ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO MOLECULAR DA HEPATITE B REALIZADO PELO INSTITUTO ADOLFO LUTZ CENTRAL ENTRE JANEIRO E JULHO DE 2022
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Capítulo de livro publicado no Livro da IV Mostra dos Trabalhos de Conclusão de Curso da Especialização em Vigilância Laboratorial em Saúde Pública. Para acessa-lo clique aqui.
doi.org/10.53934/9786599965821-11
Este trabalho foi escrito por:
Julia Gabriela dos Santos Pedro1; Amanda Vieira Lima1; Marcílio Figueiredo Leme2; Adriana Parise Compri2
1 Estudante do Curso de Vigilância Laboratorial em Saúde Pública do Laboratório de Hepatites do Instituto Adolfo Lutz Central; e-mail: [email protected]; e-mail: [email protected].
2 Pesquisador Científico do Laboratório de Hepatites do Instituto Adolfo Lutz Central; e- mail: [email protected]; e-mail: [email protected].
RESUMO
A hepatite B é um grande problema de saúde pública; e a quantificação de seu DNA é um excelente marcador da atividade do HBV, sendo utilizada para diagnóstico de fases crônicas. OBJETIVOS: avaliar o papel do laboratório de Hepatites do IAL Central na rotina de diagnóstico da hepatite B no período de janeiro a julho de 2022. MATERIAIS E MÉTODOS: foram incluídas neste estudo as amostras e suas requisições da rotina de Hepatite B do Laboratório de Hepatites do IAL Central e os dados gerados foram exportados do GAL para uma planilha criada no Excel e compilados a partir de análises estatísticas descritivas e cálculos por ferramentas disponíveis no programa. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Do total de amostras recebidas, 203 amostras não foram processadas, onde 33% dos motivos para o não processamento foram relacionados diretamente à condição da amostra e 31% em decorrência do cadastro e critérios estabelecidos. Os principais resultados de exames com a finalidade de confirmação de diagnóstico foram não detectados e entre log 2,00 a 2,99, corroborando com resultados da literatura. Resultados de avaliação de indicação de tratamento obtiveram grande parte dos resultados entre log 2,00 a 2,99, com valores de carga viral próximos ao estabelecido para indicação de tratamento. Dentre os exames com a finalidade de monitoramento de tratamento, 57,1% possuíam carga viral não detectável e 48,8% abaixo do limite da quantificação demonstrando a efetividade do tratamento. CONCLUSÃO: De acordo com os dados encontrados, é evidente a importância do laboratório para o diagnóstico da hepatite B colaborando na vigilância, promoção e prevenção de saúde.
Palavras-chaves: Carga viral, Diagnóstico, Hepatite B, Rede de Diagnósticos.
INTRODUÇÃO
Globalmente, as hepatites virais são responsáveis por mais de 1,34 milhão de óbitos por ano, dos quais 66% são causados pelo vírus da hepatite B. Essas mortes decorrem de complicações de infecções crônicas como insuficiência hepática, cirrose e hepatocarcinoma (1,2,3). A epidemia da hepatite B levou a OMS a estabelecer como objetivo a eliminação das hepatites virais até 2030, com o Brasil sendo um dos países signatários devido à sua prevalência baixa a intermediária de portadores de HBsAg e à presença de áreas de alta
endemicidade, como a bacia amazônica e regiões do Sul e Sudeste. Entre 2000 e 2021, 264.640 casos de hepatite B foram diagnosticados no Brasil, com 34,2% concentrados na região Sudeste (4,5).
A quantificação do HBV-DNA no sangue é um excelente marcador da atividade do HBV podendo ser feita por uma vasta gama de técnicas moleculares como espectrofotometria, PCR em tempo real, PCR digital, métodos de amplificação isotérmica e biossensores (6).
O laboratório de Hepatites do IAL Central é o laboratório coordenador responsável pelos 18 laboratórios do Programa Estadual de Hepatites Virais que compõe a Rede de Diagnóstico Molecular de Hepatite B, atuando na vigilância epidemiológica das hepatites virais, realizando a confirmação de diagnóstico, avaliação da indicação de tratamento, monitoramento do tratamento, genotipagem e pesquisa de mutações resistentes aos antivirais, acompanhamento de carga viral na gestação e, atualmente, ajudando a elucidar casos de hepatite aguda de etiologia desconhecida.
Este artigo tem como objetivo avaliar o papel do laboratório de Hepatites do IAL Central na rotina de diagnóstico molecular da hepatite B nas regiões por ele atendidas no período de janeiro a julho de 2022 por meio da apresentação dos motivos de cancelamento dos exames solicitados e propor soluções para as não conformidades e análise das finalidades apresentadas nas solicitações de exame e correlacionando-as com os resultados obtidos.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram incluídas neste estudo as amostras e suas requisições da rotina de Hepatite B do Laboratório de Hepatites do IAL Central. O levantamento de dados secundários como dados demográficos, epidemiológicos e resultados de exames foram exportados do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) para uma planilha criada Microsoft Excel 2010 e compilados a partir de análises estatísticas descritivas e calculados por ferramentas disponíveis no programa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O laboratório de Hepatites do IAL Central, coordenador e executor da Rede Estadual de Diagnóstico Molecular das Hepatites B e C, recebeu, através do sistema GAL, 1165 cadastros de pacientes para a realização do exame de identificação do vírus da hepatite B por PCR (quantitativo) em tempo real em amostras de sangue de pacientes provenientes das regiões de Osasco, Vale do Ribeira, Franco da Rocha e da cidade de São Paulo.
962 amostras foram processadas e encaminhadas para a liberação de resultado e 203 foram canceladas, sendo 33% dos cancelamentos relacionados diretamente à condição da amostra, 31% em decorrência do cadastro e critérios estabelecidos no protocolo do Ministério da Saúde e 35% não foram descritos (tabela 1).
Dentre os 33% de cancelamentos relacionados à amostra, 27,1% apresentaram resultado duvidoso (discordância entre resultado do exame e finalidade apresentada na requisição ou com resultados anteriores) e houve a necessidade de uma nova coleta para confirmação do resultado obtido, mas foram descritos como volume insuficiente para confirmação de resultado em decorrência do GAL não ter uma opção para informar o real motivo do cancelamento. O HBV é extremamente transmissível comparado ao HIV e o HCV, principalmente pelo tempo de viabilidade. Deve-se avaliar com muita precisão casos de contaminação de amostras e, portanto nestes casos, solicitar uma nova coleta (2). De modo geral, os outros cancelamentos relacionados à amostra foram em consequência de condutas
errôneas da unidade solicitante (tabela 1). Houve a liberação de 962 resultados com média de dias entre a data de recebimento e a data de liberação dos meses estudados de 7,4±5 dias, demonstrando assim que, mesmo com problemas evitáveis, o laboratório se manteve dentro do tempo estipulado de 15 dias para a liberação de resultados para ambos os kits utilizados(7).
A quantificação do DNA do HBV permite confirmar o diagnóstico, identificar portadores crônicos, avaliar a progressão da doença, resposta terapêutica e avaliar a possibilidade de interrupção do tratamento (4), portanto, o campo de preenchimento da finalidade do exame se demonstra extremamente importante para a realização e liberação de resultados. O campo foi preenchido em 825 requisições das quais, 21,9% dos pacientes (n=255) necessitavam do exame para avaliar a indicação do tratamento para hepatite B, 32,8% (n=382) para monitoramento do tratamento, 12,9% (n=150) para confirmação de diagnóstico. Em 17% (n=198) não houve informação devido a não realização do exame e em 12,2% (n=142) das solicitações o campo de finalidade não foi preenchido e, portanto, o exame foi realizado sem a finalidade descrita (tabela 2). O preenchimento da finalidade do exame não é obrigatório, mas auxilia na interpretação do exame quando finalizado, permitindo compreender casos de resultados discordantes ou duvidosos, principalmente em amostras com carga viral baixa.
Das 150 requisições que estavam com a finalidade descrita como confirmação de resultado, não foi detectada a presença do HBV em 59,3% (n=89) das amostras. Os resultados entre log 2,00 a 2,99 foram a maior porcentagem descrita, encontrados em 14,7% (n=22) das amostras de carga viral quantificável de pacientes, corroborando com resultados da literatura. Dentre as amostras positivas, 17,3% apresentaram carga viral maior que log 3,00, indicando que o HBV estava em uma replicação ativa. Como estes pacientes não estão em tratamento, espera-se encontrar uma replicação viral elevada confirmando a atividade da doença. Também é normal resultados com carga viral não detectável, demonstrando que o paciente não está com hepatite B ativa. Resultados com carga viral baixa são suspeitos, podendo ser em decorrência da integridade da amostra, contaminação cruzada ou troca de amostras (8) (tabela 3).
A avaliação de indicação de tratamento foi a segunda maior finalidade, apresentada em 21,9% (n=255) das solicitações. Destaca-se que 35,3% (n=90) dos resultados detectados estavam no intervalo de log 2,00 a 2,99 com média de resultados de log 2,55 (tabela 4) expressando replicação viral ativa, com valores de carga viral próximos ao estabelecido para indicação de tratamento (HBV-DNA >log 3,00), demonstrando a necessidade de análise de outras características clínicas para inclusão em terapia antiviral. Em 15,7% (n=40) a carga viral não foi detectada sugerindo o preenchimento incorreto do campo de finalidade do exame na requisição, visto que não é um resultado esperado para os pacientes em avaliação de indicação de tratamento ou diagnóstico errôneo de portador de hepatite B pela falta de replicação viral. Estas requisições sugerem a avaliação da progressão da doença, sendo esperados valores que expressam a replicação do vírus sem diminuição da carga viral. A indicação de tratamento deve ser fundamentada em características clínicas, carga viral, níveis de ALT, status do HBeAg e intensidade do dano hepático(4,9,10) (tabela 4).
A principal razão para as solicitações de quantificação da carga viral da Hepatite B por PCR foi o monitoramento de pacientes em tratamento, representando 32,8% (n=382) das requisições. Dentre estes, 57,1% (n=218) possuíam carga viral não detectável e grande parte dos pacientes, 48,8% (n=80), possuíam resultados abaixo do limite da quantificação. Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia (11), o tratamento para HBV com o objetivo de cura clínica almeja baixos níveis de HBV-DNA para o controle de replicação viral e a normalização de aminotransferases. Portanto, estas requisições sugerem que o paciente tenha feito uso de medicamento e apresente níveis baixos ou não detectáveis de HBV-DNA sérico. A carga viral alta presente em 4,8% das amostras sugere a ausência de tratamento contra o HBV ou possível troca de amostras, podendo ter acontecido na unidade solicitante ou no próprio laboratório executor, sendo necessária a confirmação com uma nova amostra (8,11) (tabela 5).
CONCLUSÃO
Os dados levantados e interpretados evidenciam a importância do Laboratório de Hepatites do Instituto Adolfo Lutz Central para o diagnóstico molecular de hepatite B colaborando na vigilância, promoção e prevenção de saúde. As solicitações de exames canceladas demonstram a necessidade de uma maior atenção e comunicação pela unidade solicitante, com treinamentos e reciclagem dos funcionários que realizam o preenchimento das requisições, coleta e envio de amostras. Novos campos para informações relevantes sobre o histórico do paciente auxiliariam o laboratório na compreensão e assertividade quanto ao resultado obtido no exame solicitado.
REFERÊNCIAS
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- GUVENIR, Meryem; ARIKAN, Ayse. Hepatitis B Virus: From Diagnosis to Treatment. Polish Journal of Microbiology, Northern Cyprus, v. 69, n. 4, p. 391–399, 2020. DOI: 10.33073/pjm-2020-044. Acesso em: 10 ago. 2022.
- DUARTE, Geraldo; PEZZUTO, Paula; BARROS, Tiago Dahrug et al. Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: hepatites virais. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasil, v. 30, n. spe1, 2021. DOI: 10.1590/s1679-4974202100016.esp1. Acesso em: 15 set. 2022.
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- MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2022. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. b. v. número especial Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de- conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2022/boletim-epidemiologico-
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