IMPACTO DA PANDEMIA DA COVID-19 NA OCORRÊNCIA DE TUBERCULOSE NA REGIÃO DO VALE DO PARAÍBA E LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
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Capítulo de livro publicado no Livro da IV Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública. Para acessa-lo clique aqui.
doi.org/10.53934/9786599965821-31
Este trabalho foi escrito por:
Douglas Tassinari Silva Colete
Renato Pereira de Souza
Estudante do Curso de Especialização de Vigilância Laboratorial em Saúde Pública, Instituto Adolfo Lutz de Taubaté – CLR XII – IAL Taubaté E-mail: [email protected] [email protected]
RESUMO
Com o início da pandemia de COVID-19 em março de 2020, causada pelo vírus SARS-CoV-2 em março de 2020, resultou em uma crise global que afetou a saúde pública como um todo, assim como as áreas econômicas, sociais, políticos e culturais. Tendo em vista os impactos causados pela pandemia, o trabalho compara as diferenças na incidência de resultados positivos de Teste Rápido Molecular de Tuberculose (TRM-TB), bem como a quantidade de exames TRM-TB realizados pelo Instituto Adolfo Lutz de Taubaté, no período Pré-pandêmico (Março de 2018 a Fevereiro de 2020), e período Pandêmico (Março de 2020 a Fevereiro de 2022), a fim de verificar as possíveis diferenças.
Palavras-chave: COVID 19, TRM-TB, Tuberculose.
INTRODUÇÃO
Em dezembro de 2019 foi registrado na cidade de Wuhan (China) casos de pneumonia. E em janeiro de 2020 autoridades chinesas confirmaram a identificação de um novo tipo de coronavírus denominado de SARS-CoV-2, responsável pelo COVID-19. No dia 30 de janeiro de 2020 a organização mundial da saúde, declarou que o surto de COVID- 19 era uma emergência de importância internacional. E em 12 de março de 2020 foi caracterizado como uma pandemia (CIOTTI et al., 2020).
Com o surgimento do COVID-19 pouco se ouviu a respeito das demais doenças, pois por se tratar de uma doença desconhecida, com alta capacidade de transmissão, atingindo a maioria dos continentes em poucos meses, exigiu grandes esforços e subsídios para seu controle, desviando assim, a atenção sobre as demais doenças.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a tuberculose é uma das doenças infecciosas mais mortais do mundo. Antes do COVID-19, era a doença de agente único que mais matava, à frente até mesmo do Vírus da imunodeficiência humana (HIV). Dados da
OMS, estimam que cerca de 1,4 milhões de pessoas morreram de tuberculose em 2021, enquanto outros 10 milhões sofreram com a doença, principalmente nos países em desenvolvimento.
Tendo em vista todo o impacto causado pela pandemia e os perigos para saúde pública que a tuberculose representa, esse trabalho visa comparar a incidência de tuberculose a partir dos exames de TRM-TB que foram realizados no IAL de Taubaté, bem como verificar a quantidade de exames realizados no período pré-pandêmico e pandêmico, provenientes da região do Vale do Paraíba e do Litoral Norte.
MATERIAL E MÉTODOS
Para o presente estudo, levantou-se o número de exames Teste Rápido Molecular de Tuberculose (TRM-TB) realizados mensalmente no Instituto Adolfo Lutz (IAL) de Taubaté; retirados do sistema GAL. Todos os dados são anônimos, e apenas foram contabilizados resultados positivos e negativos, para os municípios da região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, em relação ao período Pré-pandêmico (Março de 2018 a Fevereiro de 2020), com o período Pandêmico (Março de 2020 a Fevereiro de 2022).
Os dados foram tabulados em uma planilha Excel, e calculado para cada período amostral o valor da variância da frequência de resultados positivos e negativos para tuberculose. Para o presente estudo, o cálculo da variância populacional será obtido através da soma dos quadrados da diferença entre cada valor e a média aritmética, dividida pela quantidade de elementos observados. Desta forma será calculado também média aritmética e desvio padrão dos períodos amostrados. Esses parâmetros servirão como base comparativa entre os períodos.
Além disso, pretende-se observar a curva de dados gerada referente a cada período (pré-pandêmico e pandêmico) com o intuito de verificar as possíveis diferenças, calculando a média móvel dos casos positivos de ambos os períodos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Analisando os dados, pode-se notar que o número de exames realizados caiu de 5.588, referente ao período pré-pandêmico, para 3.768 no período pandêmico, uma queda de 1.820 exames realizados, quase 2 mil exames a menos em comparação ao período anterior, representando uma queda de 32,56% no número de exames realizados.
Em relação aos resultados positivos, não houve grande variação em termos de números, pois no período pré-pandêmico o número foi de 974 resultados positivos e no período pandêmico 921 positivos, uma diferença de 53 casos positivos de um período comparado ao outro, o que representa uma diminuição de 5,44% no número de casos positivos. Porém em termos de proporção, os resultados positivos aumentaram em 7% no período pandêmico em relação ao pré-pandêmico, pois no período pré-pandêmico os resultados positivos representavam 17,43% do total de exames realizados, já no período pandêmico os resultados positivos representam 24,44% do total de exames realizados. Pode- se observar também que o número de exames realizados começou a subir a partir do segundo semestre de 2021 até o fim do período Pandêmico.
Que a pandemia impactou a saúde como um todo é fato, muito precisou ser feito para se adaptar e combater a chegada da COVID-19, o que resultou em um foco intenso sobre a nova doença, contudo outras doenças continuaram presentes, e o desfoque causado pela
pandemia resultou em diversas consequências. (Maia et al. 2022), (Grosi, Minoda, Fonsceca 2020), (Ornell et al. (2020)
Segundo a OMS, a tuberculose foi uma das doenças que regrediu no caminho rumo a sua erradicação por conta da pandemia de COVID-19. O presente estudo demonstra as mudanças que a pandemia gerou na região do Vale do Paraíba e Litoral Norte relacionado aos casos de tuberculose, referente aos dados obtidos do IAL de Taubaté-SP.
A quantidade de exames realizados caiu muito em relação ao período que antecedeu a pandemia, foi uma queda de 32,56%, o que representa um número de 1.820 exames a menos em comparação com o período anterior. Mas não foi só na região do Vale do Paraíba e Litoral Norte que houve tal decréscimo. Segundo Maia et al. (2022) durante a pandemia no Brasil os serviços essenciais para TB foram restringidos por conta da diminuição dos recursos e insumos, com o objetivo de priorizar a mitigação da COVID-19, o que resultou em uma menor notificação de novos casos de TB, bem como houve um aumento no número de pessoas que abandonaram o tratamento, o que prejudica ainda mais o controle da TB.
McQuaid et al. (2021) fala sobre o potencial impacto que a COVID-19 pode trazer referente a TB, entre eles estão: aumento de infecção domiciliar, atraso nos testes e tratamentos, diminuição da cobertura para vacina de BCG, aumento dos abandonos de tratamento, aumento dos casos de resistência por conta do abandono do tratamento, diminuição da cobertura de terapias preventivas, diminuição do acesso aos testes de TB, bem como aos testes de resistência a antibióticos, diminuição na demanda de testes de TB e testes de resistência, diminuição de novas matriculas para o tratamento de TB, falta de insumos.
Analisando a média móvel dos períodos é possível observar que após o segundo semestre de 2021 os exames de TRM-TB começaram a aumentar, e em 2022 voltou a ficar dentro média de exames realizados do no período anterior a pandemia.
Segundo Avedanho et al. (2022) fica evidente o sucesso da vacinação, tendo em vista a consequente redução dos casos graves e óbitos a partir de junho de 2021. Período esse que começou a aumentar a quantidade de exames realizados de tuberculose. O que reforça ainda mais a ideia de que a pandemia foi a causadora na diminuição dos exames realizados de TRM-TB, visto que assim que a situação começou a normalizar, o número de exames realizados também normalizou.
A pandemia de COVID-19 impactou significativamente no número de exames realizados de TRM-TB do Instituto Adolfo Lutz de Taubaté, visto que houve uma queda de 32,56% no número de exames realizados.
Já os números de casos positivos não variaram muito de um período para o outro, pois no período pandêmico a queda foi de 5,44% no número de casos positivos em relação ao período pré-pandêmico, mesmo com uma queda de 32,56% na quantidade de exames realizados, não houve uma queda expressiva no número de resultados positivos, sugerindo que a sensibilidade na abordagem da tuberculose aumentou durante esse período.
Segundo Sousa et al. (2020) é necessário uma análise minuciosa no diagnóstico de COVID-19, visto que a doença pode apresentar sintomas inespecíficos.
Imaginando um cenário onde os casos notificados de doença respiratória passem, após triagem, pela exclusão de COVID-19, provavelmente outras doenças de caráter respiratório foram identificadas, podendo assim ter contribuído para que os números de exames de TRM-TB positivos se mantivessem sem alterações, mesmo com uma queda no número de exames realizados.
CONCLUSÕES
O impacto da pandemia de COVID-19 na ocorrência de tuberculose na região do Vale do Paraíba e Litoral Norte ficam evidentes quando se percebe uma queda de 32,56% na quantidade de exames realizados referente ao período anterior. Essa queda demonstra que no período de pandemia a busca ativa pelo diagnostico e controle da Tuberculose foi prejudicada, o que pode resultar na propagação da doença, visto que a função da busca ativa é diagnosticar e tratar o paciente precocemente, para que o mesmo não transmita para mais pessoas. (Muniz et al. 2005)
Assim, é possível que ocorra um aumento no número de casos de Tuberculose para os próximos anos, fruto da redução dos exames realizados durante o período abordado no presente estudo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida e a minha família que sempre estiveram ao meu lado, me incentivando a crescer como pessoa e como profissional.
Estendo meus agradecimentos ao Renato Pereira de Souza, que me orientou e me auxiliou com sua experiência na elaboração desse Trabalho de Conclusão de Curso.
Agradeço ainda, a Andrea de Rezende Leite, que através do seu conhecimento também me orientou na elaboração deste trabalho.
Agradeço também, ao Pablo Rafael Cursino dos Santos Barbosa por sua disposição e por me auxiliar na coleta dos dados, que serviram de base para esse trabalho.
Agradeço a todos os funcionários do Instituto Adolfo Lutz de Taubaté com quem tive a oportunidade e o prazer de conviver durante o curso, bem como aprender sobre cada área da instituição com esses excelentes profissionais.
REFERÊNCIAS
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