gramados e clareiras de florestas e campos mais secos (11). É nativa da Índia, e tem ampla distribuição geográfica, que, segundo Sabaragamuwa et al. (12), habita países de clima quente em regiões tropicais e subtropicais, como Índia, Sri Lanka, Bangladesh, Indonésia, Malásia, China, Irã, Nova Guiné, norte da Austrália e algumas partes da África e Américas.
Composição fitoquímica, compostos bioativos e potencial fitoterápico
Segundo Vanaclocha e Cañigueral(13), a droga vegetal é a parte aérea da planta. No Ayurveda utiliza-se a planta inteira, incluindo as raízes. Sabaragamuwa et al. (12) mencionam que a Centella asiatica (L.) Urban contém mais de 70 compostos fitoquímicos, que incluem terpenos (monoterpenos, sesquiterpenos, diterpenos, triterpenos, tetraterpenos), compostos fenólicos (flavonóides, taninos), alcalóides, carboidratos, vitaminas, minerais e aminoácidos. Farooqui et al. (3) afirmam que seus principais ingredientes ativos são saponinas (triterpenóides). Segundo Torbati et al. (14), foram isolados e identificados aproximadamente 124 compostos químicos, incluindo triterpenóides, compostos polifenólicos e óleos essenciais.
Lawal et al. (15) mencionam a que a Centella asiatica é rica em triterpenóides pentacíclicos principalmente saponinas e suas agliconas, que são supostamente responsáveis por seu efeito benéfico na cognição e humor. As saponinas triterpenóides são metabólitos secundários de plantas que consistem em uma estrutura de triterpenos hidrofóbicos (aglicona) ligada a uma cadeia de açúcar hidrofílica (glicona) e são sintetizados através do isoprenóide. Esses triterpenóides pentacíclicos são asiaticosídeos e madecassosídeos, além de suas agliconas, ácidos asiáticos e ácidos madecássicos (Figura 2).
O ácido asiático é um dos principais derivados de triterpeno da Centella asiatica. O ácido asiático pode ser mediado até certo ponto pela diminuição da permeabilidade da barreira hematoencefálica (16). Segundo Sabaragamuwa et al. (12), o Gotu Kola tem propriedades antioxidantes que atenuam o estresse oxidativo, com alto poder anti-inflamatório, capacidade regenerativa e tem potencial para prevenção de danos neuronais. Também possui efeito de inibição de neurotoxicidade, com propriedades antiansiedade e antidepressivas, além da capacidade de revitalizar nervos e células cerebrais.
A Centella asiatica é especialmente reconhecida por seu uso tradicional como intensificador de memória (16), sendo que estudos farmacológicos revelam uma gama de efeitos benéficos no sistema nervoso central, cardiovascular, pulmonar, hepático, renal, gastrointestinal, cutâneo e endócrino. Dentre elas, destaca-se amplos relatos de atividade neuroprotetora, cicatrização de feridas e tratamento de insuficiência venosa, bem como atividade antidiabética (14).
É amplamente utilizado como purificador do sangue e para pressão alta, atua na melhoria da memória e promove a longevidade. O chá feito de Gotu Kola pode ser muito útil para aliviar a tensão, relaxar a mente e aliviar a ansiedade. Como um adaptógeno nervino, os constituintes da Centella asiatica são capazes de aumentar a longevidade e a memória. No sistema de medicina Ayurvédica, os extratos aquosos da planta são usados para rejuvenescer e restaurar as células neurais, e para estimular o sono saudável. Possui efeito na qualidade de vida e em distúrbios como a epilepsia (14).
METODOLOGIA
O presente trabalho de revisão bibliografia baseou-se em buscas em bases de dados PubMed e no buscador Google Scholar, além de consultas a livros e documentos físicos disponíveis na internet. A busca foi realizada utilizando os termos Centella asiatica e Gotu Kola. Não foram realizados filtros. Foram também, utilizados artigos científicos e capítulos de livro.
RESULTADOS
Os resultados da presente pesquisa indicam que há vasta produção científica sobre a Centella asiatica, o que é refletido no alto número de publicações resultantes (acima de 1000 resultados) das buscas pelos termos escolhidos. Observa-se que a espécie constitui trabalhos científicos em diversas áreas do conhecimento, desde a etnofarmacologia, aspectos botânicos e ecológicos, bem como há ampla literatura sobre utilização da espécie em diversas áreas da medicina, com destaque em pesquisas relacionadas ao seu potencial neuroprotetor.
Este fato indica que a planta, além de ser bastante estudada, também apresenta resultados promissores para utilização na medicina fitoterápica, na elaboração de novos produtos à base de plantas e, novas bioaplicações destinadas à saúde humana, preventiva e curativa (Figura 3).
Segundo Joshi e Bedekar (10), por cerca de 5.000 anos, a sabedoria do Ayurveda forneceu diretrizes para retardar o processo de envelhecimento, assim, a partir da presente pesquisa, percebemos potencialidades da espécie estudada. Sabaragamuwa et al. (12) manifestam a evidência do efeito neuroprotetor da Centella asiatica e ainda define: “um neuroprotetor inclui frases-chave importantes, como prevenção da morte neuronal pela inibição de uma ou mais das etapas fisiopatológicas no processo pós dano ao sistema nervoso, proteção contra neurodegeneração e neurotoxinas, intervenções para retardar ou interromper a progressão da degeneração neural.”
Evidências de pesquisa enfatizam a natureza multifacetada da erva como um potencial agente neuroprotetor, também, como potencial fitofármaco, pois exibe neuroproteção abrangente, por meio de vários efeitos, como redução do estresse oxidativo.
Segundo Chandrika e Kumara (17), no Gotu Kola são encontrados os compostos polifenólicos, principalmente, flavonóides, beta-carotenos, taninos e vitamina C. A atividade de eliminação de radicais DPPH (2,2-diphenyl-1-picrylhydrazyl), demonstrou significativa atividade antioxidante. Os autores destacam que o potencial antioxidante na Centella (84%) é comparável ao da vitamina C (88%) e do extrato de semente de uva (83%).
Orhan (16) atribui o efeito sedativo da Centella asiatica principalmente ao brahmoside e brahminoside, os derivados triterpenos, enquanto a atividade ansiolítica foi sugerida como sendo, parcialmente, resultante da interação com os receptores de colecistocinina, um grupo de receptores acoplados à proteína G, considerados potenciais na modulação da ansiedade, nocicepção e memória.
A nível molecular, os derivados de asiaticosídeos (ácido asiático e asiaticosídeos) da Centella asiatica são capazes de reduzir a morte celular induzida por peróxido de hidrogênio, diminuir os níveis de radicais livres e inibir a morte celular neural in vitro. Possuem atividade antioxidante e podem alterar a função mitocondrial. Como a disfunção mitocondrial é um processo comum que contribui em muitas doenças neurodegenerativas, existem implicações potencialmente amplas para o uso de extratos aquosos de Gotu Kola para prevenção e tratamento dessas doenças (3).
Sun et al. (8) mencionam, também, o potencial redutor de fatores inflamatórios, equilibrando o estresse oxidativo, reparando a expressão anormal de proteínas relacionadas às mitocôndrias e, reduzindo a apoptose de células nervosas relacionadas, aumentando a densidade sináptica, melhorando a taxa de sobrevivência das células neurais.
Outro uso muito mencionado na medicina Ayurveda e no uso tradicional é seu uso para tratamentos de pele. Segundo Sun et al. (8), os triterpenos da espécie têm baixa taxa de absorção transdérmica, mas mesmo assim, experimentos in vitro e in vivo indicam que estes podem promover a cicatrização de feridas e reduzir doenças inflamatórias da pele. Os autores também apontam efeito sobre o vitiligo e a calvície. Isso se dá principalmente pelo seu potencial anti-inflamatório, antioxidante e de proteção mitocondrial contra o estresse oxidativo, o que foi consistente com a patogênese dessas doenças.
Sun et al. (8) indicam efeitos promissores da Centella asiatica e seus componentes relacionados (ácido asiático, madecassoside) para o tratamento de doenças endócrinas, como diabetes, obesidade e osteoporose. A planta é descrita, também, como tendo potencial uso no tratamento de doenças vasculares. Em pacientes com varizes, após a utilização do extrato da planta (60 mg/dia por três meses), os níveis basais de ácidos urônicos foram elevados, indicando aumento da renovação de mucopolissacarídeos.
Neste mesmo sentido, foram estudados os efeitos da fração triterpênica total de Centella asiática sobre os níveis séricos de ácidos urônicos e enzimas lisossômicas envolvidas no metabolismo de mucopolissacarídeos (beta-glicuronidase, beta-N-acetilglucosaminidase, arilsulfatase), onde observou-se redução progressiva e significativa nos níveis dos compostos analisados. Os resultados deste estudo fornecem uma confirmação indireta dos efeitos regulatórios do extrato de Centella asiatica no metabolismo do tecido conjuntivo da parede vascular (18).
Os triterpenóides da espécie também têm efeitos terapêuticos em distúrbios digestivos. Segundo Sun et al. (8), estes efeitos foram observados na melhora da fibrose hepática, colite e dano da mucosa gástrica, e redução da colonização gástrica por Helicobacter pylori. Sun et al. (8) também mostraram que os componentes eficazes da Centella asiática nas doenças respiratórias foram devido ao ácido asiático e o asiaticoside, sendo utilizado como mecanismo anti-inflamatório.
Além disso, há potencial efeito terapêutico do ácido asiático no câncer de pulmão, por possíveis mecanismos de promoção da apoptose e inibição da diferenciação de células tumorais, assim como em câncer de ovário e de mama. Por fim, Sun et al. (8), mencionam possíveis usos potenciais da Centella asiatica como protetora dos vasos sanguíneos oculares, com redução dos efeitos colaterais aos medicamentos alopáticos, promovendo alívio da fibrose e regeneração periodontal, sepse, enxaqueca, leucemia e doenças ósseas osteolíticas.
CONCLUSÃO
A Centella asiatica (L.) Urban é uma espécie botânica de rica possibilidade fitoterapêutica, de ampla distribuição geográfica e de fácil cultivo, o que a torna acessível e viável para ser utilizada em pesquisas. A validação científica das suas potencialidades descritas pelo Ayurveda é essencial para aceitação global dessa medicina tradicional. A pesquisa da espécie também contribui para melhor utilização e aprimoramento das formulações clássicas.
Mesmo após as validações científicas do seu uso, novas pesquisas devem ser feitas para descrever novos compostos, assim como para descobrir novas aplicações farmacológicas. Mais estudos clínicos também são necessários para validar os conhecimentos da medicina tradicional, pois estudos indicam que essa “erva superpotente” ainda tem muitas possibilidades de ação a serem descobertas.
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Mônica Maria de Almeida1, Henrique Almeida Fróis2, Karen Luise Lang3 e Gabriella Freitas Ferreira4
1Estudante do Curso de Doutorado em Bioquímica e Biologia Molecular – PMBqBM – UFJF-GV
2Estudante do Curso de Medicina – UNINOVE
3, 4Docente/pesquisador do Departamento de Farmácia – PMBqBM – UFJF-GV
Introdução: A frequência de micoses invasivas causadas por patógenos fungos oportunistas aumentou nas últimas décadas. Estudos recentes estimam que, em todo o mundo, infecções fúngicas matam mais de 1,5 milhões de pessoas por ano. A criptococose, uma doença infecciosa fúngica, potencialmente fatal, cosmopolita, alcançou um lugar importante na micologia clínica, devido à alta morbidade. Causada por uma levedura capsulada, Cryptococcus, a infecção ocorre através da inalação, pelo indivíduo, de esporos fúngicos presentes no ambiente, sendo Cryptococcus neoformans capaz de infectar principalmente pessoas imunodeprimidas e Cryptococcus gatti pessoas imunocompetentes. Candida albicans, um patógeno fúngico oportunista, é responsável pela maioria das infecções fúngicas graves, em mais de 90% dos casos, incluindo micoses sistêmicas. A escolha da terapia medicamentosa é baseada na forma clínica da infecção e no estado imunológico do hospedeiro. O desenvolvimento de novos fármacos precisa superar alguns desafios, pois patógenos eucarióticos, como os fungos compartilham uma relação evolutiva próxima com seus hospedeiros humanos, tornando difícil a descoberta de agentes seletivos e isentos de toxicidade. Os extratos vegetais obtidos de diversas plantas, mostram ser alternativas efetivas com potencial para desenvolver novos fármacos que poderiam ser utilizados no tratamento de tais tipos de infecções. Objetivo: Avaliar, in vitro, extratos etanólicos isolados de fontes naturais, folhas e cascas de Myracrodruon urundeuva (aroeira), cascas de Anacardium occidentale (caju), cascas de Calycophyllum spruneanum (pau mulato) e cascas de Mauritia flexuosa (buriti) frente à linhagens de C. neoformans (ATCC H99 e ATCC WM 148) e C. gattii (R265 e WM 161) e Candida (C. albicans ATCC 10231 e C. parapsilosis 22019) Metodologia: Para tal, realizou-se o teste de concentração inibitória mínima (CIM) através do método da microdiluição em caldo, conforme descrito pelo Clinical & Laboratory Standards Institute (CLSI), 2008. Foi considerada a menor concentração que inibiu 100% do crescimento microbiano visualmente. Resultados: Os extratos de cascas de aroeira e caju apresentaram um CIM de 12,5 µg/mL e o extrato obtido das folhas, 6,25 µg/mL para todas as linhagens testadas. A CIM do extrato da casca de pau mulato variou entre 25 e 50 µg/mL, para as linhagens testadas de C. neoformans e C. gatti, respectivamente; e o extrato da casca do buriti não apresentou atividade antifúngica. Conclusão: Conclui-se que dentre os extratos, as folhas e cascas de aroeira e de caju apresentaram os menores valores CIM, sugerindo que possam ser úteis como protótipo para o planejamento de novas moléculas bioativas com potencial atividade contra as linhagens testadas de Cryptococcus e Candida.
Palavras-chave: Criptococose, Candidíase, Tratamento, Produtos naturais.
Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Victor Emannuel Pereira da Silva *; Marcio Michael Pontes ; Vinicius de Araujo Oliveira ; Paloma Andrade Santos Araújo ; Alexsandro Melquiades
de Góis ; Rosângela Estevão Alves Falcão
* Victor Emannuel Pereira da Silva – Email: victor[email protected]
Resumo: As plantas são comumente utilizadas na medicina popular, em comunidades do agreste de Pernambuco, muitas pessoas fazem o uso destes recursos com fins terapêuticos, este hábito representa a da cultura das comunidades que ao longo dos anos é passado de maneira hereditária entre moradores destas localidades. Dentre as espécies utilizadas pode se destacar o manjericão (Ocimum basilicum) bastante utilizado tanto na culinária quanto na farmacologia, sua composição rica em vitaminas, óleos essenciais, e compostos secundários demonstram sua vasta aplicabilidade. Segundo estudos a planta pode ser utilizada como descongestionante, antisséptico, inseticidas e entre outros. Neste contexto, o trabalho visa analisar a composição fitoquímica do manjericão, associado a exames laboratoriais que visam investigar o potencial da planta frente a patógenos.
Palavras–chave: Manjericão, Ocimum basilicum, farmacologia, compostos naturais
Abstract: Plants are often used in popular medicine in communities from the southern wild of Pernambuco. Many people consume those resources with therapeutic purposes, an habit that represents the communities culture, which are passed by generation to generation in the region. Between the used species, a special attention can be given to the basil (Ocimum basilicum), often used in culinary and pharmacology. Its composition is rich in vitamins, essencial oils and secondary compounds, showing its wide range of aplicability. According to studies, this plant can be used as a decongestant, antiseptic, insecticide, etc. In this context, the work produced aims to analyze the phytochemical composition of the basil, linked to laboratory exams that aim to investigate the plant’s potential when it comes to pathogens.
Key Word: Basil, Ocimum basilicum, pharmacology, natural compounds
INTRODUÇÃO
A utilização de plantas medicinais é um costume que está inserido na cultura da humanidade, ao longo da história da humanidade várias plantas foram utilizadas no tratamento de diversas doenças, assim como febre, gripe, dores de cabeça e entre outras. Difundido principalmente por comunidades de zona rural, a utilização de plantas medicinais representa a grande variedade de recursos naturais com potencial farmacológico disponível no mundo, em especial no Brasil várias espécie de plantas apresentam capacidade fitoquímica, nesta perspectiva as plantas representam um vasto arsenal de compostos químicos que podem ser utilizados com fins terapêuticos pelo ser humano ( PEDROSA, 2021).
Os compostos naturais representam uma alternativa mais acessível para comunidades mais carentes, além de ser uma alternativa que reduz a utilização de fármacos sintéticos, visto a grande inserção desses medicamentos pela população. (GALVÃO 2019). A composição fitoquímica e caracterização dos compostos presentes nas plantas é dado através de estudos etnofarmacológicos, que associam o conhecimento empírico de comunidades atrelado a estudos farmacológicos em laboratório que identificam e analisam os compostos, identificando possíveis fitoterápicos. (SILVA 2020).
Dentre as espécies utilizadas no Brasil pode-se destacar o manjericão (Ocimum basilicum), pertencente à família Lamiaceae, o manjericão é uma planta originária da Ásia tropical, produtora de óleos essenciais, utilizada com diversas finalidades como antisséptico, descongestionante, digestivo vermífugo, na culinária, na produção de fármacos, bebidas, inseticidas, repelentes e na conservação de grãos. ( DO CARMO 2019 apud VLASE et al. 2014)
Neste contexto, o presente trabalho visa analisar a vasta aplicabilidade do Manjericão (Ocimum basilicum), com enfoque para atividades farmacológicas da espécie, investigando na literatura as mais diversas utilidades dos compostos secundários encontrados na planta, realizando um levantamento em bases de dados digitais, e comparando os resultados obtidos.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada para o trabalho foi desenvolvida a partir de uma revisão bibliográfica, baseada em artigos publicados sobre as propriedades químicas de compostos secundários do manjericão (Ocimum basilicum), suas atividades biológicas e a descrição botânica da planta. A pesquisa foi realizada na base de dados do portal periódico da CAPES, utilizando operadores booleanos como AND, OR e NOT. contendo as palavras chaves Ocimum basilicum e manjericão. Foram selecionados apenas artigos no intervalo de tempo de 2012 a 2022.
DESCRIÇÃO BOTÂNICA
O Manjericão (Ocimum basilicum) pertencente à família Lamiaceae, segundo (ALVES, 2015)(1), é uma planta originária da Ásia tropical e foi introduzida no Brasil pela colônia italiana, que caracteriza-se com um subarbusto anual ereto e ramificado, contendo entre 30 – 35 cm de altura. (figura 1)
O manjericão é uma planta medicinal muito famosa devido a sua composição química de óleos essenciais, muito usada na medicina popular. Tornou-se importante na sociedade por apresentar atividades biológicas, além de ser famosa na culinária e por ser uma planta aromática. (Costa et al., 2009 apud Freire, 2014)(2).
COMPOSTOS ESPECIALIZADOS
O estudo dos compostos especializados é importante para entender as propriedades bioativas conhecidas da planta e investigar possíveis novos potenciais a partir do resultado da caracterização e isolamento de substâncias químicas da planta.
(Veloso et. 2014)(3) identificou dois constituintes majoritário presente em óleos essenciais de amostras, foram eles: Monoterpenos (linalol) majoritário em cultivares e fenilpropanoide ((E)-cinamato de metila), majoritários em nas cultivares silvestres. Outros compostos encontrados foram os sesquiterpenos E-cariofileno e α-bergamoteno, o monoterpeno 1,8-cineol e o sesquiterpeno oxigenado estragol.
Segundo (Ferreira, et al. 2017)(4) Em sua pesquisa com introdução de oxigênio para extração de óleo do manjericão, no qual obteve uma melhor aproveitamento. Foram encontrados monoterpenos e sesquiterpenos em seu óleo essencial, com destaque para o linalol (1) e eugenol (2) (figura 2), que tiveram um aumento de 3,34% em relação à extração sem oxigênio.
Majdi et al (2020)(5) realizou uma caracterização fitoquímica de Ocimum basilicum através de cromatografias líquida e gasosa. Encontrou sete ácidos cafeicos e derivados (dímeros, trímeros e tetrâmeros), ácido rosmarínico e cinco flavonoides, principalmente derivados glicosídicos de quercetina. O ácido rosmarínico foi o composto fenólico majoritário enquanto o linalol foi o composto volátil predominante.
Akoto et al (2020)(6) Fez a caracterização fitoquímica dos extratos etanólico e hexânico e também de uma amostra pulverizada do pó dos frutos de Ocimum basilicum, encontrou a presença de diterpenos, flavonóides, glicosídeos, fenóis, saponinas, esteróides, taninos e terpenóides em todas as 3 análises, e encontrou alcalóides na amostra pulverizada e no extrato etanólico.
Nadeem et al (2022)(7) analisou a composição fitoquímica dos extratos aquoso, etanólico, hexânico e diclorometano. Observou a presença de alcalóides, flavonóides, fenóis, taninos, esteróides e glicosídeos no extrato aquoso. No extrato etanólico obteve saponinas, taninos, fenóis, flavonóides e esteróides. No extrato hexânico observou a presença de Flavonóides fenóis, esteróides, Saponinas, Taninos, Terpenóides e glicosídeos. No extrato diclorometano observou flavonóides, fenóis, esteróides, taninos e glicosídeos.
Chenni et al (2016)(8) comparou a extração por micro-ondas sem solvente (SFME) e hidrodestilação convencional (HD) para a extração de óleos essenciais de Ocimum basilicum. Ambos os óleos essenciais apresentaram 65 compostos e tiveram como componentes majoritários linalol (43.5% SFME; 48.4% HD), metil chavicol (13.3% SFME, 14.3% HD) e 1,8 cineol (6.8% SFME; 7.3% HD). Sendo assim os principais componentes dos óleos foram monoterpenos e fenilpropanóides (figura 3).
Romano et al (2022)(9) avaliou a quantidade de ácidos fenólicos e compostos voláteis de extratos das folhas de duas variedades de Ocimum basilicum a variedade italiana clássica e a genovesa, obtidos por meio do método de extração, utilizando CO2 supercrítico+10% de etanol e outro controle usando etanol 100%. Os extratos controle apresentaram maior quantidade de ácidos fenólicos em comparação com o extrato de CO2 supercrítico, e a variedade genovesa teve maior conteúdo total de fenólicos que a italiana clássica. Os principais compostos voláteis encontrados foram da classe dos terpenos, principalmente monoterpenos e sesquiterpenos. Sendo os seguintes encontrados em maior quantidade: linalol, eugenol, trans-α-bergamotene e eucaliptol para ambos os extratos. A variante italiana teve maiores valores de linalol e menores valores de eugenol, enquanto a variante genovesa teve valores um pouco menores de linalol e maiores de eugenol comparado à variedade Italiana clássica. O autor indica uma relação inversamente proporcional entre o eugenol e o linalol.
Ahmed (2019)(10) investigou a composição química de três tipos de manjericão testados em locais diferentes do Egito. Assiut, Minia e BeniSuef. A análise com o método de GC-MS do óleo essencial do manjericão Assiut, encontrou 33 compostos diferente no total (93,75%) sendo majoritário: linalol (31,65%), estragol (17,37%), cinamato de metila (15,14%), biciclo sesquifelandreno (6,01%), eucalipto (4,04%), α
-bergamoteno (3,94%), eugenol (3,59% ), γ-cadineno (2,42%) e germacreno D(1,56%). 31 composto encontrados do manjericão da Minia,: representando 93,20% do óleo total. Compostos majoritários: Linalol (28,18%), estragol (16,97%), cinamato de metila (13,39%), eugenol (7,33%), biciclo sesquifelandreno (6,83%), eucaliptol (4,73%), α
-bergamoteno (4,20%), γ-cadineno (2,64 %) e germacreno D (2,41%). 34 Composto de óleo essencial para o manjericão BeniSuef, representando 97,27%. Compostos majoritários: foram linalol (27,64%), estragol (15,96%), cinamato de metila (10,48%), biciclo sesquifelandreno (7,01 %), eucaliptol (5,48%), α-bergamoteno (4,52%), γ-cadineno (3,26%), eugenol (2,78%) e germacreno D (2,37%). concluindo que houve uma variação nos três tipos.
O. basilicum se mostra como uma rica fonte de ácidos fenólicos, fenilpropanóides, flavonóides, monoterpenos, sesquiterpenos. Com os compostos voláteis mais abundantes sendo o linalol, eugenol e estragol. Pesquisas mais aprofundadas se fazem necessárias para o isolamento e estudo mais focal desses compostos.
ATIVIDADES BIOLÓGICAS
Pitaro et al (2012)(11) identificou o potencial antioxidante de extratos etanólicos e aquosos de manjericão (Ocimum basilicum), em óleo de soja, e identificou que proporcionou maior estabilidade oxidativa, quando aplicados em óleo de soja na concentração de 2.000 mg kg-1
Segundo Freire (2014)(2) o óleo essencial de Ocimum basilicum não teve ação bactericida contra Streptococcus mutans, mas teve contra Staphylococcus aureus, com concentração bactericida mínima de 36 mg/mL.
Magara et al (2022)(12) estudou a variação de biomarcadores de estresse oxidativo em trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss) de criatório, a partir da suplementação alimentar da ração comercial das trutas com resíduos da extração de óleos essenciais ou fluidos supercríticos de Ocimum basilicum. O trabalho chegou à conclusão de que a suplementação máxima recomendada é a de 0,5%, onde apresentou redução de biomarcadores de estresse oxidativo. Concentrações maiores que essas são perigosas para os peixes pois podem prejudicar a função de enzimas.
Majdi et al (2020) (5) analisou em seu trabalho o potencial bioativo e do extrato hidroetanólico de Ocimum basilicum como antioxidante, antimicrobiano, citotóxico e anti-inflamatório. Além do extrato hidroetanólico, também foi avaliado o potencial antioxidante da infusão (extrato aquoso) de O. basilicum usando os testes de inibição de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) e o ensaio de inibição da hemólise oxidativa (OxHLIA). O. basilicum mostrou melhor atividade antioxidante na inibição de TBARS quando comparados com o antioxidante sintético Trolox em ambos os extratos. A infusão apresentou valores inibitórios mínimos menores que o extrato hidroetanólico para esse teste, (8.9 ± 0.4 μg/mL) enquanto o extrato apresentou (23.8 ± 0.8 μg/mL), o Trolox apresentou (139 ± 5μg/mL). Esse melhor desempenho da infusão se repete no teste de OxHLIA, atrasando mais a hemólise dos eritrócitos do que o extrato e em concentrações menores (27.6 ± 0.9) enquanto o extrato teve 48 ± 2. Ambos foram melhores que o Trolox (85 ± μg/mL). Esse estudo revela o alto potencial antioxidante da infusão de O. basilicum.
O potencial antimicrobiano de Ocimum basilicum, foi avaliado frente às bactérias Gram-negativas Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae Morganella morganii, Pseudomonas aeruginosa, Proteus mirabilis, e Gram-positivas Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), Listeria monocytogenes, Enterococcus faecali. o extrato hidroetanólico e o extrato aquoso apresentaram atividades bacteriostática mas não bactericida, ou seja apenas inibiu o crescimento das cepas bacterianas testadas mas não as matou. A exceção foi P. mirabilis cujo crescimento não foi inibido. O autor associa esse potencial à presença de ácido rosmarínico como um dos compostos majoritários no extrato (figura 4).
Ocimum basilicum mostrou citotoxicidade de 50% ou mais de inibição da proliferação frente a 3 das 5 variedades de células tumorais com concentrações variando entre 273 ± 14 μg/mL a 322 ± 6 μg/mL. Não apresentou atividade anti-inflamatória.
.Akoto et al (6) (2020) avaliou as atividades antioxidante, anti-helmíntica e anti-inflamatória dos extratos etanólico e hexânico de O. basilicum. Ambos os extratos apresentaram atividade antihelmíntica dependente da concentração, quanto maior a concentração, maior a atividade antihelmíntica, foram avaliadas concentrações entre 250 e 5000 μg/mL. Os testes indicaram que os extratos foram mais eficazes do que o medicamento antihelmíntico Mebendazol em todas as concentrações testadas. O extrato etanólico teve melhor desempenho que o hexânico, possivelmente pela presença de alcalóides que estão ausentes no extrato hexânico. A atividade anti-inflamatória foi testada pela capacidade dos extratos de prevenir a desnaturação da albumina, ambos os extratos mostraram atividade anti-inflamatória dependente da concentração. As concentrações testadas foram entre 1000 e 5000 μg/mL. Os resultados se mostraram significativamente melhores do que os do fármaco de referência (aspirina). Ambos os extratos mostraram capacidades antioxidantes nos testes de DPPH (Radical Scavenging Capacity) e de Ensaio de eliminação de radicais de peróxido de hidrogênio.
Nadeem et al (2022)(7) avaliou a citotoxicidade do extrato aquoso de O. basilicum. A citotoxicidade foi avaliada utilizando artêmias (Artemia salina) em três estágios de desenvolvimento (Growth stage-GS), GS-1 (58 dias de crescimento), GS-2 (69 dias de crescimento e GS-3 (93 dias de crescimento). Os testes utilizaram 3 concentrações do extrato, 10 μg/mL, 100 μg/mL e 1000 μg/mL. A concentração de 10 μg/mL mostrou letalidade máxima na fase GS-3, com 13.3 ± 0.33% e mínima na fase GS-1 com 6.66 ± 0.02% de letalidade. A concentração de 100 μg/mL teve letalidade máxima de 13.3 ± 0.67 na fase GS-3 e mínima na fase GS-3 com 6.66 ± 0.34% de letalidade. A concentração de 1000 μg/mL teve letalidade máxima na fase GS-1 com
26.7 ± 3.34% e mínima na fase GS-2, com 8.91 ± 0.10%. Para controle positivo foi utilizado o etoposídeo que teve letalidade mínima de 73.2 ± 0.21 na concentração de 10 μg/mL e de 100 ± 0.01 nas outras concentrações. Sendo assim, o extrato aquoso de O. basilicum não apresentou toxicidade notável em nenhuma das concentrações testadas.
Chenni et al (2016) (8) investigou o potencial antimicrobiano dos óleos essenciais extraídos por micro-ondas sem solvente (SFME) e hidrodestilação convencional (HD) de O. basilicum frente a duas bactérias Gram-positivas, Staphylococcus aureus e Bacillus subtilis e duas bactérias Gram-negativas, Escherichia coli and Pseudomonas aeruginosa, and uma levedura: Candida albicans. O Extrato HD teve concentrações inibitórias mínimas (MIC) maiores que o SFME. Sendo que para as bactérias gram positivas O HD teve 25μL/mL de MIC e 30 μL/mL para as gram negativas e 40 μL/mL para Candida albicans . Enquanto o SFME teve MIC de 18 μL/mL para as bactérias gram positivas e 25 (Escherichia coli) e 20 (Pseudomonas aeruginosa) para as duas bactérias gram negativas e 30 μL/mL para a levedura. Em relação a inibição em placa Petri, a Staphylococcus aureus foi a mais sensível contra os extratos, apresentando as maiores zonas de inibição (33–38 mm) e a mais resistente contra os extratos foi a E. coli com as menores zonas de inibição (26–22 mm). A levedura teve zonas de inibição de (34–31 mm). Ambos os extratos apresentaram boa atividade antimicrobiana, com o extrato SFME levemente mais efetivo com MIC menores. Os extratos tiveram boa eficácia contra todos os microrganismos, mas foram mais efetivos contra as bactérias gram positivas.
CONCLUSÕES
O. basilicum é uma planta muito importante para a farmacologia pois seus compostos secundários atribuem à planta enorme potencial bioativo. Potencial que abrange uma vasta gama de possibilidades de aplicação, seja na piscicultura, produção de fármacos, medicina complementar etc.
Seus compostos secundários de extratos de solventes orgânicos se destacam principalmente pelo seu potencial antioxidante e presença de ácidos fenólicos e flavonóides, enquanto seu óleo essencial se destaca pelo seu potencial antimicrobiano e de aplicação in vivo contra o estresse oxidativo. A maior parte de sua composição consiste principalmente de terpenóides e fenilpropanóides..
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Universidade de Pernambuco e aos órgãos de fomento CNPq e FACEPE
REFERÊNCIAS
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Givaldo Gabriel Alves da Silva *; Gisele Nayara Bezerra da Silva ; Rosângela Estevão Alves Falcão ; Vladimir da Mota Silveira Filho
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
Resumo: Os radicais livres são moléculas reativas e instáveis provenientes de reações metabólicas, em que seu excesso contribui para o desenvolvimento do estresse oxidativo, podendo intensificar patologias cardiovasculares, neurodegenerativas e carcinogênicos. Os antioxidantes agem no combate contra esses radicais livres, fazendo com que essas moléculas reativas, sejam neutralizadas. Terapias utilizando antioxidantes naturais têm se tornado relevantes devido a sua baixa toxicidade. Este trabalho buscou avaliar a capacidade antioxidante do cajueiro (Anacardium occidentale) e do umbuzeiro (Spondias tuberosa). Para isso, foram analisados diferentes extratos etanólicos destas plantas: casca e folha do cajueiro (CC e CF) e casca e fruto do umbuzeiro (UC e UF). Os extratos foram submetidos ao teste de captura de radicais livres (ABTS+), avaliação da atividade hemolítica e ensaio de proteção ao DNA frente a um agente oxidante. Foi observado que todos os extratos possuem uma atividade sequestradora de elétrons acima de 70% nas concentrações testadas. Além disso, todos os extratos apresentaram um percentual de hemólise abaixo de 40%, indicando baixa toxicidade à membrana plasmática. Porém, nenhum extrato apresentou ação protetora contra o dano oxidativo ao DNA. Inclusive, os extratos CC, CF e UF em concentrações mais elevadas promoveram a degradação total ou parcial do DNA. Dessa forma, as espécies A. occidentale e S. tuberosa possuem compostos com grande potencial antioxidante, mas que necessitam de estudos mais aprofundados em relação a sua interação com outras moléculas orgânicas.
Palavras–chave: Anacardiaceae, atividade hemolítica, DNA, oxidação, radicais livres.
Abstract: Free radicals are reactive and unstable molecules resulting from metabolic reactions, in which their excess contributes to the development of oxidative stress, which can intensify cardiovascular, neurodegenerative and carcinogenic pathologies. Antioxidants act in the fight against these free radicals, causing these reactive molecules to be neutralized. Therapies using natural antioxidants have become relevant due to their low toxicity. This work aimed to evaluate the antioxidant capacity of cajueiro (Anacardium occidentale) and umbuzeiro (Spondias tuberosa). For this, different ethanol extracts of these plants were analyzed: cajueiro bark and leaf (CC and CF) and umbuzeiro bark and fruit (UC and UF). The extracts were submitted to the free radical capture test (ABTS+), evaluation of hemolytic activity and DNA protection assay against an oxidizing agent. It was observed that all extracts have an electron scavenging activity above 70% at the concentrations tested. In addition, all extracts showed a percentage of hemolysis below 40%, indicating low toxicity to the plasma membrane. However, no extract showed protective action against oxidative DNA damage. Even the CC, CF and UF extracts at higher concentrations promoted total or partial DNA degradation. Thus, the species A. occidentale and S. tuberosa have compounds with great antioxidant potential,
Key Word: Anacardiaceae, hemolytic activity, DNA, oxidation, free radicals.
INTRODUÇÃO
O estresse oxidativo no organismo ocorre devido a produção descontrolada dos radicais livres. Eles são moléculas ou átomos que possuem elétrons livres, onde a orbital externa está desemparelhada e são provenientes de fontes exógenas, como radiações, cigarros, dietas, medicamentos, entre outros (1,2), porém podem ser derivados a partir das vias endógenas, como subproduto do metabolismo (3).
Os radicais livres são consequências do processo de oxidação-redução, que faz com que uma molécula perca ou ganhe elétrons na sua última camada, tornando-a instável (4). Essa instabilidade pode ser responsável pelo processo de degradação de moléculas, provocando a morte celular (5,6). Terapias utilizando antioxidantes naturais ganharam importância no tratamento de doenças devido à baixa toxicidade, quando comparados aos antioxidantes sintéticos, que podem ser prejudiciais à saúde, provocando enfraquecimento muscular, perda de cabelo, entre outros (7).
A oxidação alimentícia contribui para uma deterioração mais rápida do alimento, sendo capaz de mudar sua textura, bem como resultar no desenvolvimento de odores e/ou toxinas (8). O uso de agentes antioxidantes também é importante na indústria alimentícia, pois evitam a rápida oxidação dos alimentos perecíveis, aumentando sua durabilidade e vida de prateleira (9).
Devido às consequências causadas pelos radicais livres, nos últimos anos, estudos sobre atividades antioxidantes de extratos vegetais têm ganhado destaque, devido a sua origem natural, de baixo custo e fácil acesso (10,11). Várias plantas já foram testadas na busca por compostos com atividade antioxidante. Dentre elas, destacam-se as espécies que possuem alta quantidade de polifenóis, uma vez que esses compostos possuem alta afinidade e estrutura que facilitam o processo de captura de radicais livres (6).
No Brasil existe uma grande diversidade vegetal, em comparação com o restante do mundo, com destaque para as regiões Norte e Nordeste (12). O uso de plantas nativas da região do Agreste Meridional na investigação de atividade antioxidante favorece o desenvolvimento de tecnologias e compostos que possibilitam um incremento na economia local e de valorização de atividades do campo sejam elas extrativas ou de plantio.
O presente trabalho utilizou extratos vegetais de duas espécies nativas da Caatinga, Anacardium occidentale (cajueiro-roxo) e Spondias tuberosa (umbu), com o objetivo de avaliar in vitro sua toxicidade e seu potencial antioxidante. Os resultados deste trabalho podem contribuir para a indústria farmacêutica e alimentícia, possibilitando mais opções de tipos de antioxidantes, diminuindo assim as consequências provocadas pelos efeitos dos radicais livres.
MATERIAL E MÉTODOS
Extratos vegetais
Neste estudo, foram utilizadas duas espécies de plantas, cajueiro (Anacardium occidentale, tombamento 80723) e umbuzeiro (Spondias tuberosa, tombamento 80725), cadastradas na plataforma do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado. A partir dessas plantas, foram analisados quatro tipos de extratos etanólicos: CC – cajueiro casca; CF – cajueiro folha; UC – umbuzeiro casca; UF – umbuzeiro fruto. Tais extratos foram cedidos pelo grupo de pesquisa Produtos Naturais da Universidade de Pernambuco – Campus Garanhuns.
ABTS
O teste de 2,2-azino-bis (3-etilbenzotiazolina) 6-ácido sulfônico (ABTS+) (13,14,15,16), tem o objetivo de quantificar o potencial antioxidante de extratos, frente ao radical artificial ABTS+. Para a preparação do radical cátion ABTS+, foi utilizado ABTS 7 mM e K2S2O8 140 mM, deixando em repouso em temperatura ambiente, protegido da luz por 16 h. Após este período, a solução foi diluída em Etanol P.A., até alcançar uma absorbância de 0.05-0.7 em 734 nm. Em seguida, foi adicionado o extrato em diferentes concentrações (variando de 5 – 500 ug/mL), 450 uL de ABTS+ e etanol P.A., ajustando-se a um volume final de 500 uL. As amostras foram incubadas em banho ultrassônico por 6 min a temperatura ambiente. Em seguida, foram transferidas para uma microplaca de 96 poços para leitura da absorbância a 734 nm. Nesse ensaio, o TROLOX 0.1 mg/mL (6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametacromano-2-ácido carboxílico) foi utilizado como controle positivo nas concentrações de 0.5, 1.0, 2.0, 3.0, 4.0, 5.0 ug/mL. Para calcular o percentual de captura de radical livre, foi utilizada a seguinte fórmula:
Atividade Sequestradora (%) = 100 * [(Abs Controle – Abs amostra) / Abs Controle]
Ensaio de atividade hemolítica
Este foi baseado em Dacie e Lewis (17), com o objetivo de avaliar a toxicidade dos extratos em relação a membrana plasmática de eritrócitos. Para isso, foi realizada uma coleta de amostra de sangue humano tipo O+ (CEP N° 4.733.296), em tubo estéril contendo EDTA 0.1 g/dL. O sangue total foi centrifugado a 2500 rpm por 5 min e lavado três vezes com NaCl 0.9%, diluindo-se as hemácias a uma concentração de 0.5%. Diferentes concentrações dos extratos vegetais (10 ug/mL, 100 ug/mL, 500 ug/mL e 1000 ug/mL) foram adicionados às hemácias, ajustando-se a um volume final de 5 mL e incubando-se a temperatura ambiente por 1 h. Em seguida, as amostras foram centrifugadas a 2500 rpm por 5 min e o sobrenadante foi transferido para uma microplaca de 96 poços para leitura da absorbância a 540 nm. Para o controle positivo da hemólise foi utilizado TritonX-100 1%. Ao final da leitura, realizou-se o seguinte cálculo, para determinação do percentual de hemólise provocado pelo extrato:
% = Absorbância do teste x 100% / Absorbância do controle positivo
Ensaio de proteção ao DNA
O ensaio foi baseado em Stojkova et al. (18), com o objetivo de avaliar a capacidade protetora do extrato contra um agente oxidante, na tentativa de impedir a degradação do DNA. Para a reação, foi utilizado o DNA genômico da bactéria Escherichia coli ATCC 25922, o agente oxidante (H2O2 10 mM + Fe3Cl2 500 uM) e os extratos em diferentes concentrações (0.25, 0.50, 0.75 e 1.00 mg/mL). O DNA bacteriano foi quantificado por fotometria, utilizando os valores de absorbância a 260 nm até atingir uma concentração inicial de 200 ng/uL. Os extratos e 1 ug do DNA foram incubados por 10 min em temperatura ambiente em um volume de 10 uL. Logo em seguida, foi adicionado 10 uL do oxidante, incubando-se as amostras a temperatura de 37°C por 30 min. Como controle negativo, foram utilizadas as mesmas soluções sem a presença do agente oxidante, ajustando-se a um volume final de 20 uL. Após os ensaios de oxidação e inibição da oxidação, a quantificação do DNA foi realizada de forma indireta, utilizado o sistema de fotodocumentação SmartView Pro 1100 Imager System. para calcular a intensidade da fluorescência em gel de agarose corado com brometo de etídeo. Para isso, foi utilizanda como referência, uma banda de DNA contendo 200 ng de DNA.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
ABTS
Um dos métodos mais utilizados na investigação de potencial antioxidante em plantas é a análise de ABTS que é formada a partir da oxidação com persulfato de potássio que é reduzido na presença de antioxidantes doadores de hidrogênio. Neste estudo, foi investigado o potencial antioxidante de cada extrato em diferentes concentrações (5 ug/mL a 500 ug/mL), utilizando o Trolox (6-hidroxi-2,5,7,8-tetrametacromano-ácido 2- carboxílico) como controle antioxidante padrão.
Para os extratos do cajueiro (CC e CF), foi observado que existe uma diferença percentual no potencial antioxidante de cada um deles. Analisando a Tabela 1, o extrato CC conseguiu maior captura dos radicais na concentração final de 450 ug/mL, com atividade sequestradora de 90.15%. No entanto em análise de variância fator duplo sem repetição (ANOVA) o Fator P foi igual a 0.493. Considerando um P maior que 0.05, estatisticamente não há variação entre as concentrações apontadas, o que permite afirmar que mesmo em concentrações menores como 50 ug/mL, o extrato CC apresenta o mesmo potencial antioxidante, sem que haja perda na eficácia.
Em relação ao extrato CF, foi observada uma ação antioxidante maior na concentração de 20 ug/mL, com atividade sequestradora de 90.45% (Tabela 2). Apesar da não homogeneidade das concentrações entre ambos os extratos, é possível confirmar que nas concentrações apresentadas, o extrato conseguiu inibir em mais de 80% os radicais presentes na reação. Ao submeter o resultado ao tratamento estatístico com ANOVA, observou-se um P igual a 0.510, o que indica não haver variância significativa entre as diferentes concentrações.
Ao analisar caule e folha do cajueiro, Santos et al. (19) obtiveram um percentual antioxidante maior que 50%, corroborando com os dados encontrados e ressaltando a importância desta espécie como fonte de antioxidantes naturais. De acordo com Correia, David e David (20), a inibição dos radicais livres pelos extratos das estruturas do cajueiro ocorre devido à alta quantidade de fenólicos na sua composição. Segundo Silva e Almeida (21), a atividade antioxidante se dá devido à capacidade redutora e sua estrutura química. Tal característica contribui na neutralização e captura dos radicais livres, agindo no início do processo oxidativo e evitando a propagação dos possíveis danos.
O extrato UC apresentou uma atividade sequestradora maior que 60% em todas as concentrações apresentadas na Tabela 3, onde a concentração de 450 ug/mL obteve melhor resultado (89.18%). Contudo, no teste ANOVA, o resultado de P foi igual a 0.430, indicando que não houve variância significativa nas diferentes concentrações.
Os resultados apresentados pelo extrato UF (Tabela 4), indicaram que baixas concentrações do extrato foram suficientes para atingir uma atividade sequestradora acima de 70%.
Em trabalhos anteriores, Araújo et al. (22) obtiveram um percentual antioxidante baixo na fruta do umbuzeiro (55.14%), em contrapartida ao percentual observado no galho que foi superior (68.92%). Possivelmente, na região da fruta existe uma quantidade inferior de compostos fenólicos quando comparada às outras estruturas da espécie. Por outro lado, através do teste ABTS, Brito et al. (23) identificaram uma atividade sequestradora de 98.57% na casca do fruto do umbuzeiro. Já Xavier et al. (24), utilizaram subprodutos do fruto (semente e casca) para produzir uma farinha e analisar seu potencial antioxidante. Os resultados foram promissores, pois indicaram uma alta atividade antioxidante (99.66%), devido a farinha ser rica em compostos fenólicos, além de possuir um alto teor nutricional.
Ensaio de atividade hemolítica
O ensaio de atividade hemolítica avalia a toxicidade do extrato em eritrócitos humanos, onde os resultados podem indicar seu uso seguro em seres vivos, ou mesmo recomendar limites de concentrações nas formulações propostas. Para isso, foram avaliadas diferentes concentrações dos extratos frente a uma suspensão de hemácias 0.5%.
Os dados obtidos neste teste podem ser visualizados na Tabela 5, onde os extratos de cajueiro (CC e CF) e umbuzeiro (UC e UF) resultaram num percentual de hemólise consideravelmente baixo (<40%, limite máximo aceitável). Isso permite que esses extratos possam ser utilizados em uma concentração mais elevada, sem que haja risco de toxicidade. Dentre eles, o extrato UC foi bastante promissor, pois em todas as concentrações testadas, obteve-se um percentual de hemólise abaixo de 10% e sem grandes variações, garantindo assim uma possibilidade de uso seguro e sem risco de toxicidade. Trabalhos testando atividade hemolítica nessas plantas ainda são escassos na literatura. Araújo et al. (25) testaram a capacidade hemolítica da casca do cajueiro, em concentrações semelhantes a este trabalho e adquiriu também resultados similares, comprovando assim que a ação hemolítica para casca é baixa. Nos ensaios hemolíticos desenvolvidos por Saidu et al. (26), com extrato folhas de cajueiro, o percentual de hemólise foi elevado, provavelmente por conta da alta concentração de taninos. Esses dados contradiz com o nível de hemólise detectado neste estudo (32.40%), quando utilizada a concentração de 1000 ug/mL. Ao analisar a atividade hemolítica de extratos do umbuzeiro (casca e fruto), Araújo (27) obteve também em seus resultados baixo percentual de hemólise para ambos os extratos, de forma semelhante aos resultados encontrados neste trabalho.
Ensaio de proteção ao DNA
A investigação da utilização de extratos vegetais para fins terapêuticos, apesar de ser algo que traz bastante benefício, ainda assim pode apresentar um certo grau de toxicidade. Com isso, é necessário estudos para que se comprove a baixa toxicidade dos extratos, avaliando a quantidade viável para o organismo. Uma das moléculas sensíveis aos processos oxidativos é o DNA, pois alterações em sua estrutura podem ocasionar mutações diversas, como substituição de bases, quebra da dupla-hélice, perda de interação entre DNA e proteínas regulatórias (28).
Alguns tipos de extratos de plantas vêm sendo estudados, com o objetivo de avaliar o grau de proteção ao DNA contra efeitos oxidativos (29). Na Figura 1 é possível visualizar os resultados obtidos neste ensaio para os quatro extratos.
A oxidação do DNA é um dos danos mais comuns causados pelos radicais livres, o qual irá induzir a degradação da molécula, contribuindo para doenças degenerativas (30). De acordo com Azqueta, Shaposhnikov e Collins (31), apesar do nosso organismo dispor de diversos mecanismos de reparo ao DNA, os danos provocados pela oxidação afetam um grande número bases, impossibilitando o processo de reparação efetivo do DNA.
Segundo Moreira et al. (32) e Viswanath et al. (33), o cajueiro e umbuzeiro possuem altos níveis de propriedades antioxidante. Porém, no presente trabalho, os extratos dessas espécies não garantiram proteção ao DNA frente ao agente oxidante, mesmo em diferentes concentrações. Foi possível observar ainda, que alguns extratos em concentrações mais elevadas promoveu a degradação total ou parcial do DNA (Figura 1). Por exemplo, nos extratos CC, CF e UF, a degradação ocorreu de maneira crescente, à medida que a concentração do extrato foi aumentando. Contudo, o extrato UC não promoveu degradação do DNA em nenhuma das concentrações testadas. Não há relatos na literatura sobre a ação de extratos vegetais capazes de degradar o DNA, sendo necessário uma investigação mais aprofundada sobre esse processo.
CONCLUSÕES
As propriedades antioxidantes pertencente ao cajueiro e umbuzeiro são de interesse na ciência, como também na indústria alimentícia. Os resultados obtidos neste trabalho evidenciaram que os extratos CC, CF, UC e UF apresentaram alto potencial de captura de radicais livres e baixo poder de hemólise, porém não foram capazes de proteger o DNA do dano oxidativo, causando em alguns casos a degradação do DNA. Dessa forma, o extrato UC mostra-se promissor por não apresentar toxicidade à membrana plasmática, nem ao DNA. Fica como perspectiva, a necessidade de novos testes in vitro e in vivo da ação antioxidante, além de identificar os compostos presentes nos extratos individualmente.
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Vinícius Araújo de Oliveira*; Paloma Andrade Santos Araújo ; Marcio Michael Pontes ; Nathalia Alexandre Eloy Lins ; Gisele Nayara Bezerra da Silva; Rosângela Estevão Alves Falcão
*Vinícius Araújo de Oliveira– Email: [email protected]
Resumo: O potencial químico e biológico das plantas medicinais vem sendo usado pela humanidade há muito tempo no tratamento de diversas enfermidades, a Etnobiologia estuda essa relação entre as pessoas e o uso dos recursos naturais. A planta Chenopodium ambrosioides L. é uma planta herbácea popularmente conhecida como mastruz ou erva-de-santa-maria é conhecida na medicina popular como um remédio natural para dores de estômago, vermes, gripes e tosses e etc. Sua caracterização fitoquímica indicou como classe majoritária dos óleos essenciais a dos monoterpenos, como o ascaridol. Para os extratos aquosos e de solventes orgânicos às classes mais encontradas foram as dos compostos fenólicos e flavonóides, também se encontram taninos, catequinas, alcalóides, esteróides e triterpenos. A extração dos compostos depende do solvente utilizado. Em relação ao estudo de suas atividades biológicas foram encontradas as seguintes: anti-helmíntica, inseticida, larvicida, antioxidante, antimicrobiana, antitumoral e anti-biofilme. O presente trabalho buscou por meio de uma revisão de literatura mostrar estudos atualizados do potencial bioativo conhecido de C. ambrosioides e estimular novas pesquisas sobre a planta.
Palavras–chave: Chenopodium ambrosioides, fitoquímica, etnobiologia, bioatividade
Abstract: The chemical and biological potential of medicinal plants has been used by mankind for a long time in the treatment of various diseases, Ethnobiology studies this relationship between people and the use of natural resources. The plant Chenopodium ambrosioides L. is a herbaceous plant popularly known as mastruz or herba sanctæ Mariæ is known in folk medicine as a natural remedy for stomach aches, worms, flu and coughs and so on. Its phytochemical characterization indicated monoterpenes as the majority class of essential oils, such as ascaridol. For aqueous extracts and organic solvents, the most common classes were those of phenolic compounds and flavonoids, tannins, catechins, alkaloids, steroids and triterpenes were also found. The extraction of compounds depends on the solvent used. Regarding the study of its biological activities, the following were found: anthelmintic, insecticide, larvicide, antioxidant, antimicrobial, antitumor and anti-biofilm. The present work sought, through a literature review, to show updated studies of the known bioactive potential of C. ambrosioides and to stimulate new research on the plant.
Key Word: Chenopodium ambrosioides, phytochemistry, ethnobiology, bioactivity
Muito se fala atualmente do potencial biológico e farmacológico de plantas para o desenvolvimento de novos fármacos ou como tratamento complementar ou alternativo. Esse novo olhar atencioso para as propriedades químicas e biológicas das plantas se dá tanto pelo aumento de novas tecnologia e métodos que permitem o estudo aprofundado e a caracterização desses compostos em atividades, quanto pela necessidade do desenvolvimento de novos medicamentos para os quais microrganismos patógenos e parasitos ainda não tenham resistência como afirmam Silva e Nogueira (1) e Fenalti et al. (2).
Muitas dessas plantas utilizadas são utilizadas como medicinais, pois esse conhecimento é passado por diferentes comunidades rurais e urbanas que fazem uso das plantas como tratamento complementar como afirmado por De Oliveira et al (3). Esse hábito de uso da planta como remédio na medicina popular é estudado por duas áreas da etnobiologia: a etnobotânica e a etnofarmacologia.
A etnobotânica pode ser definida como a ramificação da etnobiologia que estuda a relação entre as pessoas e as plantas que elas usam como recursos e como são utilizadas, conceito definido por Rocha, Boscolo e Fernandes (4). Já a etnofarmacologia pode ser definida como o estudo complexo do potencial bioativo de plantas e animais utilizados na medicina popular de diversas sociedades humanas, conforme Elizabetsky (5).
Dentre as plantas comumente citadas como medicinais algumas famílias se destacam, sendo uma delas a Amaranthaceae. No Brasil está representada por 145 espécies divididas em 19 gêneros segundo Fank-de-Carvalho et al (6). A principal planta medicinal dessa família é conhecida popularmente como erva-de-santa-maria, mastruz ou mentruz e de nome científico Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants e/ou o seu sinônimo Chenopodium ambrosioides (L.),Conforme os dados da plataformaReflora (7).
A Chenopodium ambrosioides é uma planta herbácea de até um metro de altura conhecida por ser utilizada na medicina popular para o combate a pulgas, piolhos, vermes, úlceras e diversas outros usos como repelente e no combate de outras enfermidades e males, como descrito por Costa e Tavares (8).
Essas diversas atividades biológicas observadas podem ser explicadas através da caracterização fitoquímica dos metabólitos secundários da planta. A investigação e identificação dos compostos secundários de Chenopodium ambrosioides e também de outras plantas possibilita o estudo da estrutura química de diversas substâncias com potencial aplicabilidade biotecnológica e bioativa. Essa avaliação química e caracterização de produtos naturais advindos de plantas contribui para o desenvolvimento e aprimoramento de diversas áreas, como a medicina, a farmacologia, a química orgânica, ciências agrárias e etc. Como afirma Braz (9) em seu trabalho.
Levando em consideração a necessidade de reconhecimento do potencial biológico, farmacológico e etnobiológico da planta Chenopodium ambrosioides, o presente trabalho busca através de uma revisão de literatura evidenciar os diversos usos medicinais e populares da planta bem como identificar os principais compostos biologicamente ativos que atribuem tais propriedades medicinais conhecidas, para com isso, demonstrar a necessidade de estudos acerca da aplicabilidade da planta em diversas áreas pois já existem estudos que apresentam a C. ambrosioides como uma excelente alternativa para usos medicinais.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada no presente trabalho foi a de revisão bibliográfica de artigos científicos publicados nos últimos dez anos (2012-2022) utilizando a base de dados pertencentes à plataforma Periódicos CAPES. Os artigos foram filtrados através da checklist do PRISMA 2020. Sendo considerados como critério de inclusão, artigos que abordassem as seguintes áreas temáticas: atividades biológicas de Chenopodium ambrosioides, caracterização fitoquímica de C. ambrosioides, etnobiologia e botânica de C. ambrosioides. Após a escolha, os revisores fizeram a comparação e triagem dos artigos, selecionando aqueles analisados como adequados e reavaliando os que não possuíam reciprocidade entre os revisores com as áreas abordadas. Sendo 18 artigos selecionados ao final. (tabela 1)
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os artigos revisados foram selecionados por meio do diagrama de fluxo PRISMA 2020 para novas revisões sistemáticas. A representação de todo o procedimento, do início até a escolha dos artigos escolhidos, pode ser analisada na imagem abaixo (figura 1):
ASPECTOS BOTÂNICOS E ETNOBIOLÓGICOS
Chenopodium ambrosioides (L.) (Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants é uma planta nativa da américa tropical e subtropical pertencente à família Amaranthaceae. É uma planta herbácea de até um metro de altura, possui muitos ramos, suas folhas são concolores, alternadas e longas com bordas denticuladas, a planta possui um forte odor muito característico, as inflorescências são de cor esbranquiçada e as sementes são abundantes e esféricas (figura 2), Conforme descrito por Félix-Silva et al (10). Possui tricomas glandulares e não glandulares no caule e nas folhas observados por Sá et al (11)
É uma planta amplamente utilizada na medicina popular na forma de chá. Costa e Marinho (12) realizaram um estudo comparando os conhecimentos sobre plantas medicinais de duas comunidades do município de Picuí – Paraíba, uma comunidade urbana e uma rural. Ambas as comunidades citaram C. ambrosioides, sendo mais citada na zona rural em comparação com a urbana. A maior parte da comunidade urbana indicou a planta como remédio para gastrite e gripe, enquanto a comunidade rural a indicou principalmente como remédio para a gastrite. A planta também foi citada por um menor número de pessoas em ambas as comunidades como remédio para úlceras e para ameba.
Freitas-Neto et al (13), realizaram uma pesquisa em seu trabalho sobre as plantas medicinais utilizadas por pessoas com tuberculose no norte do estado da Bahia. Dentre as plantas medicinais citadas pelos entrevistados, a que apareceu com maior frequência foi a Chenopodium ambrosioides, com 23 citações. Os entrevistados atribuíram às plantas medicinais o alívio dos sintomas: tosse, expectoração, dor no peito, infecção, dor no estômago e gripe.
Dantas e Torres (14) também encontraram Chenopodium ambrosioides como uma das plantas mais citadas como medicinal dessa vez em uma comunidade rural do sertão do estado de Alagoas. C. ambrosioides ficou entre as 4 plantas mais citadas entre as 21 obtidas. A parte da planta indicada foram as folhas e o método de preparo foi na forma de chá. Foi indicada para o tratamento de vermes, tosses, febre e infecções.
Santos-Lima et al (15) fizeram um levantamento sobre plantas medicinais antiparasitárias utilizadas pela etnia indígena Kantaruré da aldeia Baixa das Pedras na Bahia. A C. ambrosioides aparece novamente entre as mais citadas junto a outras plantas como babosa (Aloe vera) e a çacatinga (Croton argyrophylloides)A parte da planta utilizada foram as folhas e o método de preparo foi na forma de chá.
Dossou et al (16) investigaram as plantas utilizadas para o tratamento de picadas de cobra em Benim e C. ambrosioides aparece novamente como uma das mais relevantes na opinião dos entrevistados. O estudo cita que diferentes métodos de aplicação são utilizados para a maioria das plantas.
Vázquez et al (17) fizeram um levantamento sobre o uso de plantas medicinais em quatro comunidades ribeirinhas do município de Manacapuru – Amazonas. A Chenopodium ambrosioides teve um índice de concordância entre as 4 comunidades de cerca de 25%, sendo novamente uma das protagonistas do trabalho. 3 formas de utilização foram apresentadas, através do sumo, do chá ou xarope das folhas da planta. As recomendações de uso são contra vermes, bronquite, tosse, dor de estômago e gripe.
É perceptível pela quantidade de vezes que a C. ambrosioides foi mencionada que ela é amplamente conhecida e utilizada popularmente no tratamento de diferentes enfermidades. Na medicina popular são observadas várias indicações de usos para a Chenopodium ambrosioides, desde picada de cobras, doenças do trato respiratório e parasitos intestinais. Levando em consideração a relevância que a planta apresentou em todos os trabalhos, podemos afirmar que é uma planta muito conhecida e disseminada na medicina popular tradicional. Sendo assim uma planta com importante valor etnobiológico.
CARACTERIZAÇÃO FITOQUÍMICA
A caracterização fitoquímica pode ser feita de duas formas, qualitativa e quantitativa. A qualitativa vai indicar as classes de compostos secundários presentes na planta. Enquanto a quantitativa vai mensurar a quantidade de cada classe e especificar os compostos encontrados.
Félix-Silva et al (10) encontraram em seu estudo do extrato aquoso de Chenopodium ambrosioides os seguintes compostos secundários: gomas, heterosídeos senevólicos, mucilagens, fenóis, triterpenóides, carotenóides e alcalóides, taninos, cumarinas, esteróides.
Através de testes histoquímicos feitos em cortes transversais de lâminas foliares de Chenopodium ambrosioides, Sá et al (11) encontraram substâncias lipofílicas, óleos essenciais, oleorresinas, compostos fenólicos, amido, lignina e cristais de oxalato de cálcio.
Dossou et al (16) avaliaram a composição fitoquímica do extrato aquoso de C. ambrosioides e encontrou a presença de alcalóides, taninos do tipo catéquico, esteróides, saponinas e mucilagens.
Almeida-Bezerra et al (18) avaliaram a composição química do óleo essencial de C. ambrosioides. Encontrou 16 compostos, majoritariamente compostos da classe dos terpenos. Os dois compostos mais abundantes foram os monoterpenos α-Terpineno e o ascaridol com cerca de 54% e 15% da constituição do óleo respectivamente (figura 3).
Zohra et al (19) identificaram em seu trabalho a presença de fenólicos e flavonóides em C. ambrosioides. Dentre os extratos estudados, o extrato metanólico das folhas foi o que teve maior eficácia na extração de compostos fenólicos e flavonóides. Foram identificados os seguintes compostos flavonóides: rutina, quercetina e miricetina.
Abdulkader et al (20) avaliaram a constituição fitoquímica das folhas e caules de C. ambrosioides. Em sua análise identificou em ambos flavonoides, saponinas, fenólicos, glicosídeos, esteróides, taninos e alcalóides. Nas folhas estavam presentes glicosídeos cardíacos.
Jesus et al (21) encontraram nos testes fitoquímicos do extrato hidroalcoólico de C. ambrosioides a presença de cardiotônicos, antraquinônicos, taninos, alcalóides e flavonóides.
É notável que dependendo do método de análise e extração utilizado a composição fitoquímica de C. ambrosioides varia muito, devido a mudança de polaridade do solvente utilizado. Seu óleo essencial é rico majoritariamente em monoterpenos conhecidos por suas propriedades inseticidas e antihelmintícas. Enquanto seus extratos aquosos e hidroalcoólicos demonstraram maior presença de compostos fenólicos e flavonóides, substâncias conhecidas pela ação antioxidante. Taninos também foram encontrados em vários trabalhos (tabela 2).
Nota-se, portanto, a necessidade da utilização de técnicas de isolamento de compostos para estudos mais aprofundados sobre a bioatividade de compostos químicos de C. ambrosioides e suas aplicações em áreas como farmacologia, biotecnologia, medicina complementar e etc
ATIVIDADES BIOLÓGICAS
Dentre os artigos selecionados para a revisão de literatura, vários deles mostraram que a Chenopodium ambrosioides possui princípios ativos que exercem atividades biológicas, sendo elas: antimicrobiana, antifúngica, antioxidante, anti-helmíntica, inseticida, larvicida, anti-tumoral, anti-proliferação e anti-biofilme (tabela 3).
Almeida-Bezerra et al (18) relataram que o óleo essencial de C. ambrosioides apresenta atividade antibacteriana em concentrações de relevância clínica sobre cepas padrão de S. aureus e que para cepas de P. aeruginosa e de E. coli essa ação não se mostrou eficiente. Constataram ainda que o óleo possui atividade antioxidante moderada e que em cepas multirresistentes apresentou uma ação antibacteriana moderada frente à P. aeruginosa e nenhuma atividade para E. coli e de S. aureus. Ainda sobre o trabalho antes mencionado, os ensaios realizados exibiram potencial antifúngico em cepas de Candida albicans possuindo maior eficiência comparado com o uso do fluconazol, fármaco utilizado padronizadamente.
Vita et al (22), relataram em atividade in vivo e in vitro, que o extrato alcoólico da folha da Chenopodium ambrosioides exibiu ação anti-helmíntica frente ao nematóide Ascaridia sp., um parasita causador de infecção em codornas. A ação anti-helmíntica também foi encontrada por Monteiro et al (23) onde em sua avaliação in vitro e in vivo diferenciou a eficiência do extrato etanólico e do óleo essencial, onde no teste in vitro respectivamente o primeiro se mostrou ineficaz frente às larvas (L3) de Ancylostoma spp. parasitas de cães e o segundo atingiu o potencial eficaz na concentração de 150 μL mL-1, já a avaliação in vivo realizada com cães mostrou que no tratamento contendo óleo essencial ocasionou a diminuição do número de ovos por gramas de fezes. Com essas duas pesquisas, podemos concluir que a ação anti-helmíntica das propriedades biológicas da C. ambrosioides varia de acordo com a espécie de parasita, podendo ser eficiente em forma de extrato ou de óleo essencial.
Vite-Vallejo et al (24) buscaram descobrir a eficiência do extrato etanólico da folha e caule da C. ambrosioides contra a B. tabaci (mosca-branca) e constatou que na concentração de 6% o extrato atingiu ótima eficiência matando 93% das moscas analisadas. Em outra pesquisa, desenvolvida por Pinto et al (25), a ação inseticida também foi encontrada por extrato da mesma planta com diferentes solventes e concentrações, sendo deles o extrato hexânico possuindo ação de mortalidade em 100% das larvas L3 de Aedes aegypti. O fato da planta mostrar um grande potencial inseticida à torna muito importante, pois muitos insetos são vetores de doenças virais sendo um grande problema para a saúde pública.
De acordo com Li et al (26), a C. ambrosioides possui atividade antioxidante e antitumoral resultante da extração de Kaempferitrina, que em seu estudo foi identificada como o principal componente do extrato etanólico da planta. Estes resultados foram obtidos através da análise de que esse composto possui alta capacidade em eliminar a DPPH e capacidade moderada de limpar ABTS. Por meio de teste in vitro, essa atividade antiproliferativa da Kaempferitrina foi evidenciada em células SMMC-7721.
Analisando a atividade antibiofilme e de potencial citotóxico do extrato etanólico das folhas de C. ambrosioides frente a Estomatite protética associada a Candida albicans, um problema decorrente do uso de dentadura de acrílico, Zago et al (27) constataram que houve redução eficiente do número de células do biofilme de C. albicans e que não foi observado efeito citotóxico ou mudanças na coloração e textura da natureza, concluindo assim que futuramente essa planta pode vir a contribuir para o controle do problema anteriormente mencionado.
Existem muitos estudos que comprovam a eficácia das diversas atividades biológicas da C. ambrosioides. Apesar da sua diversidade em bioativos, estudos mais aprofundados se fazem necessários pois a planta pode trazer grandes benefícios frente a doenças que afetam a saúde pública em alta escala, a exemplo doenças arbovirais anteriormente mencionadas.
CONCLUSÕES
Chenopodium ambrosioides mostrou-se como uma das principais plantas medicinais conhecidas mundialmente, sendo um importante recurso etnobiológico. A literatura relata que seus usos populares são muitos, variando entre o tratamento de picada e doenças respiratórias até o tratamento de endoparasitas. Seu óleo essencial mostrou ser uma rica fonte de compostos secundários da classe dos terpenos, enquanto seus extratos aquosos, etanólicos e hidroalcoólicos e de outros solventes orgânicos mostraram abundância em flavonóides, alcalóides, taninos e esteróides. Pesquisas mais aprofundadas são necessárias para o isolamento de compostos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Universidade de Pernambuco e aos órgãos de fomento Facepe e CNPq.
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Capítulo de livro publicado no Congresso Brasileiro de Química dos Produtos Naturais. Para acessa-lo clique aqui.
Este trabalho foi escrito por:
Monica Aparecida da Silva *; Michelle Carlota Gonçalves ; Anderson Henrique Venâncio ; Bruna Azevedo Balduíno ; Roberta Hilsdorf Piccoli
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
Resumo: Os óleos essenciais (OE) de especiarias são eficientes antibacterianos naturais exibindo efetividade no controle de microrganismos deteriorantes e patogênicos de origem alimentar. Tais propriedades têm sido intensamente estudadas para a conservação de alimentos por ir de encontro a crescente conscientização popular sobre os riscos à saúde ligados ao consumo de conservantes alimentares artificiais químicos. Assim, o objetivo deste estudo foi determinar a concentração mínima bactericida (CMB) do OE de gengibre sobre as cepas ATCC 7644 e ATCC 15313 de Listeria monocytogenes. As CMBs dos OE foram determinadas pela técnica de microdiluição em caldo, em placas de poliestireno de 96 cavidades. O óleo essencial foi diluído em caldo de Triptona de Soja (TSB) contendo 0,6% de extrato de levedura e 0,5% de Tween 80, obtendo concentrações de 4 a 0,03%. Alíquotas de 100 μL da solução do óleo foram adicionadas ao primeiro poço de cada linha, contendo 100 μL de TSB/EL, e diluídas serialmente para obtenção das concentrações acima descritas. Alíquotas de 10 μl da cultura, contendo 108 UFC/mL foram inoculadas e as microplacas foram seladas e incubadas a 37 °C por 24 h. Após esse tempo, alíquotas foram semeadas em placas com ágar de Triptona de Soja, contendo 0,6% de extrato de levedura (TSA/EL) e incubadas a 37 °C por 24h. ao CMB do óleo essencial de gengibre foi de 4,0% para ambas as cepas da bactéria, indicando um potencial bactericida no controle de Listeria monocytogenes. Entretanto, esta é uma CMB alta, podendo influenciar em características sensoriais quando aplicado diretamente em alimentos, porém, novos estudos são necessários para avaliar a utilização do óleo essencial pela indústria alimentícia como um conservante natural alimentar.
Palavras–chave: antibacteriano, conservante natural, especiarias, Listeria monocytogenes
Abstract: The essential oils (EO) of spices are efficient natural antibacterials exhibiting effectiveness in the control of spoilage and pathogenic microorganisms of food origin. Such food preservation properties have been intensively studied in line with the growing popular awareness of the health risks linked to the consumption of artificial chemical food preservatives. Thus, the aim of this study was to determine the minimum bactericidal concentration (MBC) of ginger EO on Listeria monocytogenes ATCC 7644 and ATCC 15313 strains. The MBC was determined by the broth microdilution technique, in 96-well polystyrene plates. The essential oil was diluted in TSB containing 0.6% of yeast extract and 0.5% of Tween 80, obtaining concentrations from 4 to 0.03%. Aliquots of 100 μL of the oil solution were added to the first well of each line, containing 100 μL of TSB/EL, and serially diluted to obtain the concentrations described above.10 μl aliquots of the culture, containing 108 CFU/mL were inoculated and the microplates were sealed and incubated at 37°C/24 h. Aliquots were seeded on plates with TSA/EL and incubated at 37°C/24h. Ginger essential oil showed 4.0% MBC for both bacterial strains, indicating a bactericidal potential in the control of Listeria monocytogenes. However, this is a high MBC, which may influence sensory characteristics when applied directly to food, however, further studies are needed to evaluate the use of essential oil by the food industry as a natural food preservative.
Key Word: anti-bacterial; natural preservative; spices; Listeria monocytogenes
INTRODUÇÃO
Óleos essenciais (OEs) são reconhecidos como os compostos biológicos e ativos de plantas, como as especiarias, compondo de 1 a 17% do extrato desta planta. Em maioria, trata-se de substâncias lipofílicas, com algumas exclusões à compostos que possuem capacidade de solubilizar em água, podendo ser separados em grupos: monoterpenos, ácidos fenólicos, alcaloides, flavonoides, carotenoides e aldeídos (1).
Os agentes antimicrobianos naturais e sustentáveis surgem para suprir a exigência de consumidores que almejam a substituição dos conservantes alimentares tradicionais. O OEs de especiarias são geralmente classificados como atóxicos e possuem eficiências comprovada sobre os microrganismos, tanto in vitro como in vivo. Têm origem a partir do metabolismo de flores, folhas, raízes, cascas, frutos e sementes de diversas plantas de especiarias, formando uma combinação complexa e volátil, na maioria dos casos, sendo denominado de óleo essencial ou aromático, como é indicado na Figura 1 (2).
Quando presentes em alimentos, os microrganismos podem deteriorá-los ou serem causadores de doenças, sendo assim denominados como microrganismos patogênicos. O uso de conservantes químicos dentro da faixa definida pode garantir a segurança alimentar. Mas, a extensão exacerbada do uso destes conservantes químicos, pode potencializar um risco iminente à saúde humana. Tal fato é uma condição desafiadora, pois a indústria de alimentos tem se valido cada vez mais da utilização de agentes de conservação e antimicrobianos artificiais para inativar ou inibir o crescimento de microrganismos patogênicos e deteriorantes. Comparados aos conservantes artificiais, os óleos essenciais atingem ação antimicrobiana semelhante, no entanto, se sobressaem em seus aspectos de segurança para o consumo humano (1).
Os OEs possuem destaque por sua atividade bactericida sobre bactérias patogênicas e ação antifúngica. Dentre as plantas que apresentam essas substâncias, com concentrações baixas de óleo essencial (OE) e sabor suave, destaca-se o curry, kaempferia, louro, romã, gergelim, manga e ajowan; de aroma picante, é possível citar a pimenta, pimentão, gengibre, alho, cebola, asafetida, capim- limão, galangal maior e mostarda preta e como especiarias naturais de sabor forte, sobressaem o cravo, anis estrelado, cardamomo, erva-doce, cássia , orégano, tomilho, noz-moscada, aipo, coentro, alcaravia, endro e manjericão, dentre outros, sendo estes os três principais tipos de plantas de especiarias. Os mecanismos de ação dos OEs (Figura 2) e seus compostos sobre os microrganismos são diversificados, podendo agir em diferentes alvos celulares e inibir a produção de toxinas (1, 4, 5).
Dentre os condimentos vegetais e seus derivados estudados a fim de evitar a oxidação e deterioração dos alimentos, tem destaque o OE de gengibre (Zingiber officinale). Predomina em sua composição como composto majoritário, o monoterpeno oxigenado geranial, em concentrações variáveis, porém em torno de 25%, além de poder apresentar como constituintes o neral, o 1,8-cineol, geraniol, acetato de geranila e o monoterpeno bicíclico, canfeno, quando extraídos diretamente da planta ou predominar o alfa-zingibereno, seguido por beta-sesquifelandreno, tudo a depender da origem da planta (6).
A atuação dos compostos antimicrobianos dos óleos essenciais, pode ser mais bem evidenciada sobre bactérias Gram-positivas do que sobre bactérias Gram-negativas, em razão de sua parede celular ser rica em polissacarídeos, fator inibitório a penetração das substâncias antimicrobianas. Dentre as bactérias Gram-positivas, está a bactéria L. monocytogenes, capaz de causar a doença listeriose de letalidade em torno de 20-30% entre os acometidos. Esse e outros microrganismos patogênicos podem ser inibidos por óleos essenciais em virtude do impacto antimicrobiano propiciado por moléculas biologicamente ativas da composição dos OEs, podendo exercer sua funcionalidade antimicrobiana e inseticida na composição de embalagens, ou ainda serem utilizados na preservação de alimentos, alcançando o padrão de excelência de ação exigido pelas indústrias (7, 8, 9).
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar a capacidade do óleo essencial de gengibre em inibir o crescimento de duas cepas de Listeria monocytogenes, ATCC 7644 e ATCC 15313e determinar a sua concentração mínima bactericida (CMB).
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no Laboratório de Microbiologia de Alimentos, no Departamento de Ciências dos Alimentos da Universidade Federal de Lavras.
O óleo essencial de gengibre (Zingiber officinale) foi adquirido da FERQUIMA® Indústria e Comércio Ltda (Brasil).
As cepas empregadas foram L. monocytogenes ATCC 7644 e L. monocytogenes ATCC 15313, pertencentes ao Laboratório de Microbiologia de Alimentos/ DCA-UFLA, adquiridas da Seção de Coleção de Culturas da Divisão de Biologia Médica do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo- SP.
As culturas estoques foram mantidas congeladas em meio de congelamento (glicerol 15%, peptona bacteriológica 0,5%, extrato de levedura 0,3%, NaCl 0,5% e água destilada), até a sua utilização. Anterior ao seu uso foi confirmada a pureza das culturas, empregando-se o equipamento MALDI-TOF MS Biotyper (Bruker).
A reativação das cepas foram realizadas inoculando-se alíquotas de 1 mL das culturas estoque em tubo de ensaio, contendo 10 mL de caldo de triptona de soja acrescido de extrato de levedura 0,6% (TSB- EL) e incubação a 37 °C por 24 horas.
Após esse período, alíquota de 100 μL das culturas foram transferidas para 100 mL de TSB-EL e incubadas a 37 °C até a obtenção de cerca de 108 UFC mL-1.
A padronização do inóculo foi realizada por curva de crescimento. A densidade óptica (DO 600nm) foi monitorada juntamente com a contagem em placa de ágar triptona de soja (TSA) suplementado com 0,6% (m/v) de extrato de levedura (EL). A absorbância encontrada foi 0,385 para L. monocytogenes ATCC 7644 e 0,135 para L. monocytogenes ATCC 15313, à concentração de 108 UFC mL-1.
A concentração mínima bactericida do óleo essencial foi determinada empregando-se a técnica de microdiluição em caldo com adaptações, utilizando placas de poliestireno de 96 cavidades (10). O óleo essencial foi homogeneizados em TSB-EL, acrescido de Tween 80 (0,5%). Foram avaliadas as concentrações de 4; 2; 1; 0,5; 0,25; 0,12; 0,06; 0,03 % (v / v). Alíquotas de 100 μL de solução do óleo foram adicionadas aos poços contendo 100 μL de TSB/EL e assim sucessivamente até as concentrações serem atingidas e alíquotas de 10 μl da cultura, contendo 108 UFC mL-1 foram inoculadas e as microplacas foram seladas e incubadas a 37 °C/24 h. Após esse período, foi realizado o plaqueamento de alíquotas das culturas em TSA-EL e incubadas a 37 °C por 24 horas. Foi realizado um controle negativo, contendo TSB-EL acrescido de 0,5% de Tween 80 e o óleo essencial. A CMB foi considerada a menor concentração de óleo essencial onde não se observou crescimento em placas das bactérias. O experimento foi realizado em triplicata e três repetições.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir do exposto na Tabela 1, é possível observar que tanto para a cepa ATCC 7644, quanto para a cepa ATCC 15313, o óleo essencial de gengibre apresentou a CMB de 4%. Embora tenha apresentado ação anti-listerial, a CMB obtida é considerada elevada, podendo alterar o sabor e odor dos alimentos quando aplicados em matrizes alimentares (11).
Por ser rico em monoterpenóides hidrofóbicos, o óleo essencial de gengibre pode ter exercido ação bactericida através do seu deslocamento da fase aquosa, rumo às estruturas da membrana celular. Estando concentrado no local, os compostos dos OEs na membrana citoplasmática das células bacterianas, poderão interferir na permeabilidade da bicamada lipídica, permitindo o extravasamento dos íons, redução da concentração do ATP e alteração do pH interno, além da redução do potencial elétrico da célula, inviabilizando a sua funcionalidade correta (6).
Cutrim et al. (12) ao testarem o óleo essencial de gengibre sobre bactérias, dentre elas uma Gram-positiva, E. coli, também detectaram inibição moderada ao microrganismo.
Reis et al. (13), ao avaliarem propriedades antibacterianas de diferentes OEs contra patógenos, obtiveram como resultado a ação efetiva do óleo essencial de gengibre apenas contra L. monocytogenes, porém somente nas três concentrações mais altas, sendo estas semelhantes à deste trabalho (3,0; 3,5 e 4,0%). Isso ocorreu mesmo diante de uso de técnicas diferentes pelos autores, que usaram o método de difusão em ágar– técnica do poço, com halos de inibição que variaram de 7 a 14mm, sendo os menores diâmetros referentes as menores concentrações do OE. Desse modo fica evidente a atividade inibitória do óleo, porém de potencial fraco.
CONCLUSÕES
Verificou-se que o óleo essencial de gengibre possui ação bactericida sobre as células das cepas de Listeria monocytogenes ATCC 7644 e ATCC 15313. A capacidade do óleo essencial de inibir o crescimento bacteriano permite que ele possua potencial para ser utilizado como antimicrobiano natural na indústria de alimentos, havendo, no entanto, a necessidade de mais estudos apara adequar a forma de uso, uma vez que a concentração mínima bactericida apresentada é alta. Assim cabe observar o efeito do óleo essencial de gengibre nas características sensoriais e na vida de prateleira dos produtos em que for aplicado.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Universidade Federal de Lavras (UFLA), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas-Gerais (FAPEMIG) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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