AVALIAÇÃO DO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE MENINGITE EM TRÊS PRINCIPAIS REGIÕES METROPOLITANAS DA MACROMETRÓPOLE PAULISTA – SÃO PAULO, BAIXADA SANTISTA E CAMPINAS, 2017 A 2021
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Capítulo de livro publicado no Livro da IV Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública. Para acessa-lo clique aqui.
doi.org/10.53934/9786599965821-16
Este trabalho foi escrito por:
Tiffany Matias Gonçalves1, Andrea Gobetti Coelho Bombonatte2.
1Estudante do Curso de Especialização em Vigilância Epidemiológica em Saúde Pública – IAL; [email protected]
2Docente/Pesquisador do Depto de Tuberculose e Micobacterioses – CLR Santos – IAL.
Resumo: Devido à sua alta morbimortalidade, a meningite representa um importante problema de saúde pública. É considerada endêmica no Brasil, com alta taxa de notificação em países em desenvolvimento, diretamente relacionada a fatores socioeconômicos, condições básicas de saúde instáveis e concentração populacional. A ocorrência de surtos episódicos está associada principalmente às populações mais pobres devido à grande concentração de pessoas no mesmo espaço/tempo, habitações mal ventiladas e grande número de pessoas por dormitório. O presente estudo propôs identificar o perfil epidemiológico de meningite entre os anos de 2017 e 2021 nas três principais regiões metropolitanas da macro metrópole paulista – Baixada Santista, Campinas e São Paulo analisando as variáveis etiologia, sexo, faixa etária e grau de escolaridade. Trata-se de um estudo transversal descritivo retrospectivo baseado na análise de bancos de dados obtidos a partir do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), disponibilizados pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS). Dados demonstram que a meningite asséptica foi a etiologia com maior predominância, apresentando 66,20% (n=8.386) dos casos notificados, o sexo masculino foi o mais afetado com 56,58% (n=7.168), sendo a faixa etária de 1-4 anos com 22,81% (n=2.890) a mais acometida. Em relação ao grau de escolaridade, a doença atingiu mais a população com ensino médio completo com quase 35% nas três regiões analisadas. O perfil epidemiológico demonstrou-se semelhante sem diferenças expressivas entre si nas três regiões estudadas. É importante que a notificação compulsória seja realizada corretamente, para que não haja subnotificação dos casos de meningite, contribuindo para que a vigilância epidemiológica tenha subsídios necessários para tomada de decisão, aprimorar o manejo clínico do paciente, bem como ações de educação em saúde voltadas para a prevenção, além de melhorar a qualidade de vida da população e reduzir a mortalidade e morbidade.
Palavras-chave: MENINGITE, DOENÇA MENINGOCÓCICA, PERFIL EPIDEMIOLÓGICO, METROPOLES PAULISTAS.
INTRODUÇÃO
A meningite é uma doença cuja patogênese inclui um processo inflamatório das meninges (aracnoide, pia-máter e dura-máter) e líquido cefalorraquidiano (LCR) afetando o sistema nervoso central (SNC), podendo ser causado por processo infeccioso ou não infeccioso (ZUETER; ZAITER, 2015; DAZZI; ZATTI; BALDISSERA, 2014; TUNKEL; SCHELD, 1993).
Devido ao seu caráter endêmico e alta incidência em crianças, a meningite é considerada uma doença de grande importância pública. De acordo com o Catálogo Nacional de Notificações Compulsórias do Ministério da Saúde, a Portaria nº 204 de 2016, a doença está na lista dos agravos de notificação compulsória, que deve ser declarada por meio do SINAN (LIMA, 2017).
Embora a meningite causada por outras bactérias (MB) tenha se mantido como a principal causa de morte nos últimos anos, dados do DataSUS mostram que a meningite asséptics é a mais prevalente no Brasil, afetando principalmente homens, adultos de 20 a 39 anos e crianças de 1 a 4 anos, com níveis de escolaridade apresentando ensino fundamental completo e incompleto (MACEDO JUNIOR; NICOLETTI; SANTOS, 2021).
Fatores como zona de residência, acesso à educação e índices socioeconômicos podem influenciar no agente etiológico da doença devido a condições como a falta de acesso a itens básicos de higiene e saneamento básico (SILVA et al., 2020).
A intrincada epidemiologia da meningite é ilustrada pelas diferenças na incidência entre faixas etárias, sexos e condições socioeconômicas. Esse quadro epidemiológico complexo demonstra a tendência dos patógenos ambientais em interferir no desenvolvimento da patogênese. Dessa forma, compreender a distribuição, os subtipos e as características dos acometidos pode ajudar a esclarecer algumas dúvidas sobre epidemiologia, etiologia ambiental, eficácia da implementação de políticas públicas e outros fatores relacionados à vigilância em saúde.
Diante da relevância de se conhecer a incidência das meningites e o perfil epidemiológico do agravo em determinadas regiões do Brasil, a fim de entender o comportamento da doença em grandes aglomerados populacionais, o presente estudo buscou identificar o comportamento da patologia entre os anos de 2017 e 2021 em três em três regiões metropolitanas da macrometrópole paulista.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa de caráter transversal descritivo retrospectivo baseado na análise do banco de dados da plataforma do DataSUS, tendo como critério de inclusão os casos positivos da doença entre os anos de 2017 e 2021 nas regiões escolhidas.
Os casos foram selecionados nas informações de saúde epidemiológicas e morbidade, dentro do grupo de Doenças e Agravos de Notificação no período de 2017 a 2021 (SINAN). Dado este passo, foi escolhida a opção Meningite e como abrangência geográfica o estado de São Paulo e a região de saúde de notificação – Região metropolitana da Baixada Santista, Campinas e São Paulo – sendo analisada as seguintes variáveis: análise de frequência da etiologia da doença, frequência por sexo das pessoas acometidas, frequência pela categoria de faixa etária e grau de escolaridade das pessoas infectadas. A base de dados utiliza a seguinte classificação das etiologias: Meningite Meningocócica (MM); Meningococcemia (MMCC); Meningite meningocócica + meningococcemia (MM+MMCC); Meningite Tuberculosa (MTBC); Meningite causada por outras bactérias (MB); Meningite não especificada (MNE); Meningite Asséptica (MV); Meningite de outra etiologia (MOE); Meningite causada pela presença de Hemófilo (MH); Meningite causada por Pneumococos (MP) (SÃO PAULO, 2001).
Os dados obtidos a partir do aplicativo TABNET foram tabulados em planilhas do Microsoft 365 Excel ® para posterior uso na confecção dos gráficos e análises estatísticas através do software GraphPad. Por se tratar de dados secundários de um banco de domínio público, não foi necessário submeter o trabalho ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP). A análise estatística foi realizada pela análise de variância Two-way ANOVA com o pós-teste de Bonferroni, considerando-se significativo os valores de p com um asterisco (*) para p ajustados entre 0,01 e 0,05 e dois asteriscos (**) para p ajustados entre 0,01 e 0,001. A análise estatística e os gráficos foram obtidos pelo software GraphPad Prism® versão 5.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das três regiões metropolitanas escolhidas para o estudo, houve 12.668 casos positivos para meningite, no período de 2017 a 2021, sendo 509 notificados na região da Baixada Santista, 1.683 na região de Campinas e 10.476 notificados na região de São Paulo. Destes, 66,20% (8.386/12.668) corresponde a MV, 12,09% (1.532/12.668) a MB e 5,82% (737/12.668) a MNE.
Na Figura 1, observa-se que nas três regiões analisadas as etiologias com maior incidência são respectivamente, MV com 40,08% (204/509) na Baixada Santista, 50,68% (853/1.683) na região de Campinas e 69,96% (7.329/10.476) na região de São Paulo, MB com 24,95% (127/509) na Baixada, 21,09% (355/1.683) em Campinas e 10,02% (1.050/10.476) em São Paulo e MNE com 11,79% (60/509) na Baixada, 11,11% (187/1.683) na região de Campinas e 4,68% (490/10.476) na região de São Paulo, apresentando diferença significativa em relação aos demais tipos de meningite. Não houve diferença significativa entre os mesmos tipos de meningite em relação as regiões analisadas.
A pesquisa mostrou que os homens são os mais acometidos pela meningite do que as mulheres. Dentre uma população de 12.668 casos positivos da doença nas três regiões metropolitanas analisadas, 56,58% (7.168/12.668) correspondem ao sexo masculino, 43,4% (5.498/12.668), ao sexo feminino e 0,02% (2/12.668) foram ignorados.
No entanto, quando se compara a frequência dos casos confirmados por sexo nas três regiões analisadas, não foi observado diferença significativa entre as regiões, em que o sexo masculino na Baixada Santista apresentou 55,21% (281/509), e o feminino 44,6% (227/509); na região de Campinas o sexo masculino correspondeu a 59,24% (997/1.683) e o feminino, 40,76% (686/1.683); e na região de São Paulo o sexo masculino correspondeu a 56,22% (5.890/10.476), e o sexo feminino a 43,78% (4.586/10.476) (Figura 2).
Segundo a OMS, os homens são mais propensos a desenvolver qualquer tipo de problema de saúde, pois estão em constante atividade física em contato com o mundo exterior, o que aumenta o risco de infeção por enteroviroses. Vários fatores contribuem para o desenvolvimento de meningite na população masculina, desde a hesitação dos homens em procurar ajuda médica, a demora na procura de cuidados primários de saúde, até a falta de adesão ao tratamento para comorbidades crônicas, podendo tornar os sintomas da meningite mais graves e levar até a um quadro de óbito (SILVA GOMES et al., 2019).
Ao analisar a variável faixa etária, observa-se que na frequência de casos analisados nas três regiões as populações na faixa etária entre 1-4 anos, menor que 1 ano e 20-39 anos foram as mais acometidas pela meningite, respectivamente, com 22,81% (2.890/12.668), 17,80% (2.255/12.668) e 16,97% (2.150/12.668). Seguida das faixas etárias 40-59 anos (12,89%, 1.633/12.668) e 5-9 anos (12,01%, 1.521/12.668).
Quando se compara os casos positivos de meningite considerando-se a faixa etária em relação as três regiões metropolitanas estudadas, observa-se que a predominante foi de 1-4 anos, onde a Baixada Santista apresentou um percentual de 16,50% (84/509), Campinas 19,25% (324/1.683) e a região de São Paulo 23,69% (2482/10.476). Entretanto, não foi possível verificar diferença significativa entre as mesmas faixas etárias nas diferentes regiões, porém verifica-se significante variabilidade entre as diferentes faixas etárias (Figura 3).
É comum que crianças e adolescentes sejam o grupo com a maior tendência de desenvolvimento de um quadro de meningite, porque o sistema imunológico ainda é imaturo, resultando em uma resposta imune ineficaz. A gravidade da meningite também está diretamente relacionada com a faixa etária do paciente, preparo do seu sistema imunológico, agente etiológico responsável pela meningite, comorbidades, diagnóstico e tratamento precoce da doença, como por exemplo recém-nascidos e lactentes, que têm maior incidência de mortalidade, uma vez que seu sistema imunológico não tem capacitância de montar uma resposta efetiva contra microrganismos invasores (ZANIN et al., 2020).
Na Tabela 1 observam-se os casos de meningite segundo o grau de escolaridade da população, sendo que os grupos com ensino médio completo, da 5ª a 8ª série incompleta e 1ª a 4ª série incompleta foram os mais acometidos, nas três regiões analisadas. Sendo 9,63% (49/509) na Baixada Santista, 5,41% (91/1.683) na região de Campinas e 3,69% (387/10.476) na região de São Paulo em relação a população que apresenta ensino médio completo. Vale evidenciar que nas três regiões houve alto índice de casos que foram ignorados ou não registrados apresentando 36,35% (185/509) na Baixada, 34,64% (583/1.683) na região de Campinas e 35,61% (3730/10.476) na região de São Paulo. Vale ressaltar que as informações registradas são de suma importância e estão sendo subnotificadas, como mostra os dados referentes ao grau de escolaridade e evidencia a necessidade de manter uma abordagem preventiva do sistema público de saúde para se ter subsídios para tomada de decisão. Não foram verificadas diferenças significativas entre os casos positivos segundo grau de escolaridade entre as três regiões analisadas, evidenciando que apesar de apresentarem diferenças significativas em concentração populacional, apresentam perfil epidemiológico segundo grau de escolaridade semelhante.
Segundo Barata et al. (2020), o nível de escolaridade não está significativamente relacionado com a incidência de meningite, corroborando com os dados apresentados nesta pesquisa. Como podemos verificar na Tabela 1, indivíduos analfabetos não tiveram altos índices de desenvolvimento da patogenia, representando menores valores quando comparado a outros graus de escolaridade.
É possível observar que, apesar de diferenças significativas quanto a índice populacional e área demográfica das regiões metropolitanas do estudo, o perfil epidemiológico das meningites analisados a partir das variáveis etiologia, sexo, faixa etária e grau de escolaridade demonstrou-se semelhante sem diferenças expressivas entre si nas três regiões.
No entanto, verifica-se que quando comparadas ao perfil epidemiológico do Brasil nos anos de 2018 e 2019 descrito por Junior et al. (2021), houve uma desconformidade quanto a faixa etária mais acometida, visto que no Brasil houve maior frequência de casos positivos confirmados entre os 20 e 39 anos, enquanto nas três regiões a faixa mais afetada foi a de 1 a 4 anos, podendo demonstrar possíveis baixos índices de vacinação infantil nas regiões.
CONCLUSÃO
Pelos resultados obtidos, a meningite continua sendo uma doença de notificação compulsória de grande importância para a saúde pública no Brasil. O perfil epidemiológico demonstrou-se semelhante sem diferenças expressivas entre si nas três regiões estudadas, embora seja dependente de múltiplos fatores, desenvolvendo-se por meio de patogênese associada a alta variabilidade de patógenos envolvidos no processo sendo de etiologia infecciosa ou não.
Apesar das limitações encontradas pelo uso de dados secundários, o estudo destaca que a frequência de meningite apresenta altos números para etiologias como a meningite asséptica e a meningite bacteriana. A meningite não é uma doença fácil de erradicar devido à sua alta transmissão aérea e é prejudicada por fatores como o acesso precário ao saneamento básico e aos insumos básicos de higiene. No entanto, vemos que a vacinação é eficaz para a prevenção a longo prazo, destacando a importância de políticas públicas quanto a prevenção da doença, bem como também da agilização dos processos diagnósticos quando em casos suspeitos afim de diminuir suas altas taxas de morbimortalidades.
O estudo ainda evidenciou que recorrentemente informações de suma importância estão sendo subnotificadas, como mostra os dados referentes ao grau de escolaridade. Este ponto evidencia a necessidade de manter uma abordagem preventiva no sistema público de saúde, o que requer serviços de vigilância epidemiológica mais organizados e ativos, a fim de monitorar adequadamente o comportamento da doença e determinar os impactos na saúde da população e as respostas às intervenções.
Sugerem-se, para as regiões, estudos que possam inferir nos casos da doença como o índice de vulnerabilidade social para que se entenda como o status socioeconômico pode impactar no desenvolvimento da patogenia, a fim de que se possa pensar em políticas públicas de melhoria de qualidade de vida da população e ações de educação em saúde para lidar com a prevenção podendo trazer a redução da letalidade e morbidade da meningite.
REFERÊNCIAS
ZUETER, A. M.; ZAITER, A. Infectious meningitis. Clinical Microbiology Newsletter, v37, n. 6, p. 43-50, 2015.
DAZZI, M. C.; ZATTI, C. A.; BALDISSERA, R. Perfil dos casos de meningites ocorridas no Brasil de 2009 à 2012. Revista Uningá Review, 19(3):33-36, 2014.
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